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Menongue: "A fome não se idealiza, a fome combate-se"

Adolfo Guerra (Menongue)
22 de abril de 2024

Bispo de Menongue, dom Leopoldo Ndakalako, defende que não é possível sustentar a verdadeira paz numa nação onde a fome prevalece.

Fotografia ilustrativa
Foto: picture-alliance/Godong

A crescente miséria entre os angolanos está a preocupar dom Leopoldo Ndakalako, bispo católico de Menongue, que alerta para as consequências sociais extremas causadas pela fome.

"Quem percorre os caminhos tortuosos da existência da nossa gente conhece a sua dor, o seu clamor, a sua miséria. Não tenhamos ilusões: a condição social e económica das nossas famílias é precária; os salários não respondem, não nos dão garantia de uma cesta básica, sabemos disso", afirma dom Leopoldo Ndakalako.

Em Angola, país rico em recursos, a disparidade social aumenta, com a elite a desfrutar de luxos, enquanto a população enfrenta condições cada vez mais degradantes.

"Nos últimos anos, as famílias criam meios para se alimentarem de qualquer forma. Tem aqueles que se alimentam por aterros sanitários, tem os que colocam as filhas na prostituição", conta um cidadão à DW.

Combater a fome e gerar rendimentos com a aquicultura

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"Na época da governação de José Eduardo dos Santos, as pessoas eram mais independentes no que toca à sua vida alimentar. As famílias perderam a capacidade de compra e não só", diz outro angolano.

Sobreviver com 0,56 euros por dia

Dom Leopoldo Ndakalako destaca a grave situação em Cuando Cubango e noutras regiões. Segundo ele, os salários insuficientes falham em garantir até mesmo as necessidades básicas.

O bispo critica duramente a insensibilidade de certas afirmações elitistas, como a ideia de que uma família angolana poderia sobreviver com apenas 0,56 euros por dia. Ele pede um diálogo mais genuíno e uma visão realista da sociedade.

"Nós não podemos brincar com coisas sérias; precisamos de mais diálogo e de ver o mundo, a nossa sociedade, com olhos reais e não com olhos de poesia e de fantasia", alerta.

Apoio aos grevistas

Expressando solidariedade às greves das centrais sindicais, dom Leopoldo Ndakalako apela aos governantes para que ouçam os sindicatos, "a voz de todos".

Ele adverte que ignorar o clamor dos famintos pode fomentar condições para conflitos: "Não escutar a voz dos pobres é adiar a paz e criar condições para uma guerra geral."

O angolano que apostou em coelhos para enfrentar a crise

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"Não são as armas que criam a paz; uma multidão furiosa e faminta pode criar situações nefastas para todos", acrescenta o bispo de Menongue.

Dom Leopoldo Ndakalako reitera a importância da sensibilidade para com as condições reais das famílias angolanas e enfatiza que "a fome não se idealiza, a fome combate-se, a justiça pratica-se; não é uma ideologia".

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