Milhares protestam contra cimeira do G20 em Hamburgo
Lusa | Reuters | Jenny Witt | mjp
2 de julho de 2017
A menos de uma semana do início do encontro na cidade alemã, saiu à rua a primeira grande manifestação contra as políticas ambientais, o capitalismo e os conflitos globais.
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Milhares de pessoas protestaram em Hamburgo contra a cimeira do G20, que decorre entre 7 e 8 de julho na cidade alemã, segundo dados da polícia e da organização da manifestação.
Cerca de 8 mil manifestantes concentraram-se em frente à Câmara Municipal, onde várias pessoas tomaram a palavra para reclamar "uma outra política", apelar ao respeito pelo ambiente ou criticar o Presidente norte-americano, Donald Trump. Alguns dos manifestantes atravessaram o Alster, o rio que banha a cidade, em canoas e em pequenas embarcações.
Ativistas da organização ambientalista Greenpeace manifestaram-se no porto, diante de um cargueiro carregado de carvão, para exigir o fim da utilização deste combustível fóssil na produção de eletricidade.
Ao longo da próxima semana são esperadas 30 manifestações, com mais de 100 mil participantes, contra a cimeira do grupo de 19 países mais ricos e a União Europeia. Cerca de 15 mil polícias foram destacados para garantir a segurança da reunião magna, aos quais se vão juntar outros 3 mil e 800 agentes para vigiar o aeroporto e os comboios.
Na cimeira do G20, estarão presentes vários chefes de Estado e de Governo, como o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin.
Não à violência
Este domingo, o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, deixou o aviso: a violência não será tolerada na cimeira do G20. No primeiro dia de uma semana de protestos contra o encontro dos líderes mundiais em Hamburgo, "a indicação é clara: protestos pacíficos, sim, protestos violentos, não”, disse o dirigente ao jornal alemão Bild am Sonntag. "A violência, não importa de quem, tem de ser travada desde o início”.
Os organizadores – a Greenpeace, a Oxfam e várias ONG – rejeitam veementemente os protestos violentos. Svenja Angenendt, porta-voz do movimento „Onda de Protesto", em Hamburgo, afirma que os manifestantes vão usar a cimeira do G20 como plataforma para insistir na necessidade de mudança política: "Queremos o reforço da democracia, uma melhor proteção do ambiente, justiça social na Alemanha e no mundo e exigimos um sistema de comércio global justo”.
Temendo a insegurança, o movimento decidiu protestar antes do início da cimeira, a 7 de julho. As 15 organizações pretendem também que os políticos ouçam a sua mensagem a tempo. "Há o risco de a violência dominar os títulos dos jornais. Foi por isso que decidimos protestar uma semana antes – antes que Hamburgo se torne uma zona de alta segurança”, explica Angenendt.
Debater o desenvolvimento sustentável
Em comunicado divulgado este domingo, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que quer discutir com os líderes mundiais reunidos em Hamburgo temas como o desenvolvimento sustentável, a justiça laboral e a proteção do ambiente.
Merkel sublinhou a importância de um mundo "multipolar, com muitos centros e estratégais de desenvolvimento diferentes”, lembrando que os países industrializados do mundo ocidental podem não ser necessariamente modelos para outras regiões do mundo.
A cimeira do G20, diz a chanceler alemã, "não é apenas sobre crescimento, mas sim crescimento sustentável”, do qual todos beneficiariam, com melhores acordos de proteção do clima e de trocas comerciais, respeitando normas sociais e ambientais.
Lago Tanganica: um grande lago em perigo
Um grupo ambientalista alemão elegeu o Lago Tanganica como "o lago em perigo de 2017". Faz parte dos Grandes Lagos e é partilhado pela Tanzânia, República Democrático da Congo, Burundi e Zâmbia.
Foto: NASA
Lago Tanganica
A Global Nature Fund, uma ONG com sede na Alemanha, nomeou o Lago Tanganica, localizado na África Central, como o "Lago Ameaçado de 2017". Em conjunto com parceiros locais, esta organização pretende alertar para a necessidade da adoção de medidas que levem à preservação deste lago, partilhado por quarto países africanos, nomeadamente, República Democrática do Congo, Tanzânia, Zâmbia e Burundi.
Foto: picture alliance/dpa/C. Frentzen
Poluição – uma das muitas ameaças
Poluição, sobre-exploração e sedimentação são alguns dos problemas que ameaçam a diversidade de espécies neste vasto lago africano. Resíduos industriais e domésticos, provenientes das cidades e aldeias localizadas no litoral, são descarregados nesta água. Também os "ferry" e os pescadores, que utilizam óleo para os geradores e para as luzes de pesca noturna, poluem o lago.
O Lago Tanganica possui 1.470 metros de profundidade, o que faz dele o segundo lago mais profundo do mundo. É também o segundo maior lago de água doce em volume. Só aqui estão aglomerados quase 17% dos recursos de água doce não congelada existentes no planeta. Milhões de pessoas dependem do lago para o seu sustento.
Foto: SeaWiFS Project
Crescimento da população aumenta pressão
O crescimento da população no Burundi, na República Democrática do Congo, na Tanzânia e na Zâmbia tem aumentado a pressão sobre os recursos do Lago Tanganica. Um milhão de pessoas vive na bacia deste reservatório e depende da pesca: cerca de cem mil são pescadores. Quanto maior a população, mais bocas são necessárias alimentar.
Foto: Getty Images/AFP/J. Cendon
Famoso pela biodiversidade
Crocodilos do Nilo, garoupas gigantes, medusas de água doce e enguias são apenas alguns dos exemplos da biodiversidade do Lago Tanganica. No total, possui mais de 1.500 espécies de plantas e animais, das quais 40% não podem ser encontradas em qualquer outra parte da Terra.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Pesca excessiva
Os recursos naturais do Lago Tanganica estão a ser explorados em demasia. A pesca excessiva no lago levou a uma dramática redução nas capturas. Entre 1995 e 2011, o número de pescadores quadruplicou, enquanto o número total de peixes diminuiu cerca de um quarto. A quantidade de peixe capturada, por ano, por cada pescador individualmente desceu 81% no mesmo período de tempo.
Foto: Brent Stirton/Getty Images for WWF-Canon
Os desafios ambientais
Pius Yanda, professor especialista em alteracões climáticas da Universidade de Dar Es Salaam, na Tanzânia, entende que é importante que se discuta sobre como se deve responder às ameaças à integridade ecológica do lago. "Se as pessoas participarem ativamente no processo de discussão sobre as ameaças ambientais que o lago enfrenta será melhor", afirma.
Foto: Imago
Alterações climáticas
Em 2016, um estudo da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, mostrou que a escassez de pescado no lago não se deve apenas à pesca excessiva, mas também às alterações climáticas. O aumento da temperatura da água, registado desde 1800, está a contribuir também para o declínio das algas, o principal alimento dos peixes.