Mais vale prevenir do que remediar. Com o fim de prevenir conflitos em redor das eleições gerais, Moçambique está a formar monitores para responder a potenciais situações de violência.
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Desde as primeiras eleições multi-partidárias de 1994 que se registam conflitos eleitorais e pós-eleitorais em todos os escrutínios moçambicanos. Para evitar violência nas próximas eleições de 15 de outubro estão a ser formados em Nampula, no norte do país, mais de cinquenta monitores de incidências de violência e conflitos eleitorais.
Todos os formandos são oriundos de locais onde no passado se registaram situações de conflito em redor das eleições, incluindo os distritos de Cabo Delgado e Nampula. A formação está a ser levada a cabo pelo Centro para Democracia e Desenvolvimento.
Medidas de prevenção de violência eleitoral em Moçambique
Segundo o diretor-executivo do centro, Adriano Nuvunga, a formação visa preparar os ativistas para monitorar actos de violência no processo eleitoral, desde a campanha até à fase de votação. Nuvunga realça que a violência e os conflitos que têm marcado o processo eleitoral moçambicano, afeta, sobretudo as mulheres, que se sente desencorajadas de ir aos postos de recenseamento e de votação.
"Neste momento estamos a desenvolver esta iniciativa no sentido de termos no terreno jovens que vão monitorar e reportar todas e quaisquer incidências de violência. Teremos um grupo de individualidades baseadas no distrito que vão actuar para a solução imediata desses problemas por forma a desimpedir o caminho para as pessoas irem aos postos de votação", disse Nuvunga à DW África.
Coordenação das medidas de prevenção
Uma das iniciativas tomadas neste contexto pelo Centro para Democracia e Desenvolvimento foi a criação de uma rede de ativistas em formação em todo o país, que estão a ser capacitados para dar melhor resposta a situações com potencial de conflito. Foram estabelecidos "comités de resposta e reconciliação” em determinados distritos, coordenados pela central da organização na capital, Maputo. Esta está em contato com os órgãos de administração eleitoral e as forças de ordem com capacidades de intervenção onde for necessário.
Esta acção será implementada em Nampula, Cabo Delgado, Zambézia, Sofala, Manica, Gaza e Maputo, locais onde no passado se registou o maio número de conflitos, sobretudo nas eleições autárquicas no ano passadp, segundo Nuvunga .
Um dos formandos decididos a assegurar melhor prestação em prol das eleições livres, justas e transparentes é Hermínio Rafael, oriundo de Mocímboa da Praia, província onde atualmente se regista um conflito armado e que, no passado, foi também tem palco de conflito eleitoral.
"A nossa expectativa é de contribuir naquilo que será a observação do processo que vai acontecer daqui a alguns dias. Estamos a falar da campanha eleitoral, a te a votação. Esperamos sair daqui formados para nos posicionarmos ao longo dos nossos trabalhos dentro das nossas províncias ou distritos", disse Rafael à DW África.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.