Funcionários públicos dizem que os aumentos anunciados pelo Governo não são suficientes para cobrir as despesas cada vez maiores.
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Os moçambicanos não estão satisfeitos com os reajustes dos salários na Função Pública. Na semana passada, o Governo decretou um aumento de 21% do salário mínimo nacional, para 3.996 meticais (56,7 euros). Quem está acima desta categoria, contará com um aumento único de 500 meticais (cerca de sete euros).
Mas esse aumento "não satisfaz as nossas necessidades", queixa-se Jeremias Gravata, funcionário público há 15 anos. Ele ganha cerca de sete mil meticais (100 euros, aproximadamente) e teme o pior: "Quando o salário sobe, sobe tudo".
No limite
A vida está cada vez mais difícil para os moçambicanos. Os preços dos produtos de primeira necessidade aumentaram mais de 200% desde 2016. Além disso, em março, o preço do combustível foi agravado para quase 60 meticais/litro (0,85 euros/litro). Para os próximos dias, o Governo anunciou o agravamento da tarifa dos transportes públicos, embora ainda não tenha avançado valores.
Mesmo com os preços praticados hoje em dia, os aumentos salariais "nem chegam para cobrir o valor do chapa [transporte semi-coletivo de passageiros]", comenta Arlindo Moiane, funcionário nas obras públicas.
Joaquim Macuvele, funcionário público, também está preocupado: "Eu e minha esposa temos três filhos; a mais velha vai à escola." Se não houver mais aumentos, "será muito pesado" para a família, diz Macuvele.
Moçambicanos insatisfeitos com aumento do salário mínimo
Sindicato pede mais
A Organização dos Trabalhadores de Moçambique, a principal organização sindical do país, entende que o salário mínimo deveria ser muito mais alto.
"Não estamos satisfeitos com o nível salarial. O cabaz que calculámos para a situação atual do país revela-nos qualquer coisa como 16 mil meticais (cerca de 227 euros) para poder suportar o nível de vida como está no país", afirma Alexandre Munguambe, secretário-geral da central sindical.
Betuel Matola, técnico administrativo, adivinha tempos difíceis. O aumento dos salários na semana passada, diz ele, trata-se de uma desonestidade do Governo: "Estamos a fazer de tudo para sobreviver, mas nada anda."
Os filhos perdidos de Chimanimani
Todos os dias há jovens a subir. São eles que alimentam os garimpeiros em Chimanimani, a reserva natural que separa Moçambique do Zimbabué. Quando descem, trazem pepitas de ouro nos bolsos.
Foto: DW/M.Barroso
O ouro de Chimanimani
Em 2006, conta-se, a produção diária em Chimanimani era de 5g por garimpeiro por dia. Hoje, queixam-se, não passa de 3g por garimpeiro por dia.
Foto: DW/M.Barroso
Preciosidades em notas sem valor
É em notas de milhões de dólares zimbabueanos que se transporta o ouro por aqui. Papel não é seguro, porque, quando molha, rasga. A nota é mais fiável: dobra-se uma e outra vez, dobra-se umas quantas vezes e prende-se com um fio de ráfia. E as notas do Zimbabué há muito que não valem os milhões que prometem na figura.
Foto: DW/M.Barroso
Matzundzo, o régulo
Toda a zona que se estende até ao mercado do ouro de Baco Ramambo se encontra sob a autoridade do régulo Matzundzo.
Foto: DW/M.Barroso
Ao almoço, uma pausa
Mateus tem 24 anos. Há três ganha a vida a carregar produtos em Chimanimani. Para conseguir chegar a Baco Ramambo, é preciso fumar, conta. Para ter "power".
Foto: DW/M.Barroso
Para lá dos montes
Por aqui, todos dizem que o caminho até ao mercado demora "duas horas de relógio". Na realidade, o percurso toma dias. Pausas são luxo raro.
Foto: DW/M.Barroso
Quem passa, leva ensopadas as calças
Em Chimanimani, os rios não têm pontes. Os rapazes seguem em frente, água dentro, sem grandes paragens, sem hesitações, vestidos, calçados, a mercadoria a balançar nas cabeças.
Foto: DW/M.Barroso
Neto, o negocianteNeto, o negociante
António Neto Coco com a sua balança de ouro. Desde que foi agredido por bandidos, tem regularmente três rapazes a vender produtos na zona do mercado de Baco Ramambo.
Foto: DW/M.Barroso
Vida sob camuflagem
Muitos em Chimanimani vêm do Zimbabué. Por 600 meticais, nem 14 euros, compram identidade moçambicana. Assim, se forem descobertos com ouro, evitam ser deportados para o país do lado, um país sem futuro.
Foto: DW/M.Barroso
Entre o fumo
Carregadores e garimpeiros moram em cavernas. Aqui cozinham, aqui se aquecem com lenha do mato e aqui dormem. A fuligem que sobe do lume pinta as paredes da rocha, crava-se nos pulmões, queima os olhos.
Foto: DW/M.Barroso
Natureza em erosão
Desde que os fiscais do parque sobem ao planalto para escurraçar os infratores da lei, os garimpeiros dispersam ao longo de vários rios. Assim, a vegetação ribeirinha é destruída, a erosão dos solos espalha-se e os sedimentos são transportados pela corrente, causando turvação das águas.
Foto: DW/M.Barroso
Baco Ramambo, o mercado
Em dias de chuva como hoje, cada um se refugia na sua caverna e o mercado de Baco Ramambo adquire um ar triste. Das negociatas que aqui se fazem em dias bons não há sinal.
Foto: DW/M.Barroso
A camarata do mercado...
Poucos são os que se aventuram a pernoitar na zona de Baco Ramambo com medo dos fiscais. Ainda assim, esta camarata serve de abrigo aos que por aqui ficam.
Foto: DW/M.Barroso
... e a cozinha
O rádio que traz música na caverna da cozinha de Baco Ramambo foi vendido num dia húmido como o de hoje. Em dias assim, só os carregadores faturam, já que poucos garimpeiros ousam entrar nos riachos – nestas condições impiedosas, a água provoca febres.
Foto: DW/M.Barroso
Chimanimani - um El Dorado
É aos americanos, aos sul-africanos e aos libaneses que carregadores e garimpeiros vendem o seu ouro. São eles que fazem as verdadeiras fortunas vindas de Baco Ramambo.