CEDEAO em Bissau para fazer cumprir Acordo de Conacri
Braima Darame (Bissau)
17 de janeiro de 2018
Primeiro-ministro exonerado do cargo pelo Presidente da Guiné-Bissau, diz ter cumprido 70% do programado. Aponta que pediu demissão para deixar José Mário Vaz à vontade para encontrar a solução para crise no país.
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Exonerado das funções nesta quarta-feira (17.01) , Umaro Sissoco Embaló disse à DW-África que não guarda "rancores” do Presidente a quem agradece pela confiança depositada na sua pessoa. Mas, lamenta o comportamento do ministro do Interior no desentendimento sobre a direção da secreta guineense.
"Ele que me convidou para ser primeiro-ministro, eu não ganhei as eleições. Não posso sentir mágoa de uma pessoa que me fez bem”, afirma Embaló.
Embaló sublinha que chegou a uma altura em que ele não podia mais continuar :"É o Acordo de Conacri, é o acordo de não sei de quê. Preferi deixar o senhor Presidente da República”.
Umaro Sissoco liderou, durante quinze meses, um Governo que não viu ser aprovado pelo Parlamento o seu programa de governação e Orçamento Geral do Estado, devido as divergências políticas que impediram o normal funcionamento da Casa Parlamentar há dois anos.
70% do programa cumprido
O chefe do Governo que passa a gerir os assuntos correntes do Estado até a tomada de posse do novo executivo, disse que conseguiu resgatar o país no plano internacional, reorganizar as finanças públicas e cumpriu com cerca de 70% daquilo que foi traçado.
"Resgatei a Guiné-Bissau. Desciplinei as finanças públicas. No contexto internacional, as pessoas sentiram a força desta equipa!”, assegurou o primeiro-ministro exonerado.
Embaló lamenta procedimento do ministro do Interior
No dia 05 de janeiro, o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, nomeou um novo responsável dos Serviços de Informação e Segurança (SIS, a 'secreta' guineense) em Conselho de Ministros extraordinário e inteirou-se dos incidentes ocorridos um dia antes, em Bissau.
A nomeação do coronel Alfredo Vaz para o cargo de diretor-geral interino do SIS, foi a principal decisão do Conselho de Ministros, o segundo a ser presidido por José Mário Vaz, e que serviu para analisar o que o Governo considerou de "falha de comunicação" entre o ex - primeiro-ministro, Umaro Sissoco Embaló, e o ministro do Interior, Botche Candé. Na hora de despedida, Umaro Sissoco lamenta o procedimento do ministro do Interior, atual homem "forte" do Presidente.
"Eu lamento muito a situação, porque sei que é uma instituição do Estado. Lamento o que aconteceu. O comportamento do ministro do Interior em relação a secreta. Mas, uma coisa eu sei, o meu pedido de demissão não tem nada a ver com esse assunto”, sublinhou Embaló.
CEDEAO já está em Bissau
Encontra-se em Bissau uma missão da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) para avaliar o processo da implementação do Acordo de Conacri, assinado pelos atores políticos para acabar com a crise político-institucional guineense.
CEDEAO em Bissau para fazer cumprir Acordo de Conacri
A missão interministerial da CEDEAO chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Togo, integra o presidente do Conselho de Ministros da CEDEAO, os chefes da diplomacia do Senegal, da Guiné-Conacri e da Serra-Leoa, bem como o próprio presidente da comissão da CEDEAO, Marcel Alain de Souza.
A delegação que não tem uma agenda oficial, reuniu-se apenas com o Presidente do país, a quem transmitiu a mensagem enviada pelos Chefes de Estados da Sub-região, como disse aos jornalistas o porta-voz, Robert Dussey, igualmente ministro dos Negócios Estrangeiros do Togo.
Até amanhã, quinta-feira (18.01), a delegação da CEDEAO deverá manter encontros com as autoridades e com partidos políticos, para o cumprimento do acordo de Conacri com vista a por fim à crise que assola o país há mais de dois anos.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.