MDM quer retirar mandato a dois deputados filiados na RENAMO
Sitoi Lutxeque (Nampula)
20 de dezembro de 2018
O Movimento Democrático de Moçambique, através da sua bancada no Parlamento, já pediu a perda de mandato dos deputados Geraldo Carvalho e Ricardo Tomás. Ambos ingressaram na RENAMO desde as últimas autárquicas.
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O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) solicitou a perda de mandato de Geraldo Carvalho, antigo chefe nacional de mobilização, e Ricardo Tomás, ex-candidato a presidente do município de Tete em 2013, pelo MDM. O motivo principal é a filiação dos dois deputados da Assembleia da República à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição no país.
O MDM diz que, além da desistência, os deputados não colaboram com a sua bancada no Parlamento. Mas os visados recusam abandonar os cargos, alegando que não estão a desrespeitar a lei.
A informação foi confirmada à DW África pelo porta-voz do MDM e também deputado do Parlamento moçambicano, Sande Carmona, que associa a destituição dos deputados à sua já assumida pertença ao principal partido da oposição no país.
"É um assunto que ainda está sob gestão da bancada [parlamentar] e não está sob gestão do partido no geral. Mas o partido confirma. A bancada informou ao partido que iria mover essa ação; o partido autorizou que a bancada agisse em conformidade com as normas da Assembleia da República e as demais leis", disse Carmona.
O porta-voz do partido liderado por Daviz Simango disse, ainda, que uma das causas que levou o partido a solicitar a perda do mandato dos dois deputados é o facto dos visados não estarem a colaborar com a sua bancada nos trabalhos parlamentares. Sande Carmona ressaltou que os deputados "já pertencem à RENAMO" e, por isso, "já têm outra ideologia".
Divergências internas
A DW sabe que o conflito entre Geraldo de Carvalho e o MDM, por exemplo, já se arrasta há muito tempo - desde antes da realização das eleições autárquicas - mas agravou-se quando Carvalho quebrou o silêncio e apoiou a campanha eleitoral de Manuel Bissopo, da RENAMO, na cidade da Beira.
Na semana passada, a bancada do MDM pediu, e foi aceite, a substituição do então chefe nacional de mobilização e, por sinal, um dos fundadores do MDM, da Comissão de Defesa e Segurança junto ao Parlamento, segundo disse à DW Sande Carmona.
"Isso já é um facto. A bancada já informou o partido sobre a substituição do senhor deputado, Geraldo Carvalho, da Comissão e, também, a entrada do deputado Raimundo Pitágoras. É de lei [a perda do mandato], o MDM não está a fazer nada que não estejam na regra do jogo".
Deputados recusam decisão do MDM
Entretanto, os deputados recusam abandonar os seus lugares na Assembleia da República, por considerarem que a lei lhes dá ainda o direito de permanecer no exercício da função de deputado.
De acordo com Geraldo Carvalho, "o assunto está sendo tratado a nível da Assembleia". Carvalho disse ainda que prefere "não entrar em detalhes e deixar assim como as coisas estão".
MDM quer retirar mandato a dois deputados filiados na RENAMO
O político diz que está a ser vítima de perseguição pelo MDM. "Lutero Simango [chefe da bancada] disse numa reunião de bancada que alguém o informou, no dia 5 de outubro [2017], que eu, Geraldo Carvalho, é que atirei [mortalmente] contra Mahamudo Amurane. Mas ele não apresenta provas, uma vez que, no dia do assassinato, eu estava na Beira. Isso é perseguição política", denunciou.
A DW tentou falar, por telefone, com o deputado Ricardo Tomás, um dos parlamentares que também diz ser vítima de ameaças de destituição. No entanto, Tomás não aceitou ser entrevistado, alegando que não podia comentar este assunto ao telefone.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.