Trabalhadores da Sociedade Mineira de Angola em Calonda reivindicam condições de trabalho e denunciam despedimentos arbitrários. Sindicato acusa autoridades de ignorarem violações da lei do trabalho.
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200 trabalhadores da Sociedade Mineira de Angola, SOMIPA, empresa diamantífera que opera na zona de Calonda, a 23 quilómetros de Lucapa, na província da Lunda Norte, estão em greve desde esta segunda-feira (13.02). Denunciam despedimentos arbitrários e falta de condições de trabalho tal como máscaras de proteção, botas e pás escavadoras, entre outras.
O Sindicato Geológico e Mineiro de Angola (SIGEOMA) descreve a situação como preocupante, acusando os gestores das minas de ignorarem a Lei Geral do Trabalho, bem como a Constituição da República de Angola.
O secretário-geral do SIGEOMA, Carlos Samuel, afirma que os despedimentos têm sido constantes. Por isso, adianta, "em função da declaração da greve que já existia, os trabalhadores aproveitaram para iniciar a greve em protesto pelo despedimento injusto de sete colegas". Ao mesmo tempo, acrescenta Samuel, os mineiros protestam contra "o não cumprimento do acordo saído das negociações fruto do caderno reivindicativo entregue no dia 4 de abril do ano passado".
"Há uma série de pontos acordados que a empresa não cumpriu. Os trabalhadores sentiram-se na obrigação de declarar a greve, acionando o ponto 1 do artigo 51 da Constituição da República", adianta.
Autoridades em silêncio
14.02 Mineiros em greve - MP3-Mono
Segundo o secretário-geral do SIGEOMA, para além das reivindicações entregues em abril de 2016 ao presidente do Conselho de Administração da SOMIPA, Sociedade Mineira de Angola, foram endereçadas cartas ao Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social e ao governo provincial, a quem os trabalhadores pediram audiências que aguardam há mais de um ano.
Carlos Samuel acusa as autoridades de assistirem em silêncio às práticas dos gestores das minas que, segundo o sindicato, "contrariam a disposição contida na Lei Geral do Trabalho de 15 de junho".
"A Inspeção Geral do trabalho anda a ver navios porque há tanta violação", afirma o líder sindicalista. "Temos muitas denúncias e, mesmo assim, eles não ligam. Mesmo o governador provincial ou a inspeção provincial. É assim, sob o olhar silencioso do próprio governo provincial e do próprio ministro do Trabalho".
Despedimentos arbitrários
De acordo com o secretário-geral do SIGEOMA, estima-se que mais de dois mil e quinhentos funcionários das minas tenham sido despedidos de forma injusta nos últimos três anos. Carlos Samuel diz que os despedimentos são diários. "Parece que a Lunda Sul e a Lunda Norte têm uma outra Constituição", diz o sindicalista.
Carlos Samuel afirma ainda que "porque [os trabalhadores] compraram um carro ou uma casa suspeitam que roubaram diamantes". "Até um advogado da empresa de Catoca me disse que a Constituição da República de Angola para o projecto Catoca não funciona".
O secretário-geral do SIGEOMA afirma que os casos estão nos tribunais, "há muitos anos, mas nunca se resolvem".
A DW África tentou, sem sucesso, obter esclarecimentos por parte do Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Mineira de Angola - SOMIPA bem como do governo provincial da Lunda Norte.
O tesouro da Guiné-Conacri: As minas de bauxite
Com as maiores reservas de bauxite do mundo, a Guiné-Conacri continua sem indústria para transformá-la em alumínio. E enquanto a sua exportação enche os cofres do Estado, a maioria da população vive no limiar da pobreza.
Foto: DW/Bob Barry
Uma riqueza explosiva
As explosões acontecem diariamente nas minas de Débélé. Os trabalhadores dinamitam a pedreira por causa da bauxite, a principal matéria-prima para a produção de alumínio. A Guiné-Conacri tem os maiores jazidos de bauxite do mundo.
Foto: DW/Bob Barry
Extração de acordo com métodos tradicionais
Quando o fumo se dissipa, a bauxite é transportada. O procedimento é o mesmo há décadas: as escavadoras carregam os camiões, que transportam as rochas para a fábrica ali perto. É lá que as pedras são esmagadas. Um processo árduo e demorado.
Foto: DW/Bob Barry
Máquinas em vez de trabalhadores
No entanto, existe uma maneira mais fácil: nas minas a céu aberto, as escavadoras realizam várias operações ao mesmo tempo. Recolhem pedras do chão, esmagam-nas e carregam-nas para um camião. Uma escavadora substitui 300 trabalhadores, criticam os sindicatos.
Foto: DW/Bob Barry
Especialistas em tecnologia
As escavadoras foram compradas pelo grupo de mineração russo Rusal a uma empresa alemã. Quando as máquinas por vezes se avariam, o engenheiro-chefe é chamado. Ele e a sua equipa receberam formação na Alemanha para reparar estas escavadoras especiais.
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Região rica em recursos naturais
As minas a céu aberto estão localizadas em Débélé, na região de Kindia. A bauxite é extraída aqui, no oeste do país, desde 1972. As pessoas vivem com e das minas.
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Nas mãos dos russos
Os russos já estão no país há mais de 20 anos. Atualmente, o grupo Rusal, de Moscovo, explora as minas de Débélé. Trabalham aqui cerca de 1.200 pessoas. A maioria vive na cidade de Kindia, que fica a cerca de 50 quilómetros de distância.
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Um pequeno país com grandes reservas
As reservas de bauxite da Guiné-Conacri estão estimadas em dez mil milhões de toneladas. Nenhum país no mundo é tão rico nesta matéria-prima como este pequeno país do oeste africano. O país exporta grandes quantidades de bauxite, enchendo, desta forma, os cofres do Estado.
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A população continua pobre
Ainda assim, a maioria da população vive com menos de um dólar por dia. Os lucros provenientes do produto final, o alumínio, ficam no estrangeiro. Devido à corrupção, a instabilidade política e a falta de energia elétrica, a Guiné-Conacri nunca conseguiu construir a sua própria indústria, que transforma a matéria-prima bauxite em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
País de destino: Ucrânia
No final do dia, nas minas de Débélé, a bauxite está pronta para exportação. Aqui em Débélé, a Rusal extrai cerca de 3,5 milhões de toneladas da matéria-prima por ano da preciosa terra. A bauxite é depois processada, principalmente na Ucrânia. Aí, numa operação que consome muita energia elétrica, a matéria-prima é transformada em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
Dependentes do mercado mundial
A bauxite é transportada de comboio para o porto de Conacri, de onde sairá de navio. De cinco toneladas de bauxite obtém-se aproximadamente uma tonelada de alumínio, que no mercado mundial vale cerca de 2.000 dólares.