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Moçambique: É preciso "humildade e abertura" na RENAMO

7 de dezembro de 2020

A contestação dentro do principal partido da oposição em Moçambique, a RENAMO, continua a subir de tom. Para Raúl Domingos, o líder Ossufo Momade deveria ter uma postura humilde e ouvir as diferentes fações internas.

Mosambik Raúl Domingos, Mitglied der RENAMO-Partei
Raúl Domingos, ex-número dois da RENAMOFoto: Romeu da Silva/DW

O antigo número dois do partido, e atual líder do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raúl Domingos, defende que Ossufo Momade deve ser humildade e apostar no diálogo interno. 

A posição do antigo militante do partido surge após a intensificação do mal-estar na RENAMO e das críticas internas à liderança do presidente Ossufo Momade nos últimos dias.

Ossufo Momade, presidente da RENAMO, o principal partido da oposição em MoçambiqueFoto: Getty Images/A. Barbier

Em entrevista à DW África, Raúl Domingos considera que o líder partidário tem que provar com atos e ações que tem capacidades para continuar a liderar o partido.  

DW África: O que está na base das críticas à liderança de Ossufo Momade?

Raúl Domingos (RD): Penso que a falta de diálogo interno pode estar na origem destas contestações. Portanto, penso que é preciso um pouco mais de humildade na liderança, mais diálogo e uma capacidade mais aglutinadora das várias fações que constituem o partido.

DW África: Como é que a RENAMO pode voltar a reencontrar-se e evitar estas querelas que durante tantos anos não foram visíveis?

RD: É importante que haja a humildade e abertura ao diálogo. Por exemplo, o porta-voz [da RENAMO] aparece a chamar nomes àqueles que pensam diferente e isso não ajuda na solução das diferenças dentro de qualquer organização.

DW África: Há quem diga que Ossufo Momade não tem tarimba para gerir as diferentes alas dentro da RENAMO. Concorda?

RD: Não tenho de concordar, nem de discordar. Os factos falam por si. O que está a acontecer é que [ele] está a mostrar uma certa incapacidade. Eu acho que o presidente eleito deve mostrar a outra face da moeda e provar pelos seus atos e ações que é capaz. Mostrar que é capaz é trazer estas diferenças a um diálogo interno que não transmita para fora uma imagem de divisões. 

Mariano Nhongo, líder da Junta Militar da RENAMOFoto: DW/A. Sebastiao

DW África: Como é que olha para este caso da Junta Militar da RENAMO? Qual é a saída para a resolução deste conflito?

RD: Para mim a questão da Junta é uma questão que a RENAMO deveria dar o devido tratamento, em vez de dizer que se trata de “desertores” e “indisciplinados”. Era preciso sentar-se com eles e ouvir as suas reivindicações. Tanto quanto se sabe algumas das reivindicações têm a ver com os acordos que foram celebrados, denominados de “paz definitiva”. É uma questão de falar com estes homens em vez de lhes chamar “desertores” e “indisciplinados”.

DW África: Acha que quem deve ser o ator principal neste processo de busca de soluções deve ser a RENAMO e não o Governo?

RD: Eu acredito que sim, em primeiro lugar a RENAMO. Mas o Governo, naturalmente, tem a responsabilidade de garantir a segurança dos cidadãos, até porque este grupo tem feito ataques nos corredores rodoviários.

DW África: Há quem defenda que se o Governo negociar diretamente com o general Mariano Nhongo estaria a dar-lhe poderes. Concorda?

RD: Isso é óbvio. Mariano Nhongo não reconhece a liderança de Ossufo Momade e quer dialogar diretamente com o Governo. A acontecer isso, a liderança da RENAMO deixa de ser Ossufo Momade e passa a ser Mariano Nhongo.

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