Multinacional desenvolve novo projeto de exploração de areias pesadas em Inhambane. Comunidades querem compensações sociais pela exploração dos recursos minerais.
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A multinacional anglo-australiana Rio Tinto inicia mais um megaprojeto de exploração de areias pesadas na província de Inhambane, no sul de Moçambique. Porém, a população local queixa-se da falta de oportunidades de emprego, acesso a serviços básicos de saúde, educação e também pede melhorias nas vias de acesso às comunidades.
O diretor provincial dos recursos minerais em Inhambane, Salomão Mujui, em entrevista à DW África, disse que já foram feitos 116 furos, que serviram para obter amostras de areia da região. Estas amostras foram enviadas para um laboratório internacional, responsável pela avaliação da qualidade e da quantidade de areias pesadas existentes no distrito de Jangamo.
"Já foram perfurados neste preciso momento 116 furos, o que corresponde a cerca de 3.200 metros de profundidade, onde foram colhidas 1.080 amostras", afirma.
Salomão Mujui diz que o estudo sobre o impacto ambiental ainda não foi apresentado pela Rio Tinto, mas garante que nada será feito sem o referido estudo.
"O estudo de impacto ambiental será apresentado. De fato, não é possível fazer a exploração sem que primeiro se faça o estudo do impacto ambiental, levando em consideração todo o impacto que será causado na área de exploração, dai que vai se tomar a precaução para que os danos causados não sejam tão grandes".
A DW África não conseguiu falar com um ambientalista para saber se existem ou não possíveis danos ambientais com a implementação deste megaprojeto em Inhambane.
População quer compensações pela exploração
Desde 2000 que a Rio Tinto começou com os trabalhos naquela província do sul de Moçambique. No entanto, a população queixa-se da falta de oportunidades de emprego, como revela Rafael Augusto, residente local.
"Nunca consegui emprego da Rio Tinto. A empresa ainda não fez escola, nem hospital. Estou a ver só a empresa a trabalhar naquele sitio, não sei qual é o trabalho e só estou ver o movimento", relata o residente, que cobra as compensações da empresa.
Areias pesadas - Rio Tinto - MP3-Mono
No distrito de Jangamo, onde a Rio Tinto vai começar a explorar os recursos minerais, os residentes não têm nenhuma unidade sanitária, nem escola, e pedem o melhoramento nas vias de acesso à região.
Assim como Rafael Augusto, outro residente, João Ngulele, explica que a comunidade ainda não tem conhecimento de nenhuma ação de responsabilidade social por parte da multinacional.
"Ainda não vimos os benefícios, centro de saúde ainda não temos. Gostaria que nos ajudasse a ter água, energia e a reabilitar esta estrada", cita Ngulele, que também reclama da falta de empregos. Segundo ele, a empresa contrata apenas pessoas de fora, enquanto há muitos jovens desempregados na comunidade.
A empresa Rio Tinto é detentora de duas licenças de prospecção e pesquisa em Jangamo, na província de Inhambane. Também outro projeto do género em Moma, na província de Nampula, e é desenvolvida pela empresa Kenmare.
Ilha de Moçambique: a "menina dos olhos" de Nampula
Há 200 anos, que a primeira capital de Moçambique foi elevada à cidade. Desde 1991 a ilha é Património Mundial da Humanidade. O arquipélago no norte de Moçambique concentra um incalculável valor histórico e cultural.
Foto: DW/J.Beck
Primeira capital de Moçambique
Situada na Província de Nampula, a Ilha de Moçambique é um destino turístico muito procurado na África Austral pelo seu vasto património histórico e cultural. "Descoberta" pelo navegador português Vasco da Gama, em 1498, aquando da viagem marítima para a Índia, esta ilha foi a primeira capital de Moçambique. É atualmente habitada por cerca de 15 mil pessoas.
Foto: DW/J.Beck
Pequena ilha, grande história
Apesar de ter apenas três quilómetros de comprimento e 400 metros de largura, esta pequena ilha carrega uma grande história. Quando Vasco da Gama a "descobriu", ela já era um importante lugar de trocas comerciais entre os africanos e os povos árabes. Após a chegada dos portugueses, a ilha ganhou uma importância estratégica na rota que ligava Lisboa a Goa, a "Carreira da Índia".
Foto: DW/J.Beck
Habitações com história
A Ilha de Moçambique está dividida em duas partes: a “cidade de pedra e cal” e a “cidade de macuti“. Na primeira (à direita da rua), eram construídas as casas que pertenciam às camadas mais altas da sociedade, onde estavam os palácios e fortalezas. Na segunda (à esquerda da rua), viviam as pessoas de classes mais baixas.
Foto: DW/J.Beck
Cidade de "macuti"
Na chamada “cidade de macuti“ viviam os mais pobres - os pescadores, por exemplo. É nesta parte da cidade que se encontram, como o nome indica, as construções mais precárias cobertas por macuti - as tradicionais folhas de coqueiro espalmadas.
Foto: DW/J.Beck
Património Mundial da Humanidade
Foi em 1991 que a ilha de Moçambique passou a integrar a lista dos destinos considerados Património Mundial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO. De passagem pela ilha há vários monumentos que não pode deixar de visitar.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
Construída no século XVI pelos portugueses, a Fortaleza de São Sebastião visava dar proteção e apoio aos barcos que navegavam na chamada Carreira da Índia. É um dos mais representativos exemplos da arquitetura militar portuguesa na costa oriental de África.
Foto: DW/J.Beck
Capela de Nossa Senhora do Baluarte
A Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída em 1522 na extremidade norte da ilha, é hoje o único exemplo da arquitetura manuelina em Moçambique. O manuelino, ou também gótico português tardio, é um estilo que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I nos séculos XV e XVI. O acesso à capela faz-se apenas pelo interior da Fortaleza de São Sebastião.
Foto: DW/J.Beck
Palácio de São Paulo
Construído em 1610, o Palácio de São Paulo, também conhecido como Palácio dos Capitães-Generais, funcionou primeiro como Colégio da Companhia de Jesus, tendo sido depois convertido no palácio do governador - função que manteve até a Ilha de Moçambique deixar de ser a capital do país, em 1898. No palácio podemos hoje visitar o Museu da Marinha e o Museu-Palácio de São Paulo.
Foto: DW/J.Beck
Outros locais de interesse turístico
O monumento dedicado ao poeta português Luís Vaz de Camões, que viveu entre 1567 e 1569 na Ilha de Moçambique, é outro dos locais que os visitantes da Ilha não podem deixar de conhecer, assim como a Igreja da Misericórdia e Museu de Arte Sacra e a Capela de São Francisco Xavier. Todos estes edifícios históricos estão localizados na Cidade da Pedra.
Foto: DW/J.Beck
Um destino multicultural
Apesar da clara influência do povo português, cabem na ilha de Moçambique apontamentos de muitas outras geografias mundiais. Encontramos aqui um largo número de culturas e religiões diferentes. Ao caminharmos pelos diferentes bairros da ilha, cruzamo-nos com várias igrejas e capelas, mas também com mesquitas e um templo hindu.
Foto: DW/J.Beck
Escola Maometana
A maioria dos habitantes da ilha pertence à religião muçulmana. A "Escola Maometana / The Mohamedia Madresa School" localiza-se ao lado da "Mesquita Central Seita Sunni" próximo do centro da Ilha de Moçambique. A ilha foi marcada durante séculos pela cultura suaíli e o islão dos povos da África Oriental, como também acontece na vizinha Tanzânia.
Foto: DW/J.Beck
Ilha em risco – um futuro incerto
Nos últimos anos, muitos são os especialistas que chamam a atenção para a possibilidade deste pequeno paraíso poder vir a desaparecer por causa das alterações climáticas. Teme-se que, devido à erosão costeira, um dia a ilha possa acordar no fundo do mar. Até ao momento já foram consumidas várias áreas pequenas.
Foto: DW/J.Beck
Fecalismo a céu aberto
Mas para além do câmbio climático, há outros problemas mais profanos no dia a dia da ilha. Muitos habitantes usam as praias como casa de banho, o que ameaça a saúde pública e coloca em perigo os atrativos turísticos da ilha. Para melhorar o saneamento básico, foram construídos sanitários públicos em vários lugares da ilha.
Foto: DW/J.Beck
Degradação apesar de Património Mundial
Apesar da classificação em 1991 como Património Mundial pela UNESCO, encontram-se muitos prédios em ruínas na Ilha de Moçambique. A recuperação é lenta. Desde que a capital do país passou para Maputo, no sul de Moçambique, os investimentos públicos concentram-se no sul do país. O norte e a Ilha de Moçambique perderam protagonismo político.
Foto: DW/J.Beck
Esforços em torno da preservação
No entanto, e apesar do património histórico omnipresente na ilha, ela quer continuar a ser um lugar para se viver. Por isso, o Governo de Moçambique e parceiros internacionais têm vindo a unir esforços para criar melhores condições sócio-económicas. E, claro, para preservar o património histórico e cultural da ilha.