França e Espanha querem centros de desembarque de migrantes
EFE | Lusa | tms
23 de junho de 2018
A proposta já foi abordada com a chanceler alemã, Angela Merkel, segundo informou o Presidente francês, Emmanuel Macron. A medida deverá ser apresentada numa reunião com outros líderes europeus neste domingo.
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A França e a Espanha vão propor aos parceiros europeus a criação de centros de desembarque "em solo europeu", onde a situação dos migrantes será analisada e se fará a repartição pelos vários países da União Europeia (UE).
"Necessitamos de um caminho claro de solidariedade", declarou o Presidente francês, Emmanuel Macron, no final de um almoço no Palácio do Eliseu com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, este sábado (23.06).
Macron explicou que a proposta, já abordada com a chanceler alemã, Angela Merkel, consiste em criar "centros fechados (...) com meios europeus que permitam uma solidariedade financeira imediata, uma instrução rápida dos dossiers, uma solidariedade europeia para que cada país se encarregue de modo organizado das pessoas que têm direito a asilo".
Para os migrantes sem direito a asilo, Macron sublinhou a necessidade de existir "solidariedade europeia e eficácia" para os encaminhar para "o seu país de origem" e "em caso algum para países de trânsito".
"É uma solução de cooperação e que respeita a lei. Devemos manter os nossos princípios e não nos deixarmos levar pelos extremos", adiantou, na véspera de uma minicimeira europeia sobre a questão das migrações. Macron disse que sua proposta é diferente da do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que é favorável a criar "plataformas" nos países africanos de origem e de passagem.
Mais centros
Atualmente não existem praticamente centros fechados onde se analisem os dossiers dos migrantes na Europa, com exceção de alguns casos raros na Grécia e em Itália geridos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
A proposta franco-espanhola prevê uma ação a uma escala maior com centros fechados nos "países mais próximos do desembarque", onde os migrantes deveriam ficar até que o seu caso fosse estudado.
O tema das migrações domina a agenda do Conselho Europeu nos dias 28 e 29 e divide os Estados-membros, nomeadamente no que respeita às regras para acolhimento de refugiados e concessão de asilo.
Pelo menos 16 líderes da EU, incluindo a chanceler da Alemanha, vão participar, no domingo (24.06), na reunião informal convocada pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para debater o problema das migrações, na agenda do Conselho Europeu da próxima semana. O tema divide os Estados-membros, nomeadamente no que respeita às regras para acolhimento de refugiados e concessão de asilo.
Em entrevista conjunta com o chefe de Estado francês, o líder do Governo espanhol se referiu à situação do navio Lifeline, que está no mar há mais de dois dias com cerca de 230 migrantes a bordo, à espera de que algum país o autorize a atracar em um porto seguro, diante das negativas de Itália e Malta.
Da mesma forma, há algumas semanas, outro navio com cerca de 600 migrantes, a maioria deles africanos, também não foi autorizado a desembarcar as pessoas resgatadas em solo italiano ou maltês, e teve de seguir para a Espanha.
A bordo de um navio militar alemão no Mediterrâneo
O "Frankfurt am Main" navega nas águas do Mar Mediterrâneo desde janeiro. Auxilia no resgate de refugiados a caminho da Europa e serve de apoio a outros navios. A DW África viajou na embarcação.
Foto: DW/D. Pelz
Missão delicada
O maior navio da Marinha alemã, o "Frankfurt am Main", prepara-se para levantar âncora. Os militares têm em mãos uma missão delicada no Mar Mediterrâneo, no âmbito da operação naval europeia "Sofia": travar a migração ilegal para a Europa, apanhar os "passadores" e resgatar os refugiados que naufragam.
Foto: DW/D. Pelz
Visão periférica
O navio funciona 24 sobre 24 horas. Os militares revezam-se nos turnos. Na ponte de comando, monitorizam o mar envolvente com a ajuda do radar. Os objetos que aparecem no monitor não são só embarcações de refugiados. Há muitos navios comerciais e de cruzeiro que navegam no Mediterrâneo. O "Frankfurt am Main" cruza-se também frequentemente com outras embarcações da operação "Sofia".
Foto: DW/D. Pelz
Saúde a bordo
O mar está demasiado agitado - os refugiados não se costumam fazer ao Mediterrâneo com este tempo. A tripulação dedica-se, por isso, a outras tarefas. A paramédica Shanice S. conduz um teste auditivo de rotina a um soldado. Os tripulantes fazem exames médicos regularmente. É possível inclusive realizar operações no hospital de bordo. Também há um dentista no navio.
Foto: DW/D. Pelz
Médicos, padeiros e padre a bordo…
Andreas Schmekel (à dir.) comanda mais de 200 pessoas no navio. A bordo seguem marinheiros, médicos, cozinheiros, padeiros e um padre. A maioria dos tripulantes passa vários meses no navio.
Foto: DW/D. Pelz
Sempre alerta
Os tripulantes têm de estar preparados para resgatar refugiados que entrem em apuros. Por isso, o técnico Jan S. testa as lâmpadas num dos contentores na proa. É para aqui que os refugiados são levados inicialmente. É aqui que são revistados pelos militares e que se avalia o seu estado de saúde. Quando centenas de refugiados sobem a bordo ao mesmo tempo, o processo pode demorar um dia inteiro.
Foto: DW/D. Pelz
Dia-a-dia dos militares
Se não há náufragos a bordo, os militares continuam os seus treinos regulares, incluindo de tiro, mesmo que a missão no Mediterrâneo não preveja o uso de armas de fogo. Também são testados o combate a incêndios ou a prontidão da resposta face a possíveis vazamentos no navio. Em caso de emergência, cada decisão e gesto é crucial.
Foto: DW/D. Pelz
Tudo em ordem e pratos limpos
Além dos turnos de vigia e dos treinos também é preciso limpar o navio e preparar a comida. Todos os dias, durante uma hora, os militares limpam todos os quatro cantos do navio - desde a bússola aos corrimões. Sobra pouco tempo livre.
Foto: DW/D. Pelz
Visita de vizinhos
Os vizinhos também fazem visitas no Mar Mediterrâneo. A fragata alemã "Karlsruhe" e o porta-aviões italiano "Cavour" realizam um exercício em conjunto com o navio "Frankfurt am Main". É preciso concentração máxima ao leme. Esta é uma manobra difícil.
Foto: DW/D. Pelz
Um armazém flutuante
O "Frankfurt am Main" costuma servir de apoio a embarcações mais pequenas, fornecendo combustível e água. Feridos podem ser tratados no hospital de bordo. Agora, uma parte do navio é utilizada para acolher refugiados que naufragam e que são, depois, transportados para o porto mais próximo ou transferidos para outro navio.
Foto: DW/D. Pelz
Posto de gasolina em alto mar
A fragata espanhola "Numancia" abastece no "Frankfurt am Main". É uma manobra complicada pois as embarcações navegam a uma velocidade de 20 km/h. Os navios têm de se manter à mesma distância durante a operação. Abastecer em alto mar chega a durar mais de uma hora.
Foto: DW/D. Pelz
Saudades
Este placard serve de motivação aos marinheiros, indicando os dias que faltam para o regresso a casa. Em alto mar os telemóveis não têm rede. Mas, a cada duas semanas, o navio atraca num porto do Mediterrâneo – é uma oportunidade para reabastecer a embarcação e dar aos militares a oportunidade de se recuperarem da vida a bordo.