Na primeira visita ao continente africano como titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel garante que a Alemanha quer apoiar o país em crise, um ponto-chave da política externa de Berlim.
Publicidade
Foi uma visita relâmpago: o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel, esteve apenas um dia no Mali. Juntamente com o homólogo francês, Jean-Marie Ayrault, visitou a base da força da ONU no país, a MINUSMA, na cidade de Gao, no norte, onde se encontrou com o contingente alemão e francês. Gabriel classificou a situação na região como "uma das maiores crises”, marcada pelo terrorismo e pela fuga da população.
Os dois ministros seguiram depois para a capital, Bamako, onde foram recebidos pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keita.
O Mali está em crise desde a insurgência tuaregue e um golpe militar, há cinco anos. Combatentes extremistas islâmicos ocuparam o norte do país. Com a intervenção das tropas francesas, foram expulsos em 2013. O Governo e vários grupos rebeldes assinaram um acordo de paz e cerca de 11 mil tropas da ONU são responsáveis por garantir a segurança. Mais de 780 destes soldados são alemães.
Ataques todas as semanas
"Todas as semanas há ataques e assaltos a várias instalações”, diz um comandante alemão, descrevendo a situação de violência no norte do Mali, onde os grupos rebeldes, na maioria radicais islâmicos, se recusam a participar no acordo de paz.
Dois dias antes da visita dos chefes da diplomacia alemã e francesa, um soldado francês morreu na região de Douentza, perto da fronteira com o Burkina Faso, num ataque reivindicado por uma nova formação radical islamica que reúne vários grupos do Sahel. Durante a visita, recordaram-se também os diversos ataques contra funcionários da ONU no país.
Ponto-chave da diplomacia alemã
O Mali é um país-chave para a Alemanha. Prova disso é a lista das visitas alemãs ao país: no ano passado, incluiu a chanceler Angela Merkel, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier e o Presidente alemão, Joachim Gauck.
O Mali é um dos países de trânsito para os refugiados a caminho da Europa. "Queremos e precisamos de ajudar”, afirma Sigmar Gabriel. "O Mali é um país de baixos rendimentos, muitos jovens não vêem oportunidades para ficar aqui.”
Fuga para a Europa, criação de melhores condições em África, estabilização dos estados vulneráveis: são as frases que marcam a actual política alemã para África. O elevado número de refugiados africanos fez estremecer a estratégia de Berlim. A chanceler Angela Merkel declarou África o foco da presidência alemã do G20.
Os membros do Governo alemão têm vindo a propor vários conceitos para o desenvolvimento do continente. O ministro do Desenvolvimento, Gerd Müller tem estado a promover o seu "Plano Marshall para África”. O ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, coordena o "Compact for Africa”, um projeto que visa estimular o investimento privado internacional no continente. A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen organizou recentemente uma conferência africana. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel, segue agora o mesmo caminho com a visita ao Mali.
Mais infraestruturas
"Para que haja desenvolvimento, é importante a construção de infraestruturas, mas também a garantia da segurança. Não apenas em torno dos acampamentos mas também na chegada rápida a outras localizações. Por isso, temos de expandir as infraestruturas”, disse Gabriel em declarações aos jornalistas, durante a visita.
O seu homólogo francês também prometeu mais apoio ao Mali: ”Gostaria de dizer umas palavras aos nossos cidadãos da Alemanha e França. Os países africanos precisam de ajuda na implementação dos programas de educação e investimento. África tem um enorme potencial de desenvolvimento com a sua juventude”, afirmou Jean-Marie Ayrault.
No Mali, os progressos estão a ser feitos lentamente, diz o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros: "Os progresso são pequenos e estão a ser feitos passo a passo. Não podemos esperar que um conflito como este seja resolvido num curto espaço de tempo.”
Negociações com radicais islâmicos fora de questão
Ao lado dos chefes das diplomacias alemã e francesa, o ministro maliano para a diáspora e a migração, Abdramane Sylla, afirmou esta sexta-feira, em Bamako, que seria "absurdo” negociar com os radicais islâmicos que reivindicam ataques contra as forças malianas e internacionais.
Na semana passada, uma conferência de paz no Mali terminou com apelos a conversações com os líderes de dois grupos extremistas. "Num momento em que o povo maliano está a discutir a paz, alguém continua a reivindicar ataques. É absurdo negociuar com estes terroristas, especialmente porque acabam de declarar guerra a 11 países”, disse Sylla.
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros concorda: "São terroristas. Como se negoceia com terroristas? Isto é uma luta sem ambiguidade.”
2016 em imagens: O que moveu África?
Entre o terror, a democracia e a imprevisibilidade, o ano no continente africano fica marcado por momentos de viragem. Acompanhe a DW África nesta viagem pelos acontecimentos mais marcantes de 2016.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Terror imprevisível
A África Ocidental ainda recuperava de um ataque a um hotel em Bamako, no Mali, quando os extremistas islâmicos voltaram a atacar: a 15 de janeiro, dezenas de pessoas morreram num atentado da Al Qaida no Magrebe Islâmico num hotel em Ouagadougou, no Burkina Faso. O cenário repete-se em março, com cerca de 20 mortos num ataque à estância balnear de Grand Bassam, na Costa do Marfim (na foto).
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
Reconhecimento do genocídio
Depois de vários anos de indefinição e após a resolução sobre a Arménia no Parlamento alemão, Berlim classifica também como genocídio a morte de dezenas de milhares de pessoas Nama e Herero na Namíbia, no período colonial. Mantêm-se as divergências entre os dois países sobre reparações. As negociações são adiadas para 2017. Na foto: manifestantes na Namíbia lembram os crimes do passado colonial.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Gebert
Todos contra o TPI
Depois do julgamento do Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, o Tribunal Penal Internacional chega a um impasse também no processo contra o seu vice, por falta de provas. Na União Africana, Kenyatta relança a campanha anti-TPI. Com sucesso: o Burundi, a Gâmbia e a África do Sul anunciam que vão abandonar o TPI. No entanto, enquanto forem membros, têm de continuar a cooperar com Haia.
Foto: Getty Images/AFP/M. Beekman
Ex-ditadores não são intocáveis
De Kenyatta, no Quénia, a Al-Bashir, no Sudão: os chefes de Estado são os pesos pesados na mira do TPI. A condenação do ex-ditador do Chade, Hissène Habré (na foto), em maio, lança um aviso a outros ditadores da região. Habré é condenado a prisão perpétua e a decisão parte de um tribunal especial no Senegal, criando-se a estrutura para julgar outros ditadores no futuro, sem depender do TPI.
Foto: picture-alliance/dpa
Herança cultural não deve ser subestimada
Em 2012, extremistas islâmicos destruíram a mesquita de Sidi Yahya, em Tombuctu. Só a restauração da porta demorou cinco meses. Em setembro de 2016, a mesquita é reaberta - um sinal de esperança para o Mali. O julgamento no Tribunal Penal Internacional também serve de aviso: Ahmad Al Mahdi é condenado em outubro a nove anos de prisão pela destruição de património mundial.
Foto: Getty Images/AFP/S. Rieussec
Braços cruzados podem custar vidas na Etiópia
No Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, após cruzar a meta da maratona, o etíope Feyisa Lilesa protesta com os braços cruzados. Na Etiópia, o gesto de oposição ao regime é perigoso. Em outubro, em Bishoftu, a polícia dispersa um protesto e dezenas de pessoas morrem num tumulto. O grupo étnico Oromo diz-se marginalizado pelo Governo da Frente Democrática Revolucionária Popular da Etiópia (EPRDF).
Foto: picture-alliance/AP Photo
"Meninas de Chibok": a persistência compensa
Depois de dois anos e meio de incerteza, os pais de 21 alunas sequestradas em Chibok recebem as suas filhas de volta, em outubro. É o resultado das negociações do Governo da Nigéria com os extremistas islâmicos do Boko Haram. No entanto, quase 200 meninas continuam detidas. O Executivo de Muhammadu Buhari garante que vai libertar as estudantes que permanecem em cativeiro.
Foto: Picture-Alliance/dpa/EPA/STR
#ThisFlag: desafiar o poder
Com o seu movimento #ThisFlag ("Esta Bandeira"), o pastor Evan Mawarire torna-se a cara da contestação popular no Zimbabué. Mas Robert Mugabe anuncia que pretende recandidatar-se à Presidência em 2018 e continua a reprimir protestos. Na República Democrática do Congo, as eleições são adiadas e Joseph Kabila tenta manter-se no poder até 2018, contra a Constituição.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Polémicas não demovem chefes de Estado
É "o Presidente dos escândalos" na África do Sul: acusações de violação e negação do HIV marcam os mandatos de Jacob Zuma, no poder desde 2009, juntamente com a restauração milionária da sua residência com fundos públicos. Mas Zuma mantém-se no poder, mesmo depois da divulgação de um relatório que levanta uma série de suspeitas de ligações entre a Presidência e a influente família indiana Gupta.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Presidenciais surpreendentes
Em Cabo Verde e no Benim, os cidadãos apostam na continuidade. Mas em outros países, como no Gana, vence a oposição: John Mahama aceita a vitória de Nana Akufo-Addo e promete uma transição pacífica. Na Gâmbia, o cenário parece, à partida, semelhante: Adama Barrow (na foto) vence as eleições. Após 22 anos no poder, Yahya Jammeh admite a derrota. Mais tarde, Jammeh recua e rejeita os resultados.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Adeus a Papa Wemba
Com 66 anos, "o rei da rumba congolesa" morre em abril,depois de perder os sentidos num concerto em Abidjan, na Costa do Marfim, tal como Miriam Makeba, oito anos antes. O mundo despede-se de um músico que dizia que não fazia música congolesa ou africana, "apenas música".