A 12 de junho assinala-se o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil. A ONU estima que haja 168 milhões de crianças a trabalhar. Muitas delas em África, em particular na República Democrática do Congo.
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Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), cerca de 40 mil crianças trabalham em minas de cobalto na República Democrática do Congo. Por um turno de trabalho, que pode chegar a durar 24 horas, recebem menos de 1 euro e 80 cêntimos. Algumas não chegam a receber metade disso.
"As condições de trabalho nas minas congolesas são miseráveis", diz Faustin Adeye, que trabalha na instituição de solidariedade católica Misereor. "Muitas crianças são arrasadas do ponto de vista físico. Há escavações inteiras feitas a partir das próprias mãos destas crianças, sem luvas, apenas com a ajuda de machetes."
Adeye acrescenta que, por vezes, há acidentes, as minas desabam e as crianças acabam enterradas vivas.
Algumas crianças têm apenas 7 anos e muitas trabalham sem qualquer proteção ou roupa apropriada, de acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional.
Multinacionais preocupadas?
A matéria-prima recolhida é usada para fazer baterias de smartphones. Gigantes da eletrónica como a Apple, a Microsoft, a Samsung ou a Sony usam o material para construir os seus aparelhos eletrónicos.
O mineral também pode ser encontrado em carros elétricos produzidos pela Daimler ou pela Volkswagen. No entanto, todas estas empresas rejeitam ser associadas ao trabalho infantil. Foi isso que defendeu a alemã Daimler, em dezembro, depois de ter sido contactada pela DW.
Milhões de crianças forçadas a trabalhar
Por escrito, a empresa respondeu que exige a todos os seus fornecedores que cumpram as normas e leis internacionais aplicáveis. As próprias regras internas sobre condições de trabalho, normas sociais, ética profissional e proteção ambiental vão, segundo a Daimler, muito além das obrigações legais, e os fornecedores também estariam empenhados em cumprir as normas legais.
A fabricante de automóveis BMW admitiu que usou cobalto da República Democrática do Congo na produção de baterias. Para garantir que não voltariam a compactuar com violações dos direitos humanos, a empresa com sede em Munique garantiu que começou a controlar os seus fornecedores a pente fino.
Em março, a norte-americana Apple também comunicou que pretendia parar de comprar o cobalto extraído à mão na República Democrática do Congo. É neste país que existem os maiores depósitos deste mineral, onde cerca 50% de todo o cobalto do mundo é extraído.
A Organização Internacional do Trabalho lançou o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil em 2002 para chamar a atenção para a situação de milhares de crianças em todo o mundo. A data é assinalada todos os anos a 12 de junho.
Minas de ouro na Nigéria: trabalho mortal para crianças
Centenas de crianças trabalham em minas de ouro na Nigéria. Há alguns meses, 28 crianças morreram, envenenadas com chumbo. De lá para cá, pouco ou nada mudou. O correspondente da DW Adrian Kriesch visitou a região.
Foto: DW/A. Kriesch
Veneno dourado
Centenas de crianças trabalham, todos os dias, em minas de ouro na Nigéria. Em maio, 28 crianças morreram, envenenadas com chumbo - todas menores de seis anos. Os irmãos tinham levado pedras da mina para casa. Para separar o metal precioso da pedra, usa-se produtos químicos tóxicos. Pequenas quantidades podem ser fatais para um menor de seis anos.
Foto: DW/A. Kriesch
Normalidade assustadora
Basta o contacto com roupas contaminadas com chumbo para crianças menores de seis anos entrarem em colapso. Meses depois da tragédia na Nigéria, a realidade continua a ser assustadora: muitas das crianças que trabalham nas minas de ouro têm à volta de seis anos de idade. Garimpam dia após dia, de manhã à noite. Aqui, mal se vê adultos.
Foto: DW/A. Kriesch
Pó de chumbo mortal
Para proteger melhor as crianças, uma organização promove uma sessão de esclarecimento numa aldeia. As crianças não devem trazer roupas da mina para casa, não devem mexer em químicos e devem evitar minas de alto risco. Mais difícil é proibir as crianças de trabalhar.
Foto: DW/A. Kriesch
Minas em vez da escola
"A minha família precisa do dinheiro", conta Habi. Ela não sabe quantos anos tem, sabe apenas que trabalha há 24 meses na mina. Ainda assim, ao contrário de muitos dos seus amigos, Habi vai de vez em quando à escola.
Foto: DW/A. Kriesch
Acesso difícil
Muitas minas de ouro ficam no estado do Níger, no centro-oeste da Nigéria. Durante a época das chuvas, a região fica separada do resto do país. A única estrada para o Níger transforma-se num rio. Os carros não conseguem circular, as motorizadas têm de ser transportadas à mão. O caos ilustra bem a forma como esta região foi esquecida pelo Estado.
Foto: DW/A. Kriesch
"Trabalho infantil?"
Depois da morte das 28 crianças, foi criada uma força especializada em envenenamentos por chumbo. Mas em Kagara, a sede do Governo local, nega-se que haja trabalho infantil. "O que significa isso, trabalho infantil?", pergunta o líder da força, Alhaji Abdullahi Usman Katako. Ele diz que, durante a época das chuvas, é impossível tomar medidas de maior envergadura devido às más condições da estrada.
Foto: DW/A. Kriesch
Cuidados médicos quase inexistentes
Cerca de 80% das crianças da região têm altas concentrações de chumbo no sangue. Mas faltam médicos para as tratar. Próximo da mina, só há um posto médico. Mas o médico nunca estudou Medicina, tirou apenas um curso rápido na capital provincial. Dezenas de crianças tiveram de ser levadas para tratamento em localidades maiores.
Foto: DW/A. Kriesch
143 alunos, um professor
Na escola de Shikira, há um professor para 143 alunos – e ele ensina todas as disciplinas. "Muitas vezes, os alunos baldam-se às aulas e vão para o garimpo", conta Abdullahi Garba. Muitos pais não conseguiram pagar o uniforme da escola e mandaram os filhos para o trabalho nas minas. "Preciso de mais apoios para conseguir fazer alguma coisa contra isso."
Foto: DW/A. Kriesch
Mais minas do que atos
O jornalista nigeriano Arukaino Umukoro diz que, desde a notícia das mortes por envenenamento com chumbo, pouco ou nada mudou. Pelo contrário: Há mais minas do que antes. "Os habitantes da aldeia não conhecem outra coisa que não o garimpo. O Estado tem de arranjar alternativas para estas pessoas e investir na educação", diz Umukoro.