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Manifestação em São Tomé contra Governo de Trovoada

9 de janeiro de 2018

Milhares de pessoas manifestaram-se em São Tomé contra o Governo do primeiro-ministro Patrice Trovoada, em resposta a uma convocatória conjunta da oposição.

Proteste gegen Regierung - São Tomé und Príncipe
Foto: DW/R.Graça

Em três anos de Governo do partido Ação Democrática Independente (ADI), a manifestação desta terça-feira (09.01.) foi a mais participada contra o que a oposição alega serem tentativas do primeiro-ministro Patrice Trovoada de implantar uma ditadura no país.

A organização da manifestação foi assumida por todos os partidos da oposição, com e sem assento parlamentar, e considerada como "uma demonstração de convergência e de unidade de ação".

Os manifestantes convergiram para o campo de futebol do Riboque, o bairro mais popular da capital são-tomense, e percorreram as artérias centrais da cidade, para se concentrarem, primeiro diante do palácio presidencial, onde empunharam cartazes com palavras de ordem contra o governo, o Presidente da República, Evaristo Carvalho, o plano de instalação do Tribunal Constitucional e, sobretudo, contra o primeiro-ministro Patrice Trovoada.

Decisão governamental impopular

"Abaixo a nova Hora de Patrice Trovoada" foi um dos cartazes mais expressivo, destacando a impopularidade da recente decisão governamental que decretou o avanço dos relógios em uma hora.

Outros cartazes tinham escrito "Democracia Sim, Ditadura Não", "Abaixo Tribunal Constitucional do ADI" e "não Queremos Presidente Assina Só", este último numa alusão ao que é interpretado pela oposição como uma atitude de submissão do Presidente da República à vontade do primeiro-ministro.

No palácio presidencial, uma representação composta por representantes de todos os partidos da oposição entregou um "Manifesto de Repudio e Indignação".

Foto: DW/R.Graça

Excesso de autoritarismo

No documento, os partidos exprimem a sua "total indignação e protesto" contra o que classificam como "excessos de autoritarismo, abuso de poder e frequentes violações da Constituição da república", numa referência à recente decisão do chefe de Estado de promulgar a lei orgânica que cria o Tribunal Constitucional, quando o diploma se encontra no Tribunal Constitucional para fiscalização de constitucionalidade.

Depois do palácio presidencial, os manifestantes dirigiram-se à sede dos tribunais à volta da qual montaram um cordão humano em solidariedade para com o juiz presidente Silva Gomes Cravid que declarou "nula e inexistente" a promulgação presidencial.

A manifestação terminou nas proximidades do palácio do governo com declarações políticas de representantes de todas as forças políticas envolvidas na sua organização.

O objetivo era uma concentração no jardim frontal ao palácio do governo, mas um forte cordão policial e de agente de segurança impôs uma distância de alguns metros.

São-tomenses nas ruas contra o Governo

00:52

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Atos para desmobilizar manifestantes

Falando à multidão, uma das figuras mais carismáticas do principal partido da oposição, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe -- Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) e ex-ministra da defesa, Elsa Pinto, denunciou alegados atos do governo nas últimas horas para desmobilizar os manifestantes, nomeadamente a distribuição do arroz e de dinheiro.

O líder do Partido da Convergência Democrática (PCD), Arlindo Carvalho, disse que a manifestação marca o início de uma série contínua de ações de mobilização popular contra o governo.

"Quem tem medo fica em casa, mas nós vamos continuar", disse Arlindo Carvalho, criticando o novo horário e acusando Patrice Trovoada de estar "sintonizado com a sua hora biológica que é a hora do Gabão".

"Mas nós e as crianças que agora têm que acordar de madrugada não estão", acrescentou.

Amilton Vaz, uma presença destacada por se tratar de um antigo apoiante firme da ADI, criticou duramente o primeiro-ministro Patrice Trovoada, a quem acusou de "tentar implantar uma ditadura no país". 

Reportagem da manifestação em São Tomé

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Contramanifestação não aconteceu

Embora tenha sido anunciada uma contramanifestação da ADI, não houve qualquer sinal da mesma.

Os últimos dias foram caracterizados por um clima tenso, com declarações do primeiro-ministro, guerras de palavras nas redes sociais e uma intensa mobilização do partido do governo para frustrar a realização da manifestação.

Rafael Branco, ex-primeiro-ministro do MLSTP-PSD, considera que a manifestação "foi um grande sucesso" e que "foi um indicador de que a população está a perder o medo".

Aliás, "contra o medo instalado" foi uma das palavras de ordem da manifestação, que decorreu sem incidentes e em ambiente de festa, com uma banda musical a acompanhar o cortejo durante todo o seu trajeto.

O ato de protesto terminou com muitos temas emblemáticos do cancioneiro da resistência anticolonial. 

 

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