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Cultura

"Diferenças na sociedade são superficiais", diz Mia Couto

18 de novembro de 2017

"O Bebedor de Horizontes", a última obra da trilogia "As Areias do Imperador" de Mia Couto, lançada este mês de novembro, foi "o maior desafio" do percurso do escritor na literatura.

Mosambik - Buchpräsentation Bebedor de Horizontes von  Mia Couto
Lançamento da obra "Bebedor de Horizontes", em MaputoFoto: Fundação Fernando Leite Couto

Neste livro, Mia Couto conta a história do imperador de Gaza, Ngungunhana, que é preso pelos portugueses em 1895, na região de Chaimite, e levado até ao arquipélago dos Açores em Portugal. A captura do imperador de Gaza - que era considerado um dos maiores reinos de África na época – era para os portugueses uma demonstração da sua força à Europa.

“O Bebedor de Horizontes” é a última obra da trilogia “As Areias do Imperador” de Mia CoutoFoto: Fundação Fernando Leite Couto

No lançamento do livro em Maputo, Mia Couto afirmou que "este foi o maior desafio" desde que iniciou o seu percurso na literatura. "Saí esgotado, mas alegre", afirma o escritor, acrescentando que: "Percebi porque é que se diz que a literatura é uma espécie de mentira. E neste caso, já posso denunciar o autor deste livro como fabricador de várias mentiras".

"Umas delas já foi denunciada: estou a fingir que estou a falar de outras pessoas, mas estou a falar de nós próprios. Estou a mentir ao dizer que estou a falar do passado, mas estou a falar do presente. É isso que me interessa e foi isso que me entusiasmou ao escrever este livro", revela o escritor.

Nesta obra, o último monarca de Gaza - um vasto império que saía do Sul de Moçambique até ao rio Zambeze - é descrito como controverso, em alguns momentos forte e outros fraco.

Ngungunhana e as suas esposas e filhos são presos e levados até aos Açores. Lá, a única coisa que o Leão de Gaza vê é o horizonte, que embriagava as suas alucinações, daí o título “O Bebedor de Horizontes”.

Mia CoutoFoto: Fundação Fernando Leite Couto

O livro revela as "falsas diferenças" que dividem os moçambicanos e que hoje "se colocam mais uma vez na história de Moçambique". Como explica o autor, "há uma viagem que é feita dentro de nós e que precisa desse contacto permanente com os outros, de maneira a que os outros deixem de ser os outros para que passem a ser alguém que está por dentro de nós e essas falsas diferenças que nos dividem".

Na obra, Mia Couto afirma evitar construir personagens "bons" e "maus". A literatura, diz o autor, tem o poder de mostrar que as diferenças na sociedade "são simplesmente superficiais ou circunstanciais". "Não existe uma coisa chamada ngunis, uma coisa chamada chopis, uma coisa chamada brancos ou negros. São construções históricas que são sempre chamadas de grandes verdades quando se trata de fabricar conflitos e ódios, quando se trata de sugerir que o caminho não é o diálogo, mas é o confronto", afirma.
 
Nesta trilogia, os dois primeiros volumes saíram há três anos. Trata-se de “Mulheres de Cinza” e a “Espada e a Azagaia” cujo centro da história tem como personagem principal o imperador de Gaza, Ngungunhana.

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