Vida regressa à normalidade em Mocímboa da Praia, enquanto autoridades continuam a averiguar a origem dos ataques a três postos de polícia em Cabo Delgado.
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As ruas que há uma semana estavam desertas devido a confrontos armados, encheram-se esta quinta-feira (12.10.) com milhares de pessoas numa marcha pela paz na vila de Mocímboa da Praia, norte de Moçambique.
A vida voltou à normalidade, lojas, serviços e instituições públicas reabriram, enquanto as autoridades continuam a averiguar a origem do grupo armado de 30 elementos que na madrugada de 05 de outubro abriu fogo sobre postos de polícia da localidade costeira e arredores, na província de Cabo Delgado.
Dos tiroteios que se prolongaram por mais de 24 horas resultaram 17 mortos - 14 atacantes, dois polícias e um civil, de acordo com dados da Polícia da República de Moçambique (PRM) - e um número indeterminado de feridos.
A PRM anunciou na terça-feira (10.10.) que tinha detido 52 pessoas relacionadas com o ataque, mas fonte policial disse à agência de notícias Lusa em Mocímboa da Praia que parte deles já tinha sido libertada após averiguações.A marcha de hoje fez com que a principal avenida da vila se transformasse num mar de gente até ao recinto da Escola Primária Completa 30 de junho, palco de uma cerimónia final que juntou líderes de diferentes religiões (igreja Católica, evangélicos e Islão) e em que todos discursaram em defesa da paz.
Visão radical da religião
O grupo armado que há uma semana ameaçou a vila usava vestes e gritava expressões de índole islâmica e incluía membros de um grupo de Mocímboa da Praia que defendia uma visão radical da religião.
Um Islão "que não existe", destacou o administrador do distrito, Rodrigo Puruque, ele próprio muçulmano, como a maioria da população, e que acusa "os bandidos" de usaram a religião como capa, para traírem "os seus irmãos".
A mesquita que os atacantes ocupavam num bairro de Mocímboa da Praia esteve vazia esta quinta-feira e Puruque quer acabar também com a burca integral. "Ninguém pode tapar a cara", referiu no discurso. Ao mesmo tempo, pedia para ninguém renunciar a outros traços de identidade por receio de ser confundido com um atacante da vila. "Eu não vou deixar de usar a minha barba", concluiu.
Apesar da multidão que se juntou em Mocímboa da Praia, há residentes que continuam escondidos no mato, para onde fugiram, abandonando as casas, na sequência dos tiroteios, disse à Lusa uma fonte local.
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.