Simpatizantes e membros da RENAMO acreditam que o arranque do processo de desmilitarização já está a apaziguar os ânimos no partido, semanas depois de guerrilheiros terem ameaçado destituir o líder Ossufo Momade.
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Para os simpatizantes e membros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), havia poucas esperanças sobre o destino do principal partido da oposição neste período eleitoral. Sentiam-se desmotivados a participar ativamente na campanha, após as ameaças de um grupo de guerrilheiros que publicamente exigiram a destituição do líder Ossufo Momade e ameaçaram-no de morte.
Agora, alguns membros da RENAMO e candidatos à assembleia provincial da Zambézia dizem que o processo de desmilitarização, que arrancou na última segunda-feira na Serra da Gorongosa, acabou com esse medo.
Militantes da RENAMO aplaudem desmilitarização: "Medo já está dissipado"
"Estou muito feliz", confessa Costa Amado em entrevista à DW África. "Estávamos um pouco constrangidos, mas assistimos ao início do registo de homens da RENAMO [no processo de desarmamento, desmobilização e reintegração]. Ajudou-nos bastante porque vai dissipar alguns equívocos", sublinha ainda o membro da RENAMO.
Fernando Pequenino, outro membro do partido, comenta que "o que aconteceu com aqueles militares são coisas da vida. Agora, salienta, "o medo já está dissipado desde segunda-feira. Vimos o presidente Momade a dirigir pessoalmente o processo, significa que o que era dito [sobre ele] não é verdade."
Questões tribais e dividendos
O analista político Lourindo Verde considera que o conflito interno na RENAMO é um processo natural. "A RENAMO está num processo transitório após Afonso Dhlakama, que foi um líder que dirigiu o partido durante muito tempo. É normal que a RENAMO esteja numa perturbação, pois estamos a falar de num processo de sucessão que é caracterizado por clivagens", lembra.
Por isso, diz o analista, "há a hipótese de que os militantes não se identificaram com este novo líder porque é um líder com características tribais, com as quais que eles não estavam habituados porque desde que a RENAMO foi fundada foi dirigida pela tribo do centro." Agora, os militares da RENAMO estão confrontados com um líder que é do norte do país.
Por outro lado, acrescenta Lourindo Verde, "também há uma questão de dividendos, pois a desmilitarização prevê pagamentos [aos homens que vão ser reintegrados]. Pode ser que não haja clareza de como está a ser dirigida esta questão."
Os cidadãos apelam à liderança da RENAMO e ao Governo para que os acordos que estão a ser firmados sejam mantidos. "No passado, esse acordo já dizia de que os homens residuais da RENAMO deviam ser reintegrados nas Forças de Defesa e Segurança, mas depois isso não aconteceu. Tenho a certeza de que isso originou o conflito de novo e desestabilizou o país. Esperamos que isso não venha a acontecer novamente", diz o cidadão Liberalto Duarte.
Para Dionísio Graciano, também membro da sociedade civil, a RENAMO deve-se pautar pela comunicação. "Se a comunicação for perturbada, isso traz consequências que hoje estamos a viver na RENAMO. Vamos gozar desta paz de forma pacífica e honesta", apela.
Entretanto, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou esta quarta-feira (31.07) na Assembleia da República que vai assinar na quinta-feira (01.08) o acordo de paz para a cessação definitiva das hostilidades militares com o líder da RENAMO, Ossufo Momade, na serra da Gorongosa. O acordo prevê o fim formal dos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e o braço armado do principal partido da oposição.
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.