O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) exigiu esta terça-feira (22.08) a demissão de Mahamudo Amurane e da sua equipa. Edil já anunciou que não se candidata pelo MDM e promete novo partido para as eleições de 2018.
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Está definitivamente declarado o "divórcio" entre Mahamudo Amurane, edil de Nampula, e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o partido que apoiou a candidatura do mesmo nas eleições de 2013 e que venceu as últimas eleições municipais na região.
Os membros do MDM aproveitaram as festividades dos 61 anos da cidade de Nampula para exigir publicamente que o edil e a sua equipa se demitam. O anúncio foi feito pelo delegado desse partido, Luciano Tarieque.
"Quem governa aqui é o MDM. Usurpadores de poderes, traidores, gatunos, instrumentalizados e ladrões – todos fora!", gritou o delegado perante o público, o edil, membros do governo provincial e outros convidados.
MDM exige demissão do edil de Nampula
Em entrevista à DW África, Luciano Tarieque disse que Mahamudo Amurane deve abandonar o poder porque, segundo diz, a lei já não o protege.
"Nós, como o MDM, afirmamos de viva voz que ele [Mahamudo Amurane] tem dias contados: ele sairá do poder. Violou as leis dos partidos políticos, das autarquias e da função pública", explicou Tarieque.
"Desalinhado"
Desde finais do ano passado, o edil de Nampula mostra-se desalinhado com o partido de Daviz Simango, alegadamente porque o líder do MDM estaria a interferir na governação e a promover campanhas de difamação contra Amurane.
O presidente do município de Nampula já disse que não pertence ao MDM, mas vai continuar na liderança e pretende recandidatar-se nas eleições de 2018.
"Gostaria de afirmar que com este apoio [dos munícipes] sinto-me encorajado a recandidatar-me para mais um mandato em 2018. Todavia, como tenho informado em todas as minhas intervenções, a minha recandidatura, por razões esclarecidas, não estará alinhada com o MDM, mas sim com outra força política que anunciarei oportunamente, exercendo o meu direito de liberdade política", disse o edil de Nampula.
Um novo partido
Circulam informações de que Mahamudo Amurane terá criado um partido político, denominado Partido Liberal Democrático de Moçambique (PLDM), para se recandidatar ao seu segundo mandato. O edil evita comentar o assunto.
O delegado do MDM em Nampula, Luciano Tarieque, disse que o anúncio de Amurane não intimida o partido e acredita na vitória eleitoral.
"Estamos a traçar estratégias de como ganhar nas regiões de Nacala, Ilha de Moçambique, Malema, Ribáuè, Angoche; e renovarmos o nosso mandato no município de Nampula", disse.
O MDM já fez saber que até dezembro poderá afastar o edil.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.