Na cidade da Beira, líder do Movimento Democrático de Moçambique apresentou nomes dos cabeças-de-lista e disse que seu partido tem "fome de governar" nas províncias. Três membros da RENAMO foram para o MDM.
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O líder do Movimento Democrático de Moçambique, o terceiro maior partido do país, disse este sábado (13.07), que a organização está com "fome" de governar nas 10 províncias do país, pedindo ao eleitorado para votar no MDM, nas eleições gerais de 15 de outubro.
"Tenho fome de governar nas províncias, queremos homens comprometidos com a população, homens comprometidos com as nossas crianças", declarou Daviz Simango, falando num encontro popular na cidade da Beira, província de Sofala, centro de Moçambique.
Na ocasião, o líder do MDM apresentou os nomes dos cabeças-de-lista do partido para quartro das 10 províncias do país - sendo um deles dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) - assegurando que a escolha dos candidatos teve como critério a sua competência e compromisso com a resolução dos problemas do povo.
"Queremos homens comprometidos com uma causa nobre, que é servir o povo moçambicano, pessoas inovadoras e com sentido de responsabilidade", declarou o líder do MDM.
Lista de candidatos
Foram anunciados candidatos do MDM às eleições provinciais até o momento.
José Albano Bulaunde, antigo delegado político provincial de Sofala e que atualmente é deputado da Assembleia da República pela RENAMO, foi indicado esta tarde como cabeça-de-lista pelo MDM a governador da província de Sofala.
No ato de apresentação, Daviz Simango, presidente do MDM, disse que a indicação de Bulaunde é certa, “visto que estamos numa altura em que o país precisa de união de esforços de cidadãos para libertar o país das mãos dos comunistas,” referindo-se ao partido no poder, FRELIMO.
Luís Boavida, deputado do Movimento Democrático de Moçambique, foi o nome escolhido pelo MDM para o governo provincial da Zambézia.
Augusto dos Santos Pelembe, atualmente na Assembleia Municipal da Matola, irá concorrer para governador de Maputo. Para a província de Cabo Delgado, foi indicado o nome de José Adelino.
Os outros dois membros seniores do maior partido da oposição, a RENAMO, que abandonaram o partido da perdiz e filiaram-se ao MDM são Sandura Vasco Ambrósio, deputado pela RENAMO, e Luís Chitato, ex-delegado da cidade da Beira pelo partido RENAMO. Eles também foram anunciados como novos membros do MDM, este sábado.
FRELIMO, uma desilusão
Ainda durante o evento na Beira, Daviz Simango disse que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, deve ser desalojada, porque tem sido uma desilusão.
"O nosso país tem sido governado durante muitos anos, desde a independência nacional em 1975, pelo mesmo regime. O disco que está a tocar desde 1975 está raspado, está enferrujado", frisou Simango.
As eleições gerais de 15 de outubro próximo vão englobar as presidenciais, legislativas e provinciais, que, pela primeira vez, vão incluir a eleição de governadores das 10 províncias do país.
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.