Menongue: Mercados informais travam batalha contra o lixo
Adolfo Guerra (Menongue)
23 de agosto de 2023
Na capital da província angolana do Cuando Cubango, lixo e falta de saneamento nos mercados informais preocupam a população. Especialista alerta que a situação pode desencadear problemas graves de saúde pública.
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A falta de saneamento básico nos mercados informais da cidade de Menongue, capital da província angolana do Cuando Cubango, é motivo de preocupção no seio da população.
Os moradores muitas vezes têm de enfrentar o lixo para comprar os alimentos, por exemplo, nos mercados do Chivonde e do Paz.
"O mercado está cheio de lixo, já não existe organização. Estamos perto da rua principal e quando queimam o lixo, o cheiro e as moscas afetam os alimentos que vendemos", reclama Dora João vendedora há mais de uma década no mercado do Paz.
Também Celeste Jacinto, vendedora de carne no mercado do Chivonde, não esconde o seu descontentamento quanto à gestão do mercado.
"Nós pagamos 100 kwanzas por dia para a limpeza, mas não fazem e nos obrigam a contratar alguém para remover o lixo acumulado. O mercado está em más condições", lamenta.
"É uma questão de saúde pública"
A falta de organização na gestão do mercado, aliada ao comportamento de alguns vendedores e clientes em relação ao lixo, tem causado preocupações quanto à saúde pública.
O enfermeiro Bartolomeu de Assis alerta que a presença de lixo pode levar a várias doenças, como a febre tifóide, tuberculose e pneumonia.
"O lixo por si só já é um perigo para a saúde, a vida e o bem estar da população. O meu apelo é no sentido de haver maior organização na recolha e armazenamento do lixo e o seu devido tratamento. Se não criamos um sistema fechado de controlo do lixo, estamos a colocar em causa a saúde das nossas populações. É uma questão de saúde pública olharmos para o bem estar das nossas populações", explica.
Apesar de vários apelos por melhorias, as respostas das autoridades locais em relação à gestão do mercado e saneamento ainda são insuficientes.
A DW procurou o parecer da Direção Municipal do Desenvolvimento Económico Integrado, mas sem sucesso.
A comunidade espera por medidas efetivas para garantir um ambiente seguro e saudável para vendedores e consumidores nos mercados informais de Menongue.
Luanda: Convivência diária com o lixo está de volta
Capital angolana voltou a ficar imunda, apesar da megacampanha de limpeza promovida pela comissão criada pelo Presidente João Lourenço.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Lixo deixou de ser notícia
Os amontoados de lixo continuam a crescer em diferentes bairros de Luanda e o assunto deixou de ser manchetes na imprensa Angola. Nos mercados informais, vias públicas e paragens de táxis, as pessoas têm de conviver com a imundice e o mau cheiro.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Megacampanha de limpeza fracassou
A campanha de limpeza encabeçada pela ministra de Estado para Área Social, Carolina Cerqueira, contou com a participação massiva de efetivos do Exército e da Polícia angolana, para além alguns funcionários públicos e cidadãos comuns. Entretanto, o lixo voltou a tomar conta da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
A crise do lixo já dura há meio ano
A então governadora de Luanda, que começou a enfrentar a crise do lixo no fim de 2020, disse à imprensa que a campanha não teria apenas dois ou três dias de duração, mas que se prolongaria até que a comissão "exterminasse" a sujeira em Luanda. A capital angolana é tida como uma das mais caras do mundo. Mas, nem com isso, o problema do lixo foi solucionado.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Concurso público polémico
Foram detetadas várias irregularidades nos contratos assinados a 31 de março com as empresas privadas Sambiente, Chay Chay, Multi Limpeza, Consórcio Dassala/Envirobac, Jump Business, ER-Sol e a pública Elisal.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Custos altos
Segundo o jornal angolano Expansão, várias operadoras deixaram cair a participação no concurso público após a aquisição do caderno de encargos, por entenderem que os valores máximos estipulados por município eram muito inferiores aos custos que teriam para realizar todas as exigências em termos contratuais.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Governadora exonerada no meio da crise
A crise do lixo na cidade de Luanda é apontada como a razão da exoneração de Joana Lina do cargo de governadora de Luanda, no passado dia 30. A exoneração ocorreu depois da polémica do concurso público de novas operadoras de gestão de resíduos. A agora ex-governadora é acusada de falta de transparência no processo de seleção de empresas que fariam a gestão do lixo.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Lixo + chuva = doença e mortes
O lixo em Luanda é apontado como a principal causa do surto de malária, febre tifóide e uma praga de mosca que assola a capital do país desde o princípio deste ano. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em junho, Angola registou mais três milhões de casos de malária que resultaram em cerca de 5.573 óbitos em todo o país, de janeiro a maio de 2021.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Recolha aleatória
Em alguns bairros, a DW constatou que algumas operadoras de limpeza fazem a recolha do lixo, mas com grande insuficiência. Os resíduos às vezes são recolhidos com intervalo de dois ou até mesmo uma semana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Kilamba engolido pelo lixo
No Kilamba, que completou 11 anos de existência no passado dia 10 de julho, encontram-se diversos amontoados de lixo. O administrador da centralidade diz que, nos últimos meses, a fraca recolha do lixo contribuiu para o registo de mais casos doenças como a febre tifoide e a malária. Os números atuais nunca foram registados desde a fundação do Kilamba, disse Murtala Marta ao Jornal de Angola.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dívida milionária com as antigas operadoras
Em dezembro do ano passado, a então governadora provincial, Joana Lina, suspendeu contratos com seis operadoras de limpeza e saneamento de Luanda, alegando incapacidade de liquidar a dívida avaliada em cerca de 308 milhões de euros.