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Missão de paz africana irrita Ucrânia e fracassa

Lusa
19 de junho de 2023

A tentativa dos líderes africanos de mediar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia não teve resultados visíveis além de ter irritado os ucranianos. A delegação fala em sabotagem. Terá a iniciativa de paz fracassado?

Russland - Ukraine - Konflikt
Foto: Efrem Lukatsky/AP/picture alliance

A missão de paz africana chefiada pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, terminou no sábado (17.06) em São Petersburgo, depois de ter passado na véspera em Kiev, sem outros resultados visíveis além de ter irritado os ucranianos.

Em sua coletiva de imprensa conjunta comlíderes africanos em Kiev na sexta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deixou claro que a aspiração da missão de facilitar as negociações sem exigir a retirada da Rússia estava fadada ao fracasso.

"Hoje, durante nossa reunião, mais uma vez deixei claro que permitir qualquer negociação com a Rússia agora, quando os ocupantes estão em nosso território, significa congelar a guerra, congelar a dor e o sofrimento”, declarouZelensky.

Zelensky deixou claro que a aspiração da missão de facilitar as negociações sem exigir a retirada da Rússia estava fadada ao fracasso.Foto: Ukrainian Presidential Press Office/AP/picture alliance

O presidente ucraniano assistiu a algumas das intervenções de dirigentes africanos com um semblante impaciente e por vezes aborrecido, chegando inclusive a repreendê-los pela linguagem com que se referiram à guerra.

"Meus colegas seguem constantemente chamando esta guerra de 'crise'. E eles têm o direito de fazê-lo, mas isso significa que avaliamos a situação de maneira diferente. Não é uma crise e não é uma ameaça, é uma guerra cujas consequências são uma série de grandes crises”, salientou.

Pouco antes, de seu púlpito ao lado do de Zelensky, Ramaphosa havia pedido "uma desescalada" das "ofensivas de ambos os lados".

"Cultivar a paz"

Ramaphosa também se referiu aos mísseis lançados pela Rússia contra Kiev logo após sua chegada à cidade. "Esse tipo de atividade não é bom para cultivar a paz”, declarou, sem mencionar a responsabilidade russa pelo ataque.

Seu porta-voz, Vincent Magwenya, já havia provocado indignação dos ucranianos ao comentar no Twitter sobre as explosões dos mísseis: "Que estranho, não ouvimos sirenes ou explosões. A missão de paz africana continua de acordo com o plano."

Magwenya publicou esta mensagem depois de a agência "Reuters” ter testemunhado a delegação de líderes africanos descer para o abrigo do seu hotel em Kiev durante o ataque.

Quando questionado por alguns usuários do Twitter a respeito, o porta-voz de Ramaphosa explicou que não estava com eles no momento, mas "no décimo primeiro andar do hotel observando as pessoas caminhando tranquilamente pela rua".

Embora seja possível, dependendo da localização do hotel, que Magwenya não tenha ouvido sirenes ou explosões, o tom cético e desdenhoso de seus tweets parecia lançar dúvidas sobre a autenticidade de um ataque em que várias pessoas ficaram feridas.

Por sua atitude, o jornal ucraniano de língua inglesa "Kyiv Post” o chamou em uma manchete de "O maior mentiroso do mundo".

"Sabotar a iniciativa de paz"

Os problemas da missão africana de paz, no entanto, começaram antes de sua chegada a Kiev, quando os jornalistas sul-africanos e os 120 agentes de segurança mobilizados por Ramaphosa para a visita não conseguiram desembarcar do seu avião ao aterrissar em Varsóvia.

A delegação oficial sul-africana acusou inicialmente a Polônia de comportamento racista, querendo sabotar sua iniciativa de paz e "pondo em perigo a vida" de Ramaphosa, que tinha chegado àquele país em outro avião e iniciou sua viagem de trem para Kiev sem esperar por aqueles que deveria protegê-lo.

O governo polonês, no entanto, explicou que os agentes sul-africanos não tinham as licenças necessárias para as armas que portavam. 

Porque África quer mediar a guerra da Rússia na Ucrânia

02:58

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O avião sul-africano em questão também teve de alterar a sua rota porque não tinha licenças para entrar no espaço aéreo da Itália e da Hungria, segundo revelaram jornalistas sul-africanos.

Depois de mais de 24 horas de espera no interior do avião, os jornalistas e os demais passageiros conseguiram finalmente desembarcar e descansar em um hotel, antes de voltarem ao avião e regressarem à África do Sul sem terem chegado a Kiev a tempo nem acompanhado Ramaphosa a São Petersburgo devido a problemas administrativos.

Segundo alguns observadores, Ramaphosa sacou da manga sua missão de mediação para melhorar sua imagem depois que os Estados Unidos acusaram a África do Sul no último mês de maio de enviar secretamente armas para a Rússia.

Longe de reafirmar o papel de país neutro que a África do Sul reivindica para si nesta guerra, a viagem distancia ainda mais Pretória de Kiev e abre uma nova tensão diplomática com a Polônia.