Moçambicanos ameaçados de expulsão de minas sul-africanas
20 de agosto de 2015A empresa de produção de platina britânica Lonmin disse que poderá despedir cerca de seis mil pessoas e reestruturar as suas operações nos próximos tempos. A Anglo American Platinum, maior produtora mundial de platina, também tenciona reduzir o número de trabalhadores na área de Rustenburg, província de North West, de 24 mil para 16.500 homens.
"Em Moçambique não tenho emprego. Já estou a trabalhar na África do Sul há 20 anos", disse à DW África um mineiro moçambicano. "Tenho aqui família. Se voltar a Moçambique, vou fazer o quê? Lá não tenho emprego", sublinha.
"A única coisa que sei fazer é trabalhar nas minas", afirma outro moçambicano ouvido pela DW África, que vive há 15 anos no país vizinho. "Tenho oito filhos. O que lhes vou dar sem trabalhar nas minas? Não tenho como voltar a Moçambique", conta.
Foi na região de Rustenburg que, a 16 de agosto de 2013, mais de 30 mineiros em greve foram brutalmente assassinados pela polícia.
Impacto negativo
A perda dos postos de trabalho resulta da queda de preços de mercadorias nos principais mercados mundiais, com destaque para a China. Os preços da platina, da qual a África do Sul possui 80% das reservas, caíram um terço nos últimos quatro anos.
Discursando recentemente à nação, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, reconheceu o impacto desta crise na sociedade e na economia do país. "O perigo de perda de postos de trabalho nas minas e no sector do metal constitui uma séria preocupação para o Governo, dado que trará um impacto negativo para muitas famílias e comunidades e também para a economia", declarou.
Para John Cebola, geólogo moçambicano radicado na África do Sul, com estes despedimentos pode assistir-se ao surgimento de mineiros moçambicanos marginais. "Os mineiros vão passar por uma situação complicada", alerta.
"Primeiro, voltam para Moçambique e há-se ser difícil a integração", até pelo tipo de mineração utilizado no país, explica. "A maioria da mineração na África do Sul é mais de profundidade, quanto em Moçambique é a céu aberto". Por isso, segundo John Cebola, "corre-se o risco de ter uma massa pensante marginalizada porque o país não está em condições de absorver todos".