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Arte

Moçambicanos ilustres homenageados em Portugal

9 de novembro de 2017

Os ex-futebolistas Hilário da Conceição e Mário Albuquerque, o ex-toureiro e matador Ricardo Chibanga e o pintor Roberto Chichorro são "figuras ímpares da cultura e do desporto", homenageadas em Lisboa.

Auszeichnung Mosambik Portugal
Chibanga, Chichorro, Albuquerque e Hilário, homenageados em LisboaFoto: DW/J. Carlos

Em entrevista à DW, o artista Roberto Chichorro e o ex-jogador do Sporting Clube de Portugal, Hilário da Conceição, falam de alguns dos momentos áureos das respetivas carreiras e acolhem com agrado a homenagem que lhes é prestada pela Câmara de Comércio Portugal-Moçambique, em Lisboa.

Muito cedo dedicou-se à pintura. Roberto Chichorro, 76 anos de idade, nascido em Lourenço Marques (atual Maputo), vive em Portugal desde 1986. "Vim para Lisboa em 1986 e depois a gente vai cansando de andar de um lado para outro. Acabei por me casar e depois, quando a gente dá por ela, já criou raízes", conta.

Agora, depois de Cascais, vive em Ourém, município do distrito de Santarém, na zona centro. Antes, tendo deixado Itália e Espanha, optou por viver em Lisboa, que contribuiu significativamente para a sua projeção internacional como artista.

Roberto Chichorro, referência das artes de MoçambiqueFoto: DW/J. Carlos

"Em Moçambique pintava, vivia disso, mas não havia assim grande projeção. Hoje já há mais, mas naquela altura não havia nenhuma. Não havia nada. E Lisboa serviu perfeitamente para isso e foi, é um sítio em que me sinto bem. Eu costumava e costumo dizer: no dia que eu me sentir mal mudo-me. Quem não está bem muda-se. E mudei para Ourém."

Influência europeia não esconde raízes africanas

Muda-se, mas continua a pintar e a expor. "Sim, continuo a expor. Da última exposição até agora é que ainda demorou mais um pouco de tempo. Acho que a última que tinha feito tinha sido há três anos no Porto e vou fazer em março [de 2018] outra vez na mesma galeria. E como me sinto bem... Nas coletivas às vezes participei mais, mas individuais é sempre de dois, de três em três anos, que é para eu próprio ter tempo para pensar em coisas novas".

Do seu percurso, diz que todos os momentos são importantes. Por isso, não distingue em separado as suas obras.
"Não as separo, não distingo nenhuma em especial. Há uma ou outra que passou a fazer parte da minha coleção particular. Foram obras que não foram compradas em exposições. E hoje já me quiseram comprar aquelas obras em casa e eu, neste momento, não as vendo."

Obras que, apesar de influenciadas pela cultura europeia, ainda retratam vivências e motivos de África. A  relação com Moçambique mantém-se.

Hilário: um ídolo também em Portugal

09.11.17 Mocambicanos homenagem Lisboa - MP3-Mono

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O seu conterrâneo, Hilário da Conceição, já com 78 anos de idade, veio para Portugal em 1958. São já quase 60 anos. Por cá ficou, contratado para jogar futebol no Sporting de Lisboa. Diz que faz parte da história do clube português.

"Eu sou o jogador que mais anos jogou no Sporting, que mais jogos fez na história do clube. Tenho 15 anos como profissional de futebol no Sporting e tenho 627 jogos efetuados. E nesses 15 anos tive duas lesões gravíssimas, uma rotura de ligamentos e uma fratura da tíbia; cada lesão destas impediu-me que jogasse durante seis meses".

Perdeu um ano de jogos, o que é bastante relevante. Como profissional com apenas dois golos marcados, tem muito para contar, mas destaca alguns feitos de que muito se orgulha.

"É ter chegado cá com 18 anos; passado uma semana estava a jogar na primeira categoria do Sporting e passado um mês estava na seleção nacional [portuguesa]. Então, mantive essa segurança durante 15 anos. E como treinador tenho orgulho de ver os melhores jogadores do mundo, os melhores jogadores europeus, que estão a ser considerados pela imprensa. Qualquer um deles passou pelas minhas mãos. O Cristiano Ronaldo, o Simão Sabrosa, o Rui Patrício, o Ricardo Quaresma e muitos outros".

Hilário, glória do Sporting e do desporto moçambicanoFoto: DW/J. Carlos

Reconhece que o único atleta que pode bater os seus recordes é precisamente Rui Patrício, guarda-redes da seleção nacional, de quem se orgulha porque foi seu treinador quando tinha 16 ou 17 anos.

Hilário é natural de Mafalala, bairro onde também nasceram o toureiro Ricardo Chibanga e o futebolista Eusébio Ferreira. Lembra que foi por seu intermédio que o malogrado Eusébio, então amigo e vizinho do bairro - ambos do Sporting de Lourenço Marques -, veio para Portugal para jogar na sua equipa.

"O Benfica nem estava com ideias de contratar o Eusébio, nem nada. Isto é, a  pessoa que tomou a iniciativa de trazer o Eusébio para cá fui eu. E era para o Sporting."

Simpatia generalizada dos adeptos 

Até hoje, o considerado melhor defesa esquerdo do mundo continua a ser bem tratado e bem recebido tanto em Portugal como em Moçambique.

"Vejo que tenho muita simpatia aqui em Portugal, não só dos sportinguistas mas também dos benfiquistas, dos desportistas, porque fui uma pessoa que soube defender as cores portuguesas em todos os jogos, em campeonatos europeus e do mundo. Tenho muita satisfação pela alegria que me dão em todos os sítios. Em todo o lado por onde passo sou reconhecido. Toda a gente quer falar comigo, quer tirar fotografia comigo, quer fazer coisas que, às vezes, até se torna um bocadinho aborrecido, porque é tanta gente que não é possível satisfazer todos".

Conta, a título de exemplo, que até recebeu um convite do Presidente Filipe Nyusi para visitar Moçambique aquando da sua primeira viagem oficial a Portugal. "É o preço da glória", admite Hilário. Ambos, Chichorro e Hilário, aceitaram com agrado a homenagem que agora lhes é prestada pela Câmara de Comércio Portugal-Moçambique, juntamente com Ricardo Chibanga e Mário Albuquerque.

"É uma homenagem que vem em boa hora. É sempre bom sermos lembrados", afirma Chichorro. "Tudo que é homenagem sabe bem. É um duplo orgulho e uma dupla satisfação quando somos homenageados em vida", sublinha por seu lado o ex-jogador Hilário da Conceição. 

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