"O Bebedor de Horizontes", a última obra da trilogia "As Areias do Imperador" de Mia Couto, lançada este mês de novembro, foi "o maior desafio" do percurso do escritor na literatura.
Publicidade
Neste livro, Mia Couto conta a história do imperador de Gaza, Ngungunhana, que é preso pelos portugueses em 1895, na região de Chaimite, e levado até ao arquipélago dos Açores em Portugal. A captura do imperador de Gaza - que era considerado um dos maiores reinos de África na época – era para os portugueses uma demonstração da sua força à Europa.
No lançamento do livro em Maputo, Mia Couto afirmou que "este foi o maior desafio" desde que iniciou o seu percurso na literatura. "Saí esgotado, mas alegre", afirma o escritor, acrescentando que: "Percebi porque é que se diz que a literatura é uma espécie de mentira. E neste caso, já posso denunciar o autor deste livro como fabricador de várias mentiras".
"Umas delas já foi denunciada: estou a fingir que estou a falar de outras pessoas, mas estou a falar de nós próprios. Estou a mentir ao dizer que estou a falar do passado, mas estou a falar do presente. É isso que me interessa e foi isso que me entusiasmou ao escrever este livro", revela o escritor.
Nesta obra, o último monarca de Gaza - um vasto império que saía do Sul de Moçambique até ao rio Zambeze - é descrito como controverso, em alguns momentos forte e outros fraco.
Ngungunhana e as suas esposas e filhos são presos e levados até aos Açores. Lá, a única coisa que o Leão de Gaza vê é o horizonte, que embriagava as suas alucinações, daí o título “O Bebedor de Horizontes”.
O livro revela as "falsas diferenças" que dividem os moçambicanos e que hoje "se colocam mais uma vez na história de Moçambique". Como explica o autor, "há uma viagem que é feita dentro de nós e que precisa desse contacto permanente com os outros, de maneira a que os outros deixem de ser os outros para que passem a ser alguém que está por dentro de nós e essas falsas diferenças que nos dividem".
Na obra, Mia Couto afirma evitar construir personagens "bons" e "maus". A literatura, diz o autor, tem o poder de mostrar que as diferenças na sociedade "são simplesmente superficiais ou circunstanciais". "Não existe uma coisa chamada ngunis, uma coisa chamada chopis, uma coisa chamada brancos ou negros. São construções históricas que são sempre chamadas de grandes verdades quando se trata de fabricar conflitos e ódios, quando se trata de sugerir que o caminho não é o diálogo, mas é o confronto", afirma.
Nesta trilogia, os dois primeiros volumes saíram há três anos. Trata-se de “Mulheres de Cinza” e a “Espada e a Azagaia” cujo centro da história tem como personagem principal o imperador de Gaza, Ngungunhana.
Artistas da CPLP unidos contra a fome
Mais de 50 artistas doaram as suas obras para a campanha "Juntos contra a Fome". Os trabalhos estão expostos na galeria da UCCLA em Lisboa. O objetivo: angariar fundos para ajudar a erradicar a fome nos países lusófonos.
Foto: DW/João Carlos
Exposição na sede da UCCLA
Por uma causa nobre, mais de 50 artistas dos países de língua portuguesa doaram as suas obras para a campanha "Juntos contra a Fome". Mais de 90 trabalhos estão expostos até ao dia 22 de setembro na Galeria da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em Lisboa. O objetivo: angariar fundos para ajudar a erradicar a fome nos países que falam português.
Foto: DW/João Carlos
Direitos humanos longe de serem realidade
A exposição, cuja organização contou com a ajuda do artista angolano Carlos Bajouca, foi inaugurada a 5 de setembro pela secretária executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Maria do Carmo Silveira disse que, apesar dos "grandes esforços" no plano nacional e internacional, o direito humano a uma alimentação adequada está longe de ser uma realidade.
Foto: DW/João Carlos
Não depender sempre da ajuda externa
A mostra abre com um painel do são-tomense Estanislau Neto, que, tendo recorrido a imagens de vacas, valoriza a importância da agricultura e da pecuária no processo de produção alimentar. A criação de gado, de acordo com o artista, seria uma das vias sustentáveis no combate à fome, para contrariar a dependência de donativos.
Foto: DW/João Carlos
Estratégia para segurança alimentar
O desafio é mobilizar apoio para milhões de pessoas que vivem com falta de uma alimentação adequada. Nos países onde se fala português, mais de 20 milhões de pessoas enfrentam esta realidade. Na imagem, fotografias da portuguesa Maria João Araújo.
Foto: DW/João Carlos
Envolvimento da sociedade civil
A campanha "Juntos contra a Fome", lançada em fevereiro de 2014, tem mobilizado a sociedade civil, incluindo escritores, académicos, jornalistas, desportistas e políticos. O angolano Marco Kabenda, autor desta obra, é um dos artistas que apadrinha a iniciativa. A ele juntam-se vários pintores, escultores e tecelões dos nove países onde se fala português.
Foto: DW/João Carlos
Abrir mentes contra o preconceito
Júlio Quaresma também ofereceu um dos seus quadros, que representa a explosão das convenções na atual dinâmica da modernidade. O artista angolano acredita que só se consegue dinamizar e fazer avançar as sociedades quando abrirmos as nossas mentes sem preconceitos, em defesa de uma causa como esta: a da luta contra a fome e a pobreza.
Foto: DW/João Carlos
O poder e a gestão da água
Entre os quadros de Ismael Sequeira, destaque para a temática da gestão da água. O artista são-tomense expressa assim a sua inquietação perante a carência deste líquido precioso. Lembra que a água é importante para a vida e necessária para a agricultura, embora não seja distribuída com racionalidade.
Foto: DW/João Carlos
Amor ao próximo para acabar com a fome
As esculturas do moçambicano Frank N’Taluma transportam sempre consigo uma mensagem apelativa. Aqui, o artista apela ao amor ao próximo. "Para acabar com a fome temos que amar o próximo", afirma, condenando o facto de muita comida ser desperdiçada e deitada para o lixo quando se sabe que há milhares de pessoas a necessitarem de alimentação.
Foto: DW/João Carlos
Outros contributos moçambicanos
De igual modo, o conceituado artista plástico moçambicano Lívio de Morais não ignorou o sofrimento dos que fazem parte das estatísticas da fome nos países lusófonos. A sua contribuição é tão valiosa quanto a dos seus conterrâneos Roberto Chichorro ou Malenga, Sérgio Santimano e José Pádua, também representados na exposição.
Foto: DW/João Carlos
Cinco projetos já financiados
Até agora, de acordo com a CPLP, a campanha "Juntos contra a Fome" já angariou 175 mil euros na campanha ", que permitiram viabilizar cinco projetos em Cabo Verde, na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Este quadro do guineense João Carlos Barros é mais um grão no esforço para angariar mais recursos financeiros para apoiar outros países.
Foto: DW/João Carlos
Promover a agricultura familiar
Os projetos são implementados a 100% por organizações não-governamentais locais, visando promover a agricultura familiar sustentável, assim como reduzir o número de famílias afetadas pela fome nos países lusófonos. Abel Júpiter ofereceu este quadro para o acervo de peças doadas pelos mais de 50 artistas.
Foto: DW/João Carlos
Expetativas para o leilão
No final da exposição, no dia 22, será feito um leilão, para o qual os promotores pediram a participação de todos os que querem dar o seu contributo e engrandecer esta causa. Rui Lourido, diretor do Setor Cultural da UCCLA, também abraça a causa. Na foto, alguns dos artistas que apadrinham a campanha "Juntos contra a Fome".