Muitos cidadãos da província moçambicana de Nampula estão contra a realização do próximo congresso do MDM após o assassinato do edil Mahamudo Amurane. Mas o partido diz que o evento continua de pé.
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Vários residentes de Nampula olham com suspeita para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) depois do edil de Nampula, Mahamudo Amurane, ser morto a tiro, na quarta-feira passada (04.10). A polícia ainda está a investigar o caso, mas muitos desconfiam de motivações políticas. E, como há meses que Amurane estava em rota de colisão com o MDM, a revolta na cidade contra o partido é grande, afirma um residente.
"Há bem pouco tempo, durante o cortejo fúnebre do edil de Nampula, assistimos à população a proibir o presidente do MDM de ir lá [ao salão nobre do Conselho Municipal] despedir-se do corpo", lembra Adamo Ali Júnior. Sendo assim, segundo este cidadão, seria melhor reconsiderar o congresso do partido, marcado para 5 a 8 de dezembro, em Nampula: "Até pode ser que o congresso já esteja marcado há bastante tempo e seja inadiável, mas deveriam escolher um outro local", diz.
MDM: Não há alterações
Mas o Movimento Democrático de Moçambique não recua. Após o assassinato de Amurane, o partido condenou "todos os atos de desinformação à volta do MDM" e instou as autoridades a tomar "as diligências necessárias" para apurar a verdade sobre o crime e se fazer justiça. Quanto ao congresso, para já, não há alterações.
"Foi decidido no Conselho Nacional, no princípio do ano passado em Chimoio, que o congresso teria lugar na cidade de Nampula, e, de lá para cá, não houve uma posição contrária. Eventualmente vamos esperar que haja uma reunião ou da Comissão Política ou do Conselho Nacional para um posicionamento contrário, mas, neste momento, o congresso está previsto para a cidade de Nampula", disse o porta-voz do MDM, Sande Carmona.
MDM não tenciona cancelar congresso em Nampula
Outras suspeitas
O advogado e analista Arlindo Muririua diz que compreende a revolta dos populares, mas lembra que é muito cedo para começar a "atribuir culpas" - até porque haveria outras pessoas interessadas em aproveitar o clima de desentendimento entre o edil e o MDM.
Muririua não vê motivo para cancelar o congresso do MDM em Nampula, mas avisa que será preciso aumentar as medidas de segurança.
Entretanto, segundo o jornal local Wamphula Fax, mais de dez cidadãos, incluindo um vereador, estão detidos nas celas do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique em Nampula em conexão com a morte de Amurane, para investigações.
A DW África contactou a polícia, mas o porta-voz limitou-se a dizer que a corporação continua a investigar o caso e só se pronunciará com mais detalhes quando os trabalhos terminarem.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.