Opiniões de juristas não são consensuais. Primeiro-ministro moçambicano remete caso para instâncias competentes, no entanto afirma que “ninguém está acima da lei”.
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O ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Carlos Mesquita, está no centro de uma recente polémica no país depois da sua empresa Transportes Carlos Mesquita, Limitada (TCM), ter sido contratada por ajuste direto para prestação de serviços de carga ao Instituto de Gestão de Calamidades (INGC). Há quem fale em violação da Lei da Probidade Pública - que veda os servidores de Estado de terem relações diretas ou indiretas com a administração pública. A DW África foi ouvir dois juristas sobre o assunto, no entanto, as opiniões são divergentes.
Segundo o jurista moçambicano, José Caldeira, este é um caso de violação da Lei da Probidade Pública, uma vez que esta "estabelece alguns deveres, algumas obrigações e restrições em relação aos servidores públicos e uma delas é que eles não devem ter relações diretas ou indiretas com a administração pública”. O jurista esclarece ainda que, ao abrigo desta lei, há um dispositivo que proíbe que existam contratos dos servidores públicos com o Estado.
"Em geral havendo uma perceção pública de que não estão respeitadas as normas de integridade, os funcionários devem abster-se de fazer contratos com o Estado”, acrescenta.Na perceção de Caldeira, a Procuradoria Geral da República deve desde já começar a investigar o caso. "Existe uma comissão de Ética Pública que também deveria adequar qual é a situação oficial no conflito de interesses”, lembra.
02.03.2017 Caso Carlos Mesquita-Moçambique - MP3-Mono
Já o jurista do Centro de Integridade Pública (CIP), Anastácio Bibiane, é mais cauteloso, defendendo que se deve investigar primeiro. À DW África, este jurista explica que "não se pode logo à priori afirmar que houve conflito de interesses”. "Pode haver, se calhar, mas tem de haver uma investigação feita por uma estrutura que tenha competência para o efeito para ver se houve algum tráfico de influências. Não me parece que haja conflito de interesses”, acrescenta.
Anastácio Bibiane entende que não foi o ministro Carlos Mesquita quem concorreu. "Isto foi no âmbito de um concurso de uma outra entidade onde o ministro não intervém neste processo. Então, é necessário que se investigue para se saber se houve ou não tráfico de influências”.
"Ninguém está acima da lei", diz primeiro-ministro
Confrontado pelos jornalistas numa conferência de imprensa, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, preferiu remeter o assunto para as instâncias competentes. No entanto, o governante afirmou que "ninguém está acima da lei”. "Obviamente que os procedimentos legais serão tomados”, deu conta Carlos Agostinho do Rosário, afirmando preferir "deixar o assunto para instituições que têm competência para o averiguar”.
Em março de 2015, o ministro Carlos Mesquita e mais três acionistas da sua família cederam as ações que tinham na Transportes Carlos Mesquita ao Grupo Mesquita, S.A. Outros quatro sócios também cederam as suas ações a uma empresa denominada Mespar, Limitada.
Sancionar os corruptos
Após a votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção", a ONG Transparência Internacional selecionou e anunciou esta quarta-feira (10.02) os 9 casos que passaram para a "Fase de Sanção Social".
Foto: picture alliance / AP Photo
Isabel dos Santos
Depois da votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção" da Transparência Internacional, 9 casos foram destacados pela organização. A filha mais velha do Presidente angolano não faz parte, apesar dos 1418 votos. Segundo a TI, a seleção dos 9 foi baseada não só nos votos, mas também no impacto nos direitos humanos e na necessidade de destacar o lado menos visível da corrupção.
Foto: Nélio dos Santos
Teodoro Nguema Obiang
Conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, o filho do Presidente da Guiné Equatorial é, desde 2012, o segundo Vice-Presidente da República. A Guiné Equatorial é o país mais rico de África, per capita, apesar do Banco Mundial alegar que mais de 75% da população vive na pobreza. Teodoro somou apenas 82 votos e - como Isabel dos Santos - não foi nomeado para a fase de sanção social.
Foto: DW/R. Graça
Banco Espírito Santo
As suspeitas de corrupção do BES (Banco Espírito Santo) começaram quando o grupo financeiro português entrou em bancarrota em 2014. Foram descobertas fortes evidências de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, já esteve preso e foi recentemente libertado sob fiança. O BES somou 193 votos e também não passou aos 9 maiores casos de grande corrupção do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
Mohamed Hosni Mubarak
Presidente do Egito entre 1981 e 2011, Mohamed Hosni Mubarak somou 207 votos e encontra-se agora preso. Mesmo assim, não aparece na lista dos casos de grande corrupção que a Transparência Internacional quer sancionar socialmente. Também o comércio de jade do Myanmar e a China Communication Construction Company ficaram de fora com 47 e 43 votos, respetivamente.
Foto: picture-alliance/AP
Transparência Internacional
"Unmask the Corrupt" é um projeto da Transparência Internacional que após receber 383 submissões, nomeou os 15 casos mais simbólicos de corrupção. Após receberem mais de 170 mil votos, reduziram os 15 para 9 casos. A Transparency International quer promover uma campanha mundial para aplicar sanções sociais e políticas nestes exemplos de corrupção. A DW África mostra-lhe os 9 casos nomeados.
Estado americano de Delaware
O Estado norte-americano de Delaware está entre os 9 casos mais simbólicos de corrupção. O jornal The New York Times chegou mesmo a apelidar o Estado como "paraíso fiscal corporativo" pela possibilidades que oferece às empresas. Somou 107 votos. "Está na hora da justiça e das pessoas mostrarem o poder das multidões", afirmou em comunicado de imprensa José Ugaz da Transparência Internacional.
Foto: Getty Images/M. Makela
Zine al-Abidine Ben Ali
Com 152 votos está o ex-Presidente da Tunísia, que governou entre 1987 e 2011. É acusado de roubar mais de dois mil milhões de euros à população tunisina e de beneficiar amigos e companheiros a escapar à justiça. É conhecido pelo seu estilo de vida extravagante e saiu do Governo em 2011, na sequência de protestos nas ruas da Tunísia conhecidos como a Revolução de Jasmim ou Primavera Árabe.
Foto: picture-alliance/dpa
Fundação Akhmad Kadyrov
A Fundação Akhmad Kadyrov tem como fim o desenvolvimento social e económico da Chechénia. Mas é acusada de gastar as verbas a entreter e oferecer presentes a estrelas de Hollywood e para o benefício de Ramzan Kadyrov (na foto), presidente da região russa da Chechénia e filho do falecido Akhmad Kadyrov. Segundo a TI, Ramzan Kadyrov usou as verbas para comprar jogadores de futebol. Reuniu 194 votos.
Foto: imago/ITAR-TASS/Y. Afonina
Sistema político do Líbano
Com 606 votos, o sistema político no Líbano, nomeadamante o Governo, as autoridades e as instituições, encontram-se também na lista da Transparência Internacional. Segundo a filial libanesa da TI, a corrupção encontra-se em todos setores sociais e governamentais, existindo "uma cultura de corrupção" no país. Considera o Líbano um país "muito fraco" em termos de integridade.
Foto: picture-alliance/dpa
FIFA - Federação Internacional de Futebol
A Federação Internacional de Futebol, mais conhecida como FIFA, é acusada de ultrajar milhões de fãs. Os respoonsáveis pelos cargos mais elevados são acusados de roubar milhões de euros e estão a ser analisados 81 casos suspeitos de branqueamento de capitais um pouco por todo o mundo. Há suspeitas que várias eleições de países anfitriões de mundiais de futebol foram manipuladaa. Conta 1844 votos.
O senador da República Dominicana conta 9786 votações. Foi acusado de branqueamento de capitais, abuso de poder, prevaricação e enriquecimento ilícito no valor de vários milhões de dólares. Bautista já esteve em tribunal, mas nunca foi considerado culpado, o que originou vários protestos por parte da população dominicana.
Foto: unmaskthecorrupt.org
Ricardo Martinelli e companheiros
É ex-Presidente do Panamá e empresário. Ricardo Martinelli terminou com 10166 votos e possui atualmente uma rede de supermercados no país, entre outras empresas. Está envolvido numa polémica de espionagem política durante o seu mandato entre 2009 e 2014, utilizando alegadamente dinheiros públicos. Tem outras acusações em tribunal, incluindo vários crimes financeiros e subornos e perdões ilegais.
Foto: Getty Images/AFP/J. Ordone
Petrobras
A petrolífera Petrobras, empresa semi-estatal brasileira, ficou em segundo lugar com 11900 votos. As acusações de subornos, comissões e lavagens de dinheiro de mais de dois mil milhões de euros, conduziram, alegadamente, o Brasil a uma profunda crise política. O caso envolve mais de 50 políticos e 18 empresas. A população brasileira já protestou várias vezes nas ruas para exigir justiça.
Foto: picture alliance/CITYPRESS 24
Viktor Yanukovych
O ex-Presidente da Ucrânia foi o mais votado. Acumulou 13210 acusações e é acusado de "deixar escapar" milhões de ativos estatais em mãos privadas e de ter fugido para a Rússia antes de ser acusado de peculato. Yanukovych começou o seu mandato em 2010, foi reeleito em 2012 e cessou as suas funções no ano de 2014, quando foi destituído após vários protestos populares.