Milhares de camaroneses fogem das regiões anglófonas
Jean Marie Ngong Song | Benita van Eyssen | rl
28 de agosto de 2019
Milhares de pessoas estão a deixar as suas casas nas cidades de Buea e Bamenda e a refugiar-se na região francófona dos Camarões. A maioria vai para Yaoundé, Douala e Bafoussam em busca de segurança e educação.
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Nos últimos dias, as agências de viagens não têm tido mãos a medir. Em Bamenda, as filas são longas. Todos querem um bilhete para fora da cidade.
Celine Tanui é uma das pessoas que conseguiu. Comprou bilhetes de autocarro e vai mudar-se para a cidade de Bafoussam, no noroeste dos Camarões. Tudo para conseguir matricular os seus três filhos na escola.
"A sentença de Ayuke Julius Tabe piorou as coisas aqui em Bamenda. Ficámos chocados com o facto de o tribunal militar de Yaoundé o ter condenado a prisão perpétua e com a resposta dos separatistas, que garantem que as escolas não vão reabrir até que os seus líderes saiam em liberdade", afirma.
Milhares de camaroneses das regiões anglófonas em fuga
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Sem escola, com medo de violência
Os conflitos nas regiões anglófonas dos Camarões tiveram início em 2016. Desde aí, os bloqueios dos separatistas têm sido frequentes. A escola foi interrompida.
Face à condenação do autoproclamado presidente da Ambazónia, e de outros nove líderes separatistas, surgiram novos temores de uma escalada de violência na região. Os separatistas apelam ao boicote de uma campanha de "regresso às aulas" apoiada pelo Estado e por grupos da sociedade civil, que tinha como objetivo a reabertura das escolas nas duas regiões anglófonas a 2 de setembro.
Quiniva, de 18 anos, diz à DW que não vai à escola desde 2016 e tem agora de fugir da sua terra natal por razões de segurança: "Precisamos de ir para Yaoundé porque temos medo dos militares, pois eles não atacam apenas fora das casas. Há arrombamentos. Ninguém está seguro aqui."
Aprofundam-se as divisões nos Camarões
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Como Quiniva, há centenas de outros jovens que escolheram abandonar a região onde nasceram em prol dos seus estudos. No entanto, esta é uma viagem que pode ser considerada um privilégio, pois nem todos a podem fazer. Com a correria às agências em busca de bilhetes, os preços duplicaram ou até triplicaram em alguns casos.
Tah Kenneth é especialista em educação comunitária e, em entrevista à DW, diz ser lamentável que apenas os ricos possam ter acesso à educação.
"Todos os pais estão a tentar mudar-se por razões de segurança e conforto para a aprendizagem dos seus filhos. Mas há alguns pais que não o podem fazer por dificuldades financeiras", salienta Kenneth.
Estima-se que, desde o início do conflito, cerca de meio milhão de pessoas tenha abandonado as suas casas. Tanto o Governo, como os separatistas têm sido acusados de atos de violência que provocaram a morte de pelo menos 1800 pessoas. Em junho passado, a organização Human Rights Watch alertou para a ocorrência na região de abusos de direitos humanos por parte dos dois lados do conflito.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.