Conselho Constitucional de Moçambique considera inconstitucional o fundamento legal usado como desculpa para recusar legalização da Lambda, única associação de defesa dos homossexuais, bissexuais e transsexuais do país.
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O Acordão do Conselho Constitucional segue-se a um pedido de declaração de inconstitucionalidade submetido pelo Provedor da Justiça, José Abudo, agindo em resposta a uma solicitação da Associação Moçambicana para a Defesa das Minorias Sexuais (Lambda) e de várias organizações da sociedade civil.
O mais alto órgão em matéria de Direito Constitucional no país considera que a indicação do artigo 52 da Constituição da República como fundamento usado para recusar em reconhecer a Lambda fere a lei fundamental moçambicana.
O referido artigo estabelece que "são proibidas (somente) as associações armadas de tipo militar ou paramilitar e as que promovam a violência, o racismo, a xenofobia ou que prossigam fins contrários à lei".O Conselho Constitucional rejeita igualmente um outro argumento avançado para a recusa que aponta para razões de ordem moral ou de bem público.
Fundamentos inscritos na Constituição
Segundo o acórdão, estes fundamentos não constam da Constituição da República, no capítulo sobre associações, na sequência de uma reforma introduzida em 2004.
A decisão do Conselho Constitucional toma posição sobre a contradição entre a lei das associações e a Constituição da República, sem mencionar, no entanto, a organização Lambda ou questões de carácter sexual.
Acórdão considerado "um grande passo"
Entrevistado pela DW África, o diretor executivo da Lambda, Danilo da Silva, disse que o acórdão do Conselho Constitucional é um "grande passo" e acrescentou que gostaria de ver reposto o direito constitucional daquele grupo de cidadãos.
"Primeiramente dizer que é uma decisão histórica e enaltecer o Conselho Constitucional por posicionar-se a favor daquilo que é a salvaguarda dos direitos de todos os moçambicanos", comentou.
Lambda aguarda resposta para legalização
A Lambda submeteu um pedido ao Ministério da Justiça em janeiro de 2008, com vista à sua legalização, e até ao momento não obteve qualquer resposta formal. Danilo da Silva acrescenta que a organização realizou encontros com vários titulares do pelouro da Justiça sem lograr qualquer sucesso.
Lambda-Moçambique - MP3-Mono
"Para nós, Lambda, achamos que para quem de direito (Ministério da Justiça) já é tempo de se posicionar relativamente àquilo que é o nosso pedido que já se arrasta há quase uma década", diz.
Durante este período, segundo Danilo de Sousa, foi sempre transmitido à sua organização informalmente que o Ministério da Justiça estava a debruçar-se sobre o assunto e que a Lambda não podia ser registada por violar da legislação.
Para Danilo da Silva, nada resta agora ao Governo senão legalizar a organização pois "este posicionamento do Conselho Constitucional vem de alguma forma desarmar esta justificação que informalmente era-nos passada".
Moçambique: Ultrapassar preconceitos contra pessoas com deficiência fazendo desporto na praia
A equipa de voleibol sentado da AAIPD ruma, uma vez por mês, à Praia da Costa do Sol, em Moçambique, para um jogo ao ar livre. A equipa, que pretende superar preconceitos, conta já com 40 atletas. Número está a crescer.
Foto: Privat
Voleibol sentado de praia
A Associação Aeroclube para Inclusão de Pessoas com Deficiência (AAIPD), criada pelo empresário moçambicano Vaz de Sousa, tem vindo a desenvolver vários projetos na área da inclusão em Moçambique, nomeadamente através da prática de desporto. Recentemente, lançou a modalidade de voleibol sentado de praia.
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Equipa a crescer
A publicidade boca a boca fez com que depressa começassem a chegar atletas. Hoje a equipa é composta por cerca de 40 pessoas portadoras de deficiência, na sua maioria, com membros amputados ou paraplégicas, e com idades compreendidas entre os 27 e os 60 anos, um dado que "surpreendeu pela positiva" o mentor do projeto. O número de interessados tem vindo a crescer.
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Mulheres em maioria
Apesar da prática de desportos em equipa ser muitas vezes associada ao sexo masculino, na equipa de voleibol sentado de praia da AAIPD, a maioria dos jogadores são mulheres.
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Do salão para a praia
A equipa está sob a alçada de Luís, que nasceu em Espanha, mas conta já com nacionalidade moçambicana, e que se interessou pelo projeto. Foi também um dos responsáveis por levar a prática do desporto do salão para a praia.
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Regras semelhantes
Apesar de "específicas" para este desporto adaptado, as regras do voleibol sentado de praia não diferem muito das que conhecemos. O objetivo mantém-se: fazer passar a bola sobre a rede evitando que esta toque no solo. No voleibol sentado de praia, o campo e a altura da rede são menores do que no voleibol convencional.
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Comunidade Mahometana
Graças à ajuda da Comunidade Mahometana, a equipa de voleibol sentado da AAIPD pode, desde o início deste ano, uma vez por mês, rumar à Praia da Costa do Sol para uma partida ao ar livre. À DW África, Vaz de Sousa destaca a "alegria" com que os atletas "vão e voltam" deste dia passado na praia.
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Treinos semanais
Para além das idas à praia, a equipa reúne-se quatro vezes por semana para praticar o voleibol sentado de salão. Os treinos acontecem no campo da Comunidade Mahometana, localizado na baixa da cidade de Maputo.
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Competição
Um dos objetivos da AAIPD é conseguir chegar à competição. Mas, para isso, é necessário que integrem a equipa atletas mais jovens. Algo que não é fácil, explica Vaz de Sousa, pelo facto de, em Moçambique, as pessoas portadoras de deficiência ainda "terem vergonha" de se expor. Para além de outras dificuldades que existem ao nível da locomoção na cidade, por exemplo.
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Mais projetos
A AAIPD pretende juntar às modalidades já existentes - futsal para cegos, atletismo para cadeirantes e voleibol sentado - o futebol para pessoas amputadas. O lançamento de uma campanha para a inclusão de pessoas com necessidades especiais no mercado de trabalho e a organização de um desfile de moda para mulheres com deficiência são outros projetos para o futuro.