A cidade de Mbanza Congo, no norte de Angola, assinala o quarto aniversário desde que foi classificada como Património Cultural da Humanidade da UNESCO. Quatro anos depois, munícipes afirmam que nada mudou com o título.
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A antiga capital do Reino Kongo, Mbanza Congo, é hoje uma referência histórica mundial, depois de ter sido elevada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) à categoria de Património Cultural da Humanidade, em 2017.
As atividades alusivas ao quarto aniversário desde que a cidade ganhou o título da UNESCO, que se assinala esta quinta-feira (08.07) começaram no dia 1 de julho, com uma cerimónia tradicional, denominada Lembo, que serve para pedir a proteção dos ancestrais.
No entanto, passados quatro anos desde a elevação de Mbanza Congo a Património Cultural da Humanidade, pouco ou nada mudou na cidade e na província do Zaire, dizem os munícipes ouvidos pela DW África.
"Podemos observar quase nada, não se mudou nada porque é património da humanidade", diz o jovem Ndongala. "A não ser os passeios que foram cimentados na véspera das celebrações da 1ª edição do Festikongo, no ano 2019", acrescenta. A UNESCO, considera o jovem, é a única entidade que pode mudar a situação.
Lutaladio José, outro munícipe de Mbanza Congo, é da mesma opinião: "Como património mundial, ainda não vi nada de diferente na nossa cidade. Para mim, ainda não temos uma cidade que, quando a pessoa chega, diz 'sim esse é mesmo um património mundial'. Deveria ter coisas mais atraentes", lamenta.
Refletir sobre a falta de desenvolvimento
O chefe das autoridades tradicionais, Afonso Mendes, lembra que na província do Zaire, em especial na cidade património da humanidade, até ao momento, não foi erguida nenhuma estrutura de grande vulto. "Nada, nenhuma coisa se fez aqui na nossa província, absolutamente nada", sublinha. O Presidente João Lourenço, lamenta, "vai várias vezes a outras províncias, porque lá há infraestruturas de qualidade para inaugurar. Aqui, enquanto ainda não temos, não pode vir. O que vai inaugurar?".
Por isso, deixa um apelo ao chefe de Estado: "Que venha à província do Zaire, principalmente à capital da província, que está muito mal. Os jovens não têm emprego".
A juventude zairense, diz o ativista António Castelo, encontra-se num clima de reflexão, sobretudo sobre o futuro da província, que pouco ou nada regista no que diz respeito ao desenvolvimento. "A juventude zairense não está feliz com o nível de desenvolvimento infraestrutural e até mesmo humano que a província vive. O contexto que estamos a viver não nos permite ficarmos ansiosos e alegres a festejar o aniversário do património de Mbanza Congo", afirma.
"Seria bom se estes valores, se é que existem, fossem alocados para obras que precisamos, como por exemplo asfaltar as ruas de Mbanza Congo que neste tempo de cacimbo é uma tremenda nuvem de poeira", acrescenta.
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Água e eletricidade foram ganhos, diz administrador
O sistema de abastecimento de água potável e a ampliação na distribuição de energia elétrica foram ganhos obtidos durante estes quatro anos, destaca o administrador municipal, Manuel Gomes. "Temos a ampliação da água, que vai beneficiar a comunidade das 100 casas, e a energia eléctrica", garante.
"Neste preciso momento, estamos a trabalhar para manter cada vez mais a nossa cidade sempre limpa. Os vestígios históricos que circundam a cidade do antigo Reino do Kongo, bem como as ruínas do Kulumbimbi, o cemitério dos reis do Kongo, bem como a árvore secular Yala Nkuwu, são alguns dos atributos que fizeram com que a cidade fosse elevada à categoria de Património Cultural da Humanidade", recorda.
Mbanza Congo: Património Mundial sem condições para turismo
Capital da província angolana do Zaire acolhe a partir de 5 de julho o primeiro Festival Internacional da Cultura e Artes. Mas a cidade, que é Património Mundial, tem problemas e poucas condições para acolher turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
FestiKongo anual
O Festival Internacional da Cultura e Artes (FestiKongo) passará a realizar-se anualmente na capital da província do Zaire. Essa foi uma das recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), aquando da inscrição da cidade angolana na lista do património mundial.
Foto: DW/B. Ndomba
Participação de países africanos
República Democrática do Congo, Congo Brazzaville, Gabão, Camarões, Chade e Guiné Equatorial são alguns dos países convidados. O Ministério da Cultura quer fazer da cidade um "palco de referência cultural nacional e regional", realçando os hábitos, usos e costumes da região. Evento visa também a promoção de músicos, artistas plásticos e criadores de moda, entre outros agentes culturais.
Foto: DW/B. Ndomba
Poucas condições para atrair turistas
A escassez de hotéis e outros serviços é um dos fatores que pode pôr em risco a presença de turistas na cidade histórica. Só há dois hotéis e o mais antigo não oferece condições de alojamento, segundo alguns clientes. O chefe do Turismo na província do Zaire, Ábias Fortuna, reconhece que é preciso construir novas infraestruturas e melhorar os serviços prestados para atrair mais turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
O dilema dos transportes públicos
A província do Zaire, cuja capital foi classificada a 8 de julho de 2017 como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, não dispõe de um serviço público de transporte. Por isso, os mototaxistas são a "bóia de salvação" para muitos residentes.
Foto: DW/B. Ndomba
Falta de água potável
Tal como em outras partes de Angola, Mbanza Kongo também regista graves problemas na distribuição de água potável, apesar de a província do Zaire ter vários rios. A maior parte da população consome água imprópria para consumo.
Foto: DW/B. Ndomba
Grutas de Zau Evua
Localizadas bem no centro da província do Zaire, a poucos quilómetros de Mbanza Kongo, as grutas de Zau Evua constam da lista de sete maravilhas naturais de Angola. As cavernas fazem parte de uma rede de grutas e galerias, quase todas desconhecidas e ainda por explorar. É um local que não pode faltar no roteiro de quem visita Mbanza Kongo.
Foto: DW/B. Ndomba
Lixo espalhado pela cidade
É visível a falta de um programa de limpeza na cidade, onde os contentores estão cheios de resíduos não recolhidos. Outro exemplo é a piscina construída pelo Governo Provincial, cuja água não trocada já ganhou a cor verde. Como é prática das administrações, tendo em conta a importância do festival, começaram agora a ser traçados programas de limpeza na cidade dos "Reis do Kongo".
Foto: DW/B. Ndomba
Faltam espaços de lazer
A falta de espaços de lazer é outra preocupação dos munícipes de Mbanza Kongo, na sua maioria jovens. Devido à falta de locais para a prática desportiva, a equipa do escalão júnior do São Salvador do Kongo, o principal clube da província, treina no "jardim moribundo" do Governo do Zaire.
Foto: DW/B. Ndomba
Novo aeroporto em construção
Cumprindo as recomendações da UNESCO no dossier Mbanza Kongo como Património Mundial da Humanidade, a cidade terá um novo aeroporto, em substituição do antigo, no centro da capital do Zaire. Enquadrado no âmbito do Programa de Investimentos Públicos (PIP), o novo aeroporto está a ser construído na comuna de Kiende, a 33 quilómetros de Mbanza Kongo.