Merkel e Putin concordam sobre a Ucrânia e a Síria
Reuters | DPA | AFP | Lusa | tms
19 de agosto de 2018
Os líderes da Alemanha e da Rússia reuniram-se na noite do sábado (18.08) e defenderam a resolução dos conflitos na Ucrânia e na Síria. Entretanto, não houve acordos, segundo o Kremlin.
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A chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente russo, Vladimir Putin, discutiram os conflitos na Ucrânia e na Síria, assim como um projeto de gasoduto durante duras negociações, na noite do sábado, nos arredores de Berlim, na Alemanha.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que não houve acordos, mas que o encontro simplesmente pretendia "checar os relógios" após as últimas reuniões de Merkel com Putin. As relações entre os dois países têm sido tensas desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.
Este foi o segundo encontro de Angela Merkel e Vladimir Putin em pouco mais de três meses, considerado por Merkel como a possibilidade de "retomar o diálogo" depois do encontro em Sochi, em maio passado.
Concordância
Em declarações antes da reunião, no palácio Mesenberg, a 60 quilómetros de Berlim, ambos concordaram sobre a resolução dos conflitos na Ucrância e na Síria. Merkel sublinhou a responsabilidade que tem a Alemanha, mas, sobretudo a Rússia, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e com poder de veto, na procura de soluções para os muitos conflitos graves no mundo.
Entre os temas do encontro, Merkel destacou o da crise na Ucrânia, para cuja solução "os acordos de Minsk são e continuarão a ser a base", admitindo, no entanto, que não há ainda um cessar-fogo sustentado. Uma missão da ONU no leste da Ucrânia também estaria na agenda de discussão.
Vladimir Putin lamentou a falta de avanços na resolução do conflito e, como Merkel, disse que "não existe alternativa ao cumprimento dos acordos de Minsk", afirmando-se depois disposto a apoiar uma missão da ONU. Os dois também concordaram em continuar a trabalhar, com a França e a Ucrânia, para a resolução do conflito.
Conflito sírio
Em relação à Síria, o segundo grande tema do encontro, Merkel sublinhou a necessidade de se evitar uma catástrofe humanitária em Idlib, defendendo a necessidade de se implementar no país um processo político que inclua uma reforma constitucional e possíveis eleições.
Já Putin falou sobre a importância de se aumentar a ajuda humanitária naquele país e de construir infraestruturas básicas, como água e aquecimento, nas regiões que começam a receber as pessoas que haviam fugido da guerra.
Também estava na agenda da reunião o projeto de gasoduto Nord Stream II, que ligará diretamente a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico e que segundo Putin "minimizará os riscos de transporte e garantirá o crescente consumo na Europa".
Os Estados Unidos e alguns países europeus mostraram-se contra o gasoduto, considerando que pode aumentar a dependência energética da Europa face à Rússia, prejudicar a Ucrânia (grande país de trânsito de gás) e representar um risco ambiental.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".