Províncias da Zambézia, Tete (centro) e Niassa (norte), enfrentam intempéries, o que levou Governo a declarar alerta vermelho. 120 mil pessoas estão em zonas de risco de inundações devido às chuvas fortes.
Publicidade
O Governo de Moçambique acaba de ativar o alerta vermelho face às chuvas fortes e cheias que afetam a zona centro do país e que já resultaram em pelo menos dez mortos e afetaram 63 pessoas desde a última quarta-feira (06.03).
Uma depressão tropical estacionada no Canal de Moçambique evoluiu para a tempestade tropical Idai, que deverá transformar-se num ciclone tropical nos próximos dias e voltar a atingir o cento do país.
Para evitar mais vítimas mortais, o Governo decidiu mobilizar todos os meios disponíveis para o salvamento e retirada das pessoas que vivem em zonas de risco e assistência humanitária.
Fundos para a proteção
O Instituto de Gestão de Calamidades (INGC), segundo a diretora, Augusta Maita, precisa de 18 milhões de dólares para proteger a população.
"Solicitamos a ativação do alerta vermelho para toda a região centro do país. Afigura-se pertinente também o apoio e mobilização imediata destes um ponto mil milhões de meticais (cerca de 16 milhões de euros) para fazer face a esta assistência que se mostra pertinente".
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades já fez as contas ao número de pessoas afetadas pelas intempéries na região centro e o cenário é dramático. De acordo com Augusta Maita, "já estão afetadas cerca de 38.285 pessoas, 28.272 mil famílias, as intempéries já provocaram ferimentos em 111 pessoas, há 9.587 casas parcialmente destruídas e 5.125 mil totalmente destruídas".
Cidade da Beira inundada após chuvas fortes
01:10
120 mil pessoas em zonas de risco
O INGC aponta ainda para 120 mil pessoas em zonas de risco de inundações, enquanto as cheias afetam 55 mil pequenos agricultores devido à inundação de mais de 80 mil hectares de área cultivada.
Face ao drama das cheias, o Governo conta com o apoio dos parceiros de cooperação, garantiu a ministra da Administração Estatal e Função Pública, Carmelita Namachulua: "Com os parceiros de cooperação também decidimos alocar mais meios, não só materiais como também financeiros, no sentido de apoiarmos as populações que serão retiradas das zonas de risco".
Moçambique: 120 mil pessoas estão em zonas de risco de inundações
This browser does not support the audio element.
Neste momento, a prioridade, segundo a ministra, é a retirada imediata da população nas zonas de risco e, para isso, será necessária a "mobilização de meios aéreos para a retirada das pessoas que estão nas zonas de risco. Os COEs [Comités Operativos de Emergência] provinciais e distritais também estarão em alerta máximo, iremos intensificar o sistema de comunicações que o Instituto de Gestão de Calamidades tem para a retirada compulsiva das pessoas".
Missão técnica da ONU em Maputo
Uma missão de técnicos das Nações Unidas chegou esta terça-feira (12.03) a Maputo para avaliar o apoio necessário para o país, após as chuvas e inundações que começaram na semana passada.
Segundo um comunicado da ONU, "a nível local, as Nações Unidas apoiam a coordenação da resposta internacional e prestam assistência urgente através das várias agências", enquanto o Governo, "que lidera as ações de resposta, já instalou pelo menos 10.512 deslocados em 15 centros de trânsito nas três províncias afetadas".
Recorde-se que Moçambique é ciclicamente afetado por calamidades naturais, com o sul a registar seca e o centro e norte do país cheias.
Moçambique: Cheias em Tete deixam rasto de destruição
Pelo menos, seis pessoas morreram vítimas das inundações na província moçambicana de Tete, nos últimos dias. Dezenas de casas ficaram destruídas. Centenas de famílias procuram refúgio em centros de acolhimento.
Foto: DW/A. Zacarias
Mortes e destruição em Tete
As cheias dos últimos dias na província de Tete, centro de Moçambique, fizeram pelo menos seis mortos. Entre as vítimas mortais está um elemento do Serviço Nacional de Salvação Pública, que perdeu a vida em serviço. As enxurradas destruíram 49 casas, segundo o último balanço das autoridades.
Foto: DW/A. Zacarias
Cheias fazem milhares de desalojados
Há muitas habitações que continuam submersas. O rio Rovubué, um afluente do Zambeze, um dos maiores rios de África, transbordou na madrugada de sexta-feira. Milhares de pessoas da cidade de Tete e do distrito de Moatize ficaram desalojadas. Neste momento, os níveis de água nas zonas afetadas estão a baixar e as autoridades temem encontrar mais corpos.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias aguardam tendas
As cheias afetaram mais de 900 famílias. 600 foram acolhidas neste centro de acomodação, no Instituto Industrial e Comercial de Matundo, em Tete. Aqui, as dificuldades são enormes. Faltam tendas. E, enquanto as tendas não chegam, as famílias juntam os seus pertences debaixo de árvores.
Foto: DW/A. Zacarias
Falta comida
Judite Chipala é mãe de cinco crianças. Ela e os filhos procuraram refúgio no centro de acolhimento. Mas ela queixa-se da falta de comida: "Estamos a passar mal. Não estamos a comer como deve ser", afirma.
Foto: DW/A. Zacarias
Pedido de donativos
Muitos dos desalojados são crianças. As autoridades dizem estar cientes das dificuldades no centro de acolhimento, no Instituto Industrial e Comercial de Matundo, e lançaram um apelo à solidariedade para com as vítimas das enxurradas.
Foto: DW/A. Zacarias
Voluntários
No centro de acolhimento, várias voluntárias ajudam na confeção da comida e na sua distribuição. À chegada ao centro, técnicos do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) registam os desalojados. Mas quem chega aqui quer sair o mais depressa possível.
Foto: DW/A. Zacarias
À espera de solução
"Aqui não há condições. Eu prefiro voltar a minha casa", queixa-se Sousa Mabore, um dos desalojados no centro de acomodação no Instituto Industrial e Comercial de Matundo. Já Telma Feliciano quer sair do local onde mora e pede às autoridades para lhe darem alojamento fora de zonas propensas a inundações. "Se tivermos ajuda, para nos porem num sítio seguro, não vamos voltar."
Foto: DW/A. Zacarias
Bairros afetados
Muitas das pessoas que ficaram sem casas vêm dos bairros Francisco Manyanga, Filipe Magaia, Samora Machel, Mpádue e Chingodzi, afetados pelas cheias. O Governo provincial e o INGC estão a analisar as condições de segurança no terreno.
Foto: DW/A. Zacarias
Realojamentos?
Richard Baulene, porta-voz do Governo provincial de Tete, diz que as autoridades estão a investigar os pedidos de várias famílias para serem realojadas noutros locais. "Terá que se estudar qual o tratamento a dar às pessoas que vivem nas zonas que forem declaradas propensas a inundações", diz. No terreno, as equipas do Governo continuam à procura de desaparecidos.
Foto: DW/A. Zacarias
Grandes prejuízos
Vários habitantes tentam recuperar alguns dos seus pertences. Assifa Pedro é uma mãe de 35 anos que a DW África encontrou no bairro Chingodzi, em Tete, a tentar recuperar cadeiras que perdeu com as enxurradas. Os prejuízos são muitos. "Não tem uma casa que não caiu. Toda a roupa, o congelador, foi embora… Eu estava a dormir e ouvi água. E consegui tirar as crianças."
Foto: DW/A. Zacarias
Enxurradas incomuns
Artur Chipenhu tenta recuperar as chapas da sua casa, que saíram do lugar com as chuvas. Vários habitantes dizem que não se lembram de enxurradas como estas, nesta zona. Além das casas destruídas, a ponte sobre o rio Rovubué, que separa a cidade de Tete e a vila de Moatize, também ficou danificada.
Foto: DW/A. Zacarias
Ponte interditada a veículos
Na ponte, a circulação de veículos foi interditada. Um dos tabuleiros saiu do lugar. Por enquanto, não se sabe quando os automóveis poderão voltar a circular. A alternativa é a segunda ponte sobre o rio Zambeze (Kassuende). Aqui, no rio Rovubué, os transportadores semicoletivos estão a levar os passageiros até à ponte e estes atravessam-na a pé, apanhando transporte na outra margem.
Foto: DW/A. Zacarias
Mais desalojados
Depois da cidade de Tete e do distrito de Moatize, as cheias atingiram os distritos de Doa e Mutarara. Em Doa, já há registo de mais de 1.400 famílias afetadas e 1 morte. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) garante estar a monitorar a situação.