Jonathan Suleimane, membro da RENAMO desaparecido há uma semana em Quelimane, reapareceu na madrugada deste sábado (19.05), depois de alegadamente ter sido abandonado pelos sequestradores no distrito de Nicoadala.
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O sequestro do Jonathan Suleimane, como conta a própria vítima, ocorreu por volta do meio-dia de sexta-feira (11.05) da semana passada a poucos metros da delegação política provincial da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na Zambézia. Jonathan Suleimane diz que foi levado por "indivíduos desconhecidos que falavam Xangana”, língua autóctone da região Sul de Moçambique.
De acordo com a vítima, o sequestro foi encomendado. "Saí da delegação às 12h00 horas de sexta-feira. Ia fazer cópias de alguns documentos na tipografia Lusa para a marcha que tínhamos agendado em homenagem ao líder da RENAMO, quando troquei de direção. De repente, apareceram uns indivíduos bem fortes e começaram a pressionar-me para entrar no carro deles, um carro de luxo Toyota D4D, azul”, relata.
"Forçaram-me demasiado e eu entrei no carro e taparam-me a cabeça com um plástico preto que não me permitia ver nada. Tentei gritar, mas ninguém me ouviu porque as lojas ao redor estavam fechadas. Puseram o carro a andar durante mais de cinco horas e fui mantido em cativeiro”, acrescenta.
Salvo pela discórdia
Em entrevista à DW África, Jonathan Suleimane diz que foi um desentendimento entre os raptores que originou a sua libertação. ″Ouvia sempre os raptores a discutirem em língua Xangana sobre essa notícia. Diziam que estava no Facebook e falavam sobre a falta de pagamento da outra parte de dinheiro que tinham combinado o sequestro. Eles comunicavam sempre ao telefone com o mandante e diziam que estavam à espera da outra parte do dinheiro combinado e que caso a transferência demorasse iriam soltar-me. Devido à demora, levaram-me de onde eu estava e vieram-me deixar no distrito de Nicoadala”, a 30 quilómetros de Quelimane.
Ao microfone da DW África, a vítima prefere não avançar mais detalhes sobre os sequestradores para não pôr em causa as investigações dos serviços de investigação criminal da Zambézia, mas sublinha que não foi torturado. ″Os ferimentos que contraí no braço direito foram [causados] pela pressão que me fizeram para entrar no carro deles. Durante o cativeiro, comi verduras e não me torturaram. Consegui reter a cara de um dos raptores, [por isso] em caso de o encontrar na rua consigo reconhecê-lo”, acrescenta.
Jonathan Suleimane garante que pretende continuar a sua atividade politica, uma vez que para ele o sequestro não o amedronta. A vítima recebeu cuidados médicos no Hospital Geral de Quelimane.
Amisse Cassimo, um simpatizante da RENAMO, residente no distrito de Nicoadala, considera o regresso do membro da RENAMO é "um renascimento”. "Para mim o regresso de Jonathan é como um renascimento, alguém que nasceu de novo. É esta a descrição desta situação para mim. Isto não nos intimida, pelo contrário estaremos muito mais fortes”, garantiu.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.