Merz e Trump selam nova fase entre os EUA e Alemanha
5 de junho de 2025
O chanceler alemão Friedrich Merz deixou a Casa Branca nesta quinta-feira visivelmente satisfeito. Após o seu primeiro encontro oficial com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Merz declarou ter encontrado um interlocutor com quem "consegue falar muito bem ao nível pessoal". A reunião marca uma reaproximação entre Berlim e Washington, com um tom cordial que contrastou fortemente com visitas anteriores de líderes estrangeiros ao mesmo gabinete.
Merz, que assumiu o cargo há apenas quatro semanas, foi calorosamente recebido no Salão Oval, num ambiente carregado de simbolismo e cortesia. Um presente especial – a certidão de nascimento do avô alemão de Trump, Frederick Trump – foi entregue como gesto diplomático. O detalhe não passou despercebido, tendo o presidente norte-americano reagido com humor: "É um nome muito alemão".
Defesa, NATO e ambições europeias
Entre os temas centrais, os gastos militares estiveram no topo da agenda. Merz comprometeu-se com o objetivo proposto por Trump de elevar o investimento alemão em defesa para 5% do PIB até 2030. Uma meta que ultrapassa os atuais padrões da NATO e sinaliza uma tentativa alemã de liderar militarmente na União Europeia.
Trump, historicamente crítico em relação à contribuição europeia para a defesa coletiva, elogiou o novo compromisso: "Sei que agora estão a gastar muito mais dinheiro em defesa, e isso é uma coisa boa".
Para além da NATO, Merz deixou claro que o apoio à Ucrânia é parte integral desse aumento. "Fornecemos apoio à Ucrânia e procuramos aumentar a pressão sobre a Rússia", sublinhou o chanceler.
Ucrânia: afinidades e divergências
A guerra na Ucrânia também dominou as conversas. Merz afirmou com clareza que "a Rússia é a agressora", reiterando o apoio da Alemanha a Kiev. Trump, por sua vez, adotou um tom mais ambíguo, dizendo que "às vezes é melhor deixar os dois lados lutar por um tempo", comparando a guerra a "crianças a lutar no recreio".
Apesar disso, ambos afirmaram procurar o fim do conflito. "Concordamos que esta guerra é terrível e queremos encontrar formas de a terminar rapidamente", disse Merz, procurando minimizar as diferenças. Trump, embora mais evasivo sobre sanções futuras, afirmou que será ele a "guiar" qualquer decisão do Congresso sobre o tema.
Política, afinidades pessoais e cálculo estratégico
A relação entre Merz e Trump, embora recente, parece estar a consolidar-se rapidamente. Desde que Merz assumiu o cargo, os dois já se falaram diversas vezes por telefone, trocam mensagens diretamente e, segundo fontes alemãs, tratam-se pelo primeiro nome.
Trump, notoriamente imprevisível com líderes estrangeiros, foi desta vez contido e até elogiou o inglês fluente do chanceler. "Fala um inglês muito bom", comentou, arrancando risos da sala.
Há também afinidades ideológicas e de trajetória. Ambos vêm do setor privado – Merz da BlackRock, Trump do imobiliário – o que lhes terá criado "um certo laço", nas palavras do chanceler.
Temas espinhosos evitados
Questões sensíveis, como as críticas de membros da administração Trump ao tratamento da Alemanha à extrema-direita (AfD), foram estrategicamente ignoradas durante a conferência de imprensa. Merz estava preparado para responder, mas nenhuma pergunta foi autorizada sobre o tema, apesar da presença do vice-presidente JD Vance e do secretário de Estado Marco Rubio, os principais críticos da política alemã nesse campo.
A presença de Merz sem intérprete foi lida como um gesto para gerar confiança e fluidez no diálogo. Nos bastidores, o chanceler alemão consultou outros líderes mundiais que já haviam se reunido com Trump, incluindo Zelensky, Meloni e Ramaphosa, para preparar a visita.