Ministro alemão defende fundo humanitário permanente
Reuters | DPA | tms
10 de junho de 2017
O ministro do Desenvolvimento, Gerd Müller, cita a fome em África para defender criação de fundo permanente pelas Nações Unidas. Alemanha está a reforçar apoio aos países africanos por meio de parcerias no âmbito do G20.
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O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, citou a fome no leste africano para defender a criação de um fundo humanitário permanente pelas Nações Unidas. O fundo seria no valor de 10 mil milhões de euros, com contribuições baseadas na capacidade financeira de cada país.
"A catástrofe já está sobre nós", disse Müller em uma entrevista ao jornal alemão Passauer Neue Presse, publicada este sábado (10.06). O ministro destacou as condições terríveis pelas quais países como o Quénia, a Somália, o Sudão do Sul e a Etiópia estão a passar por causa da fome.
Gerd Müller disse que as Nações Unidas estimaram que as necessidades financeiras na África Oriental podem chegar até cinco mil milhões de dólares.
A criação de um fundo que seria continuamente reabastecido tornaria mais fácil responder a crises humanitárias recorrentes, disse ele. "Precisamos cumprir isto como uma comunidade mundial", acrescentou.
O problema da fome
A Etiópia, por exemplo, ficará sem ajuda alimentar de emergência para 7,8 milhões de pessoas atingidas por uma seca grave até o final deste mês, disseram o Governo etíope e grupos humanitários.
As Nações Unidas declararam em março que mais de 20 milhões de pessoas correm o risco de morrer de fome por causa da seca e do conflito no Iémen, na Somália, no Sudão do Sul e no nordeste da Nigéria, enquanto mais de 100 milhões enfrentam desnutrição aguda em todo o mundo.
A fome foi declarada em algumas regiões do Sudão do Sul em fevereiro – a primeira fome oficial em seis anos.
Cinco países – Costa do Marfim, Marrocos, Ruanda, Senegal e Tunísia – já se inscreveram para acordos de parceria reforçada com os países do G20 no âmbito de um novo programa para receber investimentos privados dos países industrializados.
O programa se concentra em encontrar investidores privados em áreas como produção de energia, agricultura e turismo. Gana e Etiópia manifestaram interesse em tais parcerias, de acordo com autoridades alemãs.
A Alemanha – que recebeu mais de um milhão de migrantes nos últimos dois anos – está pressionando os países industrializados a trabalhar para evitar outra crise de refugiados, tendo em vista os crescentes desafios económicos e climáticos em África.
Jejum voluntário na Etiópia, país assolado pela fome
A Etiópia é um dos países mais religiosos do mundo. Os cristãos ortodoxos jejuam sete vezes por ano e até usam tatuagens religiosas. Numa nação politicamente conturbada, as pessoas estão "rezando mais do que nunca".
Foto: DW/J. Jeffrey
Sete períodos de jejum
Durante a Quaresma, período de preparação para a Páscoa, os cristãos ortodoxos etíopes jejuam por 55 dias consecutivos (católicos jejuam por 40 dias). Ao longo do ano há sete períodos designados de jejum. Os mais fervorosos jejuam por cerca de 165 a 250 dias. Isso inclui abstenção de todos os produtos animais – carne, laticínios e ovos – todas as quartas e sextas-feiras.
Foto: DW/J. Jeffrey
Regras rígidas
Cinzas são preparadas em uma igreja em Gonder para marcar cruzes nas testas dos fiéis. Além da proibição de produtos de origem animal para o jejum atual de 55 dias, os cristãos ortodoxos da Etiópia não podem comer ou beber nada até às 15 horas. Alguns param de escovar os dentes, temendo quebrar o jejum engolindo sangue das gengivas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Fé e espiritualidade
Para os etíopes, a religião e o jejum habitam um reino de fé e espiritualidade que muitos no Ocidente não podem compreender hoje em dia. "A teologia oficial ensina que o jejum é necessário para se aproximar de Deus reprimindo a carne", diz Makonnen, um diácono da Igreja Ortodoxa. "Para ser plenamente humano, você precisa de um equilíbrio entre espírito e corpo".
Foto: DW/J. Jeffrey
Exigências da fé cristã
Algumas restrições de jejum incluem álcool e até mesmo o que pode acontecer dentro do quarto. A doutrina da Igreja não proíbe as relações sexuais durante os jejuns, nem o álcool. Mas os cristãos ortodoxos etíopes voluntariamente aderiram a um teste mais difícil, disse Makonnen. "A teologia popular influencia muito mais fortemente do que a doutrina oficial neste país".
Foto: DW/J. Jeffrey
Sinais externos de observância religiosa
Na região de Amhara, muitos cristãos ortodoxos etíopes são adornados com nikisat, uma forma tradicional de tatuagem. Isto toma frequentemente a forma de cruzes na face, como visto nesta mulher em uma rua de Bahir Dar. A nikisat também é usada nos seios, braços, pernas e para escurecer as gengivas da boca.
Foto: DW/J. Jeffrey
Economia e religiosidade
O impacto do jejum inclui uma grave desaceleração nos negócios para os proprietários de cafés e restaurantes. Mas a Etiópia é um dos países mais religiosos do mundo. Uma pesquisa do Pew Research Center em 2015 descobriu que 98 por cento dos etíopes consideram a religião uma parte muito importante de suas vidas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Símbolos de fé
A maioria dos etíopes usa cruzes ao redor do pescoço, enquanto as imagens da Virgem Maria e Jesus, e as citações da Sagrada Escritura, adornam janelas de táxis e autocarros, ou estão nas paredes das casas das pessoas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Apegar-se à fé
A época de jejum este ano coincidiu com um polémico estado de emergência na Etiópia, que segue um ano de agitação sobre questões como pobreza, desemprego e corrupção. "As pessoas rezam ainda mais e dizem: onde está Deus, esqueceu-se desta terra?", diz um residente de Gonder. "Porque as pessoas não podem protestar, elas estão rezando mais do que nunca".
Foto: DW/J. Jeffrey
Tatuagens religiosas mais modernas
Hoje em dia, jovens etíopes estão se afastando do nikisat, que é visto como antiquado e injusto nas mulheres – geralmente é feito na adolescência –, mas isso não significa que não estejam aderindo às tatuagens religiosas mais modernas, como Haile, de 24 anos, em Bahir Dar.
Foto: DW/J. Jeffrey
No telemóvel
Os etíopes não vêem nada de estranho em usar a tecnologia moderna para refletir sua fé. Jovens ou mais velhos, muitos têm temas religiosos como imagem de fundo dos seus dispositivos móveis.
Foto: DW/J. Jeffrey
Quebrando o jejum
Um prato popular para quebrar o jejum diário é Beuyaineutu. Consiste em injera, o pão esponjoso da Etiópia, coberto com legumes e misturas picantes de feijão e lentilhas.
Foto: DW/J. Jeffrey
A oração nunca tem fim
Uma vez terminado o jejum, os etíopes celebram. A Etiópia tem uma das maiores taxas de consumo de carne per capita em África. Pouco antes de um jejum terminar, os pastores de cabras e ovelhas podem ser vistos dirigindo seus rebanhos ao longo das estradas. Mas mesmo com o fim do jejum, a oração permanece, especialmente nos momentos de necessidade.