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Mineiros sem esperança na República Democrática do Congo

Kossivi Tiassou
2 de dezembro de 2018

O cobalto e outros minérios da RDC estão presentes em telemóveis e automóveis em todo o mundo. Os mineiros da província de Katanga vivem, no entanto, na pobreza extrema e muitos colocam vida em risco.

Foto: DW/J. van Loon

Kipushi, uma pequena cidade no sudoeste da República Democrática do Congo. A região já foi o coração da economia congolesa. Ainda hoje, são extraídos aqui ouro, cobre, zinco e cobalto. Durante décadas, a empresa estatal Gécamines operou estas minas, mas está em declínio e há muito que virou as costas à cidade.

Paulin, de sete anos, está sentado ao lado da mãe, Prisca, numa mina a céu aberto perto do centro da cidade, que se estende por mais de doze hectares. Prisca parte pedras na esperança de encontrar cobalto. Mãe e filho estão cobertos de pó. Pedras, pó, um sol abrasador e a atitude rude dos mineiros – este é o mundo de Paulin. Mais do que tudo, a mãe gostaria de poder dar-lhe uma educação.

Mineiros sem esperança na República Democrática do Congo

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"A vida tornou-se difícil. Temos de fazer este trabalho para pagar a escola dos nossos flihos, mas muitas vezes não conseguimos. O trabalho é cansativo. Num dia bom, levo 5 mil francos congoleses [cerca de três euros] para casa. Mas não é a regra. Nem sempre consigo vender alguma coisa", diz Prisca.

O irmão mais novo de Paulin, Jeannot, sai de um túnel carregando uma bolsa. No interior, areia misturada com pedras escuras – provavelmente cobalto. Os filhos de Prisca acompanham a mãe todos os dias ao nascer do sol na esperança de encontrarem os preciosos minerais. Nenhuma das crianças vai à escola. A história é semelhante à de milhares de outras crianças e famílias que trabalham nas minas.

Doenças

Gécamines, a antiga gigante do sector mineiro congolês, luta há mais de quinze anos pela sobrevivência. Vários Governos saquearam a empresa. E raramente os lucros foram investidos na preservação das minas. Muitas estão agora nas mãos de empresas estrangeiras. Não em Kipushi. Aqui, a extração faz-se de forma artesanal. E impera a lei do mais forte.

Em tempos, a empresa foi a maior empregadora na província mineira de Katanga, com mais de 33 mil funcionários, nomeadamente em Kipushi, durante os anos 1980. Restam apenas memórias desse tempo, diz o ativista e empresário Alain Mwabenu.

"Era uma cidade com casas, todas da Gécamines, com centros recreativos, instalações desportivas, escolas e hospitais. Eu nem sabia que havia escolas em que era preciso pagar. Para o meu pai, tudo era de graça, até o papel higiénico. Com a queda da empresa, esse paternalismo virou para a direcção oposta", afirma.

Rotina de trabalho em Kipushi é árduaFoto: DW/K. Tiassou

Hoje, restam apenas memórias. Há muito que Prisca perdeu o seu marido. E ela própria está doente. "O número de infecções aumentou muito. Se eu fosse hoje ao médico, mandavam-me para casa com uma infecção urinária. No hospital, disseram-nos para não trabalharmos mais aqui. Mas não temos escolha. Por isso, já não vamos lá. Muitos previnem-se com antibióticos. E as mães dão à luz bebés doentes", conta.

É uma questão de vida ou morte. "É uma tragédia. Não ganhamos quase nada. Por causa do colapso da Gécamines, trabalhamos por conta própria nas minas, com as nossas mulheres e filhos. Todas as semanas enterramos familiares e antigos trabalhadores da Gécamines. Sem o equipamento necessário, estamos à mercê de doenças. Mas não há alternativas. Se não trabalharmos nas minas, morremos de fome. Tudo morreu aqui por causa da Gécamines", diz outro trabalhador.

Poucas pessoas sabem disto aqui: estudos feitos aos minérios em Kipushi revelaram vestígios de urânio, um material radioactivo ao qual os trabalhadores da mina a céu aberto poderão estar expostos diariamente.

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