Zambézia: Mineradora culpa empreiteiro por paragem de obras
Marcelino Mueia
3 de agosto de 2022
A população de Inhassunge, na Zambézia, está indignada com a empresa chinesa que explora areias pesadas na região. Uma das promessas foi reabilitar e construir infraestruturas. Mas esses projetos ainda são uma miragem.
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É um problema que se arrasta há três meses. As obras de melhoramento das estradas e pontes prometidas à população de Inhassunge, na província moçambicana da Zambézia, estão paradas. O empreiteiro terá abandonado os trabalhos.
Vários residentes mostram-se indignados. Em declarações à DW, alertam que há pessoas que estão a morrer por causa das dificuldades em transportar doentes graves para o hospital.
Américo Mendes, residente na ilha de Olinda, em Inhassunge, pede ajuda urgente: "Estamos a sofrer aqui, queremos que o Governo arranje formas de nos ajudar. Muita gente, mães grávidas passam por aqui".
Os populares culpam a Africa Great Wall Mining Company pelo que está a acontecer.
Desde 2014 que a empresa explora areias pesadas em Inhassunge, principalmente na ilha de Olinda. Em troca da exploração, uma das promessas era reabilitar o pavimento e construir pontes melhoradas na via principal da localidade de Chirimane.
Empresa culpa empreiteiro
Em conferência de imprensa na terça-feira (02.08), o porta-voz da empresa, Carlos Mico, disse que a culpa pela interrupção das obras é do empreiteiro que abandonou o projeto.
Mico diz ainda que a concessionária chinesa precisa de apoio governamental para fazer cumprir os contratos, e garante que empresa fez a sua parte.
"O contrato foi de dois milhões de meticais [mais de 30 milhões de euros], foi pago mais da metade, 67,5 por cento do valor. Sempre que tentámos solicitar para sabermos, dar-nos o cronograma de quando vai terminar, sempre diz que vai nos enviar e até agora ainda não temos uma resposta por parte do empreiteiro", disse.
Segundo o porta-voz da Africa Great Wall Mining Company, as obras de reabilitação de cinco quilómetros de estrada e pontes começaram em novembro passado, e deveriam ter demorado apenas dois meses.
A DW não conseguiu falar com o empreiteiro acusado de abandono.
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Empreiteiro acusado em parte incerta
No entanto, Jorge Manjawira, um dos encarregados pela reabilitação das estradas em Inhassunge no âmbito da exploração de areias pesadas, diz que a culpa do que está a acontecer não será apenas do empreiteiro.
O problema é do empreiteiro e da empresa chinesa - o empreiteiro não aparece, diz que está a negociar com a China para a receção de valores para pagar aos trabalhadores sazonais. Desde o dia 27 de novembro passado até agora, não recebemos", disse.
Em 2017 e 2018, a falta de entendimento em relação aos reassentamentos, por causa da exploração de areias pesadas, levou a população a rebelar-se contra a empresa e a Força de Intervenção Rápida.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.