Merkel, Macron e May tentam manter EUA no acordo com Irão
kg | EFE | Lusa
29 de abril de 2018
Em conversas por telefone, chefes de Estado e de Governo da Alemanha, França e Reino Unido sublinham necessidade de convencer Trump a manter o pacto nuclear com o Irão. EUA acusam Irão de apoiar o terrorismo.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, conversou este domingo (29.04) por telefone com o presidente da França, Emmanuel Macron, e com a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, sobre o acordo nuclear do Irão. Os três líderes sublinharam a necessidade de os Estados Unidos permanecerem no pacto.
"Os três reiteraram a disposição de elaborar, num texto mais amplo com a presença de todos os envolvidos, medidas adicionais em relação à duração das restrições nucleares, além de outros temas", afirmou em nota o porta-voz do Governo da Alemanha, Steffen Seibert. Entre as questões adicionais, o texto cita o programa de misséis balísticos do Irão e o papel do país na região.
Merkel também conversou com Macron e May sobre as relações comerciais com os EUA. Os três concordaram em afirmar que a Casa Branca não deveria tomar medidas de política comercial contra a União Europeia (UE). Caso isso ocorra, defenderam que o bloco adote uma resposta dentro de uma ordem multilateral.
Este sábado (28.04), o Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que os países europeus criaram a UE para "se aproveitar" dos EUA. "A União Europeia foi formada para se aproveitar dos Estados Unidos", disse. "Jogo a culpa em antigos presidentes e antigos líderes do nosso país", afirmou Trump.
Esta semana, Trump recebeu na Casa Branca Merkel e Macron, que foram a Washington com o objetivo de convencer Trump a não se retirar do acordo nuclear com o Irão, assinado em 2015. Os três líderes concordaram em seguir cooperando intensamente nos aspectos abordados.
Acordo falho
Este domingo, o novo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, disse em visita à Arábia Saudita que o acordo nuclear com o Irão "falhou" em tornar o Governo daquele país mais moderado. Pompeo repetiu o discurso de Trump de que a Casa Branca irá trabalhar com os aliados europeus para renegociar o acordo nuclear. No entanto, assinalou que os EUA irão se retirar do pacto se não for possível renegociá-lo.
O acordo nuclear foi firmado em julho de 2015 entre o Irão e o chamado Grupo 5+1, composto por EUA, Rússia, França, Reino Unido, China e Alemanha.
O secretário afirmou que, desde a assinatura do acordo, o Irão "tem se comportado pior em muitas áreas". O novo chefe da diplomacia americana acusou o Irão de ser o maior apoiador do terrorismo no mundo e de desestabilizar toda a região. Pompeo também disse que Teerã promove campanhas de ataques na internet.
Além disso, Pompeo acusou o Irão de apoiar o "regime assassino" do ditador Bashar al-Assad na Síria, e treinar e fornecer armas para os rebeldes houthis no Iémen, violando resoluções da ONU.
"Ao contrário do governo anterior, não seremos descuidados em relação ao terrorismo de amplo alcance do Irão. É de fato o maior apoiador do terrorismo no mundo. E estamos decididos a garantir que nunca possuam uma arma nuclear", disse Pompeo.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".