Nigérias: Refugiados do Boko Haram encontram nova casa
Andrea Stäritz
3 de julho de 2017
Mubi é conhecida como a cidade da paz. Metade da população é cristã e a outra metade muçulmana. Esta é agora a nova casa de cerca de 100 mil pessoas que fugiram do terror do Boko Haram.
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A cidade de Mubi está estrategicamente localizada perto do rio Yedsderam, a dez quilómetros da fronteira norte com os Camarões. É uma das cidades nigerianas com o mais rápido crescimento económico. Em outubro de 2014, a cidade - com cerca de 200 mil habitantes -, foi invadida por militantes do Boko Haram. Quarenta dias depois, as forças nigerianas recapturaram Mubi. Os residentes voltaram e a maioria deles abriu a sua casa aos refugiados. Mais de cem mil pessoas provenientes de Borno e de outros concelhos à volta da floresta de Sambisi vieram para ficar.
Algoni Ibrahim, de 23 anos, vem de Banki, a cerca de 200 quilómetros a norte de Mubi. Quando o Boko Haram ocupou a cidade fronteiriça há três anos, ele fugiu até à fronteira com os Camarões. Depois de ter passado dois anos num campo de refugiados, o jovem ouviu falar da oportunidade de trabalhar em Mubi e voltou à Nigéria.
Durante seis meses, Algoni Ibrahim trabalhou a transportar bidões de água e a carregar e a descarregar camiões. Dormiu na rua e foi detido cinco vezes porque a polícia suspeitava que ele era um dos combatentes do Boko Haram. Pelo meio, Ibrahim trabalhou como alfaiate cujo salário dava para suportar a sua família que estava a viver num campo para deslocados em Maiduguri. "É preciso ser capaz de fazer alguma coisa, um ofício. Depois encontra-se trabalho”, disse.
Na estrada que liga Mubi aos Camarões, está localizada uma fábrica de tijolos que não está a funcionar e que foi transformada num campo de trânsito de refugiados. Os homens dormem na sala de produção, enquanto as mulheres e as crianças se abrigam em cinco cabanas de plástico. Este campo devia ter sido fechado há muito tempo, mas agora 80 mil refugiados, que previamente já se refugiaram nos Camarões, estão a ser repatriados por via deste campo. Nigéria, Camarões e a agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) concordaram, em março, o regresso dos refugiados nigerianos.
A maioria dos deslocados registados encontrou trabalho em Mubi. Vivem com conhecidos ou familiares que voluntariamente abriram as portas das suas casas. Nas aldeias próximas de Mubi, terrenos foram cedidos aos refugiados para que estes possam refazer as suas vidas. "Se a situação de segurança o permitir, todos os refugiados gostariam de retornar imediatamente”, afirmou Safratu Ayuba, porta-voz dos refugiados neste campo, que é gerido e protegido pelos militares da Nigéria. "Estamos muito agradecidos ao governo e à sociedade civil pois têm cuidado de nós. A próxima prioridade é conseguir obter um pequeno pedaço de terra para começar a cultivar”, acrescenta.
Mohamed Buba Hakim retornou há poucos dias dos Camarões com outros 130 refugiados. "Todos querem regressar”, confirma também este administrativo de 36 anos.
Economia a crescer
No centro da cidade, no primeiro andar de um edifício comercial, é o escritório da câmara comercial local. Abdulkadir Musa, que dirige o escritório, afirma que o comércio está a crescer: "Os negócios estão melhores que antes da tomada da cidade pelo Boko Haram. Todos estão a fazer a sua parte”, dá conta. A cidade está a crescer a um ritmo acelerado desde que os empresários do norte dos distritos de Gwoza - Bama e Maidagali – se mudaram para aqui por causa da difícil situação de segurança no norte. Muitas das estradas no norte continuam inseguras. Mubi, por outro lado, conta com uma rota segura para os Camarões e para o sul.
Em busca de paz e segurança
O medo que o terror que assolou a cidade num passado bem recente possa regressar está sempre presente na mente de quem aqui vive. Danladi Abubakar, representante do emir, trabalha como mediador no mercado e define-se a ele próprio como um negociador de paz. "Aprendemos que a segurança não é uma questão que importa apenas aos militares. Todos no mercado devem tornar-se guardiões da paz”, afirma.
03.07.2017 Boko Haram - Mubi - MP3-Mono
Os residentes em Mubi estão preocupados com a possibilidade dos combatentes do Boko Haram poderem ter entrado na cidade disfarçados de refugiados. "Todos os recém-chegados estão ser observados de perto”, afirma Abubakar. "Se vêm em paz, são bem-vindos. Mas se sabemos de algo estranho, de caráter questionável, alertamos as autoridades”, acrescenta.
Mubi é conhecida como a cidade da paz. No entanto, afirma o pastor Dean Harris, esta não é mais a mesma cidade de há alguns anos atrás. Desde que tiveram início os ataques do Boko Haram, prevalece a suspeita e as pessoas têm dificuldade em confiar umas nas outras. "Vivemos num clima de suspeita. O muçulmano suspeita do cristão e o cristão suspeita do muçulmano. Ninguém vê no outro o irmão como antes, porque não esquecemos o que vimos com os nossos olhos quando, a 21 de outubro, o Boko Haram chegou a Mubi e queimou todas as nossas igrejas”, dá conta.
Harrison trabalha com o conselho inter-religioso. Desde que as pessoas voltaram, há um ano e meio, o conselho tem estado a realizar reuniões quase todas as semanas. "Sabemos que as pessoas estão seriamente traumatizadas, então começámos a promover muitas iniciativas para curar este trauma”, explicou. Porque para além do crescimento económico, o que todas as pessoas querem em Mubi realmente é paz e segurança.
Lazer em vez de terror: o jardim zoológico de Maiduguri na Nigéria
Durante anos, o grupo terrorista islamita Boko Haram marcou a vida em Maiduguri. Ainda hoje acontecem atentados ocasionais. Mas o regresso à vida normal já permite prazeres como uma tarde passada no jardim zoológico.
Foto: DW/T. Mösch
Elefantas à espera dum elefante
As elefantas Izge e Juma são muito populares entre os visitantes. Mustapha Pogura (segundo da esquerda) veio da cidade vizinha de Yobe para passar uma tarde no jardim zoológico. "Antigamente teria receado vir por causa da falta de segurança. Mas agora reina aqui a paz." Pogura diz que ainda seria melhor se investissem mais no jardim zoológico. Os tratadores queriam um elefante para as elefantas.
Foto: DW/T. Mösch
Parque e zoológico há quase 50 anos
Chefes tradicionais e patrocinadores privados doaram alguns animais quando o parque foi criado em 1970. Em 1974, após uma visita ao parque, o Presidente queniano Jomo Kenyatta enviou uma série de animais da savana para a Nigéria. O parque transformou-se definitivamente num jardim zoológico. Mas aos poucos os animais foram morrendo de velhice ou porque não se adaptavam ao clima seco e quente.
Foto: DW/T. Mösch
Sombra e sossego no meio da azáfama urbana
Por um bilhete de 50 nairas (dez cêntimos do euro) o visitante pode visitar 17 hectares de parque com jaulas e cercas. Uma mão cheia de quiosques vende refrescos. Os visitantes preferem vir ao fim da tarde para fugir à canícula. Os pares sentam-se nos bancos à sombra e as crianças observam as cobras.
Foto: DW/T. Mösch
Um sítio para as crianças
A estudante Khadija (à direita), de 15 anos, e a sua irmã Aisha (segunda da direita) vieram com amigos. O leão é um dos animais preferidos de Khadija. "Fico feliz por haver um sítio tão bonito para nós, crianças", diz Aisha. Aos fins-de-semana o jardim zoológico enche bastante. Os empregados dizem que nos feriados importantes como a Festa do Sacrifício, vêm milhares de visitantes.
Foto: DW/T. Mösch
Leões comilões
Por detrás de uma grade grossa, o leão parece saciado. O rei dos animais partilha o recinto com duas leoas. Quando Maiduguri vivia o terror do Boko Haram, era difícil alimentar os leões. Foi preciso sacrificar-lhes algumas das cabras do jardim zoológico. Muitos carnívoros não sobreviveram, contam os tratadores.
Foto: DW/T. Mösch
Crocodilos prolíficos
A natureza conferiu aos crocodilos a capacidade de sobreviverem longos períodos sem comer. Estes não parecem ter sofrido nos anos de escassez de Maiduguri. O recinto está quase sobrelotado, porque os répteis reproduzem-se com rapidez. Fotos tiradas há alguns anos mostram o recinto cheio de lixo. Mas hoje os crocodilos dormitam sobre a areia branca e limpa.
Foto: DW/T. Mösch
Um diretor confiante
O diretor Usman Lawal trabalha aqui há mais de 20 anos. Mostra com orgulho o canto onde os crocodilos enterram os ovos. "Os governos passados não estavam interessados no jardim zoológico," conta. "Também por isso perdemos tantos animais”. Mas o atual governador do estado de Borno aumentou o orçamento, diz o diretor: "Pudemos proceder a limpezas e reparação de jaulas e recintos."
Foto: DW/T
Um recomeço com novos escritórios
O diretor Lawal tem grandes planos para o seu jardim zoológico. Fundos adicionais de Borno e o aumento de visitantes permitiram-lhe construir um novo edifício administrativo para os cerca de 40 empregados. Alguns recintos também obtiveram cercas novas.
Foto: DW/T.Mösch
A hiena aguarda uma casa nova
As jaulas para as hienas e os chacais estão na outra margem do pequeno rio que atravessa o parque. Para os ver, os visitantes têm que atravessar uma ponte. No outro lado do rio ainda falta construir e reparar muita coisa. A hiena decerto que agradeceria uma casa nova: a sua jaula é minúscula. Anda em círculos com um ar perdido e agitado.
Foto: DW/T. Mösch
Novos animais para assegurar o futuro
As avestruzes têm um recinto grande, para o qual vieram há pouco tempo. Pertenciam ao governador Kashim Shettima, que os ofereceu ao zoológico. Um gesto que o diretor Lawal agradece e diz que espera conseguir obter mais animais da savana, como zebras e girafas. Talvez o Quénia possa voltar a ajudar, acrescenta: "Brevemente iremos contactar as autoridades em Nairobi."
Foto: DW/T. Mösch
Babuínos no meio de detritos plásticos
Um dos maiores desafios para a administração são os visitantes que desrespeitam as regras. Há pessoas que acham graça atirar garrafas de plástico ou sacos de plástico com água aos babuínos. O lixo fica no recinto. Já em 2014 os peritos se queixavam do mau comportamento dos visitantes. Pelo menos o jardim deixou de ser ponto de encontro para traficantes de drogas e prostitutas e os seus clientes.
Foto: DW/Thomas Mösch
Uma cidade que anseia pela paz
O jardim zoológico fica numa estrada principal que leva ao centro da cidade. Os visitantes no parque estão longe da azáfama que reina lá fora. A vida em Maiduguri regressa lentamente à normalidade. Têm ocorrido alguns ataques suicidas nos arredores. Servem para lembrar às pessoas em Maiduguri que a liberdade ainda está longe de ser um dado adquirido.