Moçambicanos só podem viajar para a África do Sul com passaporte. Autoridades deste país já não aceitam o certificado de emergência, o salvo-conduto. E em Inhambane cidadãos queixam-se dos preços do passaporte.
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Rungo Cuambe é fotógrafo em Inhambane, mas o negócio corre cada vez pior. O ganha-pão de Cuambe é tirar fotografias para passaportes e certificados de emergência - muitos deles para cidadãos que querem viajar para a África do Sul.
Mas, no ano de 2017, as autoridades sul-africanas deixaram de aceitar alguns dos documentos emitidos por Moçambique e o movimento no estabelecimento comercial de Rungo Cuambe diminuiu de forma abrupta.
"O Governo moçambicano faz documentos sabendo que nem a África do Sul aceita. O Governo devia saber qual é o melhor documento. [Antes,] conseguia seis a sete pessoas por dia, mas agora é apenas uma ou duas", queixa-se Rungo Cuambe.
Passaportes são caros
Osvaldo Ramiro é um jovem residente no distrito de Massinga, pretende abandonar o serviço de lavar viaturas e ir a África do sul para trabalha nas minas, enfrenta agora dificuldades.
Moçambicanos descontentes com o fim do salvo-conduto para a África do Sul
Não tem dinheiro para pagar o passaporte válido por cinco anos, que custa 2.400 meticais - mais de trinta euros: "Não ainda. Problema do custo é muito elevado, ainda não tenho este valor para tratar desse passaporte".
Tal como Osvaldo Ramiro, muitos moçambicanos preferiam pedir um certificado de emergência em vez de um passaporte ordinário. O certificado é válido por menos tempo, três anos, mas é quase 30 euros mais barato.
Nos serviços de migração, em altura de férias escolares e quadra festiva, era comum ver muitas pessoas à procura de passaportes e certificados de emergência. Mas, desde que a África do Sul começou a rejeitar certificados de emergência, os pedidos baixaram.
Reduziu a procura de passaporte
Sem avançar números, Rosângela Vilanculo, porta-voz da Direção Provincial de Migração em Inhambane, confirma que "[houve uma] redução da procura de passaporte ordinário, documento de viagem para mineiros e certificados de emergência.
[…] Este ano, não abriram os postos, porque a afluência reduziu. Estas brigadas que estavam em Zavala e Massinga foram retirados."
Por isso, a Direção encerrou postos em dois distritos, onde as pessoas podiam tratar dos passaportes e certificados, segundo Vilanculo: "Este ano, não abriram os postos, porque a afluência reduziu. Estas brigadas que estavam em Zavala e Massinga foram retirados."
Agora, as únicas pessoas que podem entrar na África do Sul com certificados de emergência são menores de idade.
Andrea da Luisa vive há vários anos na África do Sul e, de visita a Moçambique, aproveitou para tirar o certificado para a filha de três anos: "Estou à procura de um documento de emergência para a África do Sul. É para a minha filha."
Para outros países, os certificados de emergência continuam a ser válidos. Este ano, Januário Chissico quer ir estudar fora do país. Por isso, foi tirar fotografias: "Estive a tirar fotos para poder tratar de um passaporte de emergência para o Zimbabué."
Moçambique: Como é preservado o legado colonial em Inhambane
Infraestruturas construídas pelos portugueses em Inhambane foram nacionalizadas após a independência de Moçambique. Vários edifícios servem novos propósitos, mas muitos estão ao abandono. Populares apelam a reabilitação.
Foto: DW/L. da Conceicao
Edifícios coloniais ocupados pelo Governo
Depois da independência de Moçambique, em 1975, os portugueses deixaram
vários edifícios onde funcionavam as suas direções e serviços. Estas infraestruturas encontram-se agora ocupadas pelo Governo de Moçambique. Em Inhambane, os edifícios não têm sido reabilitados e muitas casas estão em risco de desabar.
Foto: DW/L. da Conceicao
Câmara, Procuradoria e Tribunal há 208 anos
Este edifício construído em 1809, na época colonial, acolheu três instituições do Governo português: Câmara Municipal, Procuradoria e Tribunal Distrital. Hoje, passados 208 anos e após a independência de Moçambique, o Conselho Municipal da cidade de Inhambane, a Procuradoria e o Tribunal Provincial ainda funcionam aqui.
Foto: DW/L. da Conceicao
Capela transformada em Biblioteca
Esta capela foi construída pela Igreja Católica Romana, perto do colégio português. Durante vários anos, realizaram-se aqui missas e orações. Agora, a capela serve outro propósito: é atualmente a Biblioteca Provincial de Inhambane.
Foto: DW/L. da Conceicao
Gabinete do Administrador Ultramarino deu lugar ao Governador Provincial
Era neste edifício branco que estava localizado, na era colonial, o gabinete do administrador do distrito de Inhambane. Ao lado funcionava a administração marítima e em frente estava a estátua de Vasco da Gama. Atualmente, é aqui que está o Governador Provincial. A infraestrutura está a precisar de ser reabilitada. Hoje, no lugar da estátua de Vasco da Gama encontra-se a imagem de Samora Machel.
Foto: DW/L. da Conceicao
De Comércio Telégrafo e Telefone a Telecomunicações de Moçambique
Este edifício foi construído no tempo colonial para o funcionamento do Comércio Telégrafo e Telefone (CTT) do distrito de Inhambane. Atualmente, encontra-se aqui instalada a Delegação Provincial das Telecomunicações de Moçambique (TDM). O mesmo aconteceu com os edifícios distritais dos CTT.
Foto: DW/L. da Conceicao
Governo não quer estátua de Vasco da Gama
A estátua do português Vasco da Gama foi erguida em frente ao edifício do Governo distrital de Inhambane. No entanto, com a independência, foi retirada por se considerar que Vasco da Gama foi um traidor e, por isso, não merece atenção especial. A estátua encontra-se escondida na oficina de viaturas do Conselho Municipal da cidade. Mas os residentes querem que seja colocada num lugar visível.
Foto: DW/L. da Conceicao
Pórtico das deportações de escravos
Entre 1910 e 1922, era aqui, neste local, que se fazia o comércio dos escravos em Inhambane. Os escravos eram concentrados junto ao edíficio branco enquanto aguardavam a sua deportação. O lugar encontra-se abandonado e ninguém o visita. Atualmente, por trás deste edíficio, funciona o estaleiro do material do Fundo de Investimento Património de Água (FIPAG).
Foto: DW/L. da Conceicao
De hotel a igreja
O primeiro hotel da cidade de Inhambane surgiu neste local. Na altura, esta era uma das principais ruas da cidade. Entretanto, o edifício do hotel foi demolido e o espaço está agora ocupado por uma seita religiosa. Os residentes locais lamentam a falta de conservação.
Foto: DW/L. da Conceicao
Escola Carvalho Araújo hoje é 7 de Abril
As escolas Carvalho Araújo, tanto masculina como feminina, foram transformadas em escolas primárias completas pelo Governo de Moçambique. O edifício retratado na foto era a antiga Escola Carvalho Araújo para mulheres. Hoje, é a escola primária completa 7 de Abril. A outra escola, onde estudavam os homens, continua a ser também uma escola primária, denominada Terceiro Congresso.
Foto: DW/L. da Conceicao
Homenagem a Emília Daússe
No tempo colonial, muitos alunos portugueses e moçambicanos frequentaram este edifício, onde funcionava o Colégio Nossa Senhora da Conceição. Entretanto, o colégio foi transformado numa escola secundária chamada Emília Daússe, nome de uma heroína que lutou pela frente de libertação de Moçambique.
Foto: DW/L. da Conceicao
Hospital há 88 anos
O edifício do Hospital de Inhambane foi construído em 1929 pelo Governo português. Passados 88 anos, o mesmo edifício funciona como Hospital Provincial de Inhambane. O Governo de Moçambique ainda não construiu um novo hospital de raiz, apesar de, há dois anos, ter anunciado que iria construir um em Maxixe. No entanto, nada aconteceu até agora.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cidade vermelha
A cidade de Inhambane é conhecida como a "cidade vermelha" por causa da predominância desta cor em vários edifícios. Muitas residências no centro da cidade estão pintadas com as cores da empresa de telecomunicações móveis. Apesar de existir uma lei que obriga à manutenção da pintura dos edifícios a cada seis meses, esta não é respeitada.
Foto: DW/L. da Conceicao
Edifícios em ruína no centro da cidade
Em todas as avenidas há edifícios ao abandono. Foram deixados pelos portugueses depois da independência de Moçambique e os residentes locais pedem às autoridades competentes a reabilitação destas residências, de modo a acomodar funcionários que não têm casas para morar.
Foto: DW/L. da Conceicao
Discriminação no cinema
No tempo colonial, era aqui que se encontrava o Cinema Manuel Rodrigues, atualmente Cine-Teatro Tofo. Contam os residentes que, no tempo dos portugueses, o edíficio estava dividido. Uma parte com sofás para os portugueses e outra parte, composta por bancos feitos de madeira, para os negros assimilados. Muita gente ainda lembra a discriminação.
Foto: DW/L. da Conceicao
Antiga Catedral é cartão de visita
A antiga catedral da Igreja Católica Romana já não está ao serviço dos crentes, porque foi construído um outro edifício de raiz, ao lado. No entanto, a antiga catedral serve como cartão de visita para os turistas que visitam a cidade de Inhambane. Há mais de um século que o relógio parou de funcionar.