Família de albino raptado há quatro anos queixa-se da inércia das autoridades na resolução do caso. Polícia diz que a investigação está agora nas mãos da Procuradoria.
Pedro Francisco César continua à espera de notícias sobre o rapto do seu irmãoFoto: DW/S. Lutxeque
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Augusto César, um cidadão moçambicano com albinismo, foi raptado há mais de quatro anos. Até hoje, desconhece-se o seu paradeiro e quem o raptou. A família do jovem diz que a polícia prometeu esclarecer o caso, mas ainda não há resultados.
"Passaram quatro anos desde o dia em que desapareceu até agora, e não temos nenhuma informação satisfatória'', diz Pedro Francisco César, o irmão mais novo de Augusto.
César, também albino, acrescenta que a família colaborou sempre com as autoridades na investigação do rapto e chegou mesmo a denunciar alguns suspeitos, que nunca foram levados à Justiça.
Moçambique: Rapto de albino por esclarecer
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"Os suspeitos ainda estão livres. Não se investiga nada, está tudo estático. Nós [a família] ficamos dececionados pelo modo como funcionam as autoridades."
No entanto, a família do jovem raptado a 17 de dezembro de 2014 ainda tem fé na divulgação de esclarecimentos sobre o caso.
Ativistas descontentes
Na província nortenha de Nampula, a perseguição, rapto e assassinato de pessoas albinas deixou de ser tema de conversa no seio da população, mas os albinos consideram que ainda não venceram a batalha, afirma Pedro Francisco César em entrevista à DW África.
César também é membro da Associação "Amor à Vida", uma organização que defende os albinos moçambicanos.
"Acredito que reduziram [as perseguições e raptos de albinos], mas não digo que acabou. Nunca se sabe. Talvez as pessoas que fazem isso estejam a traçar novas estratégias: como fazer e onde fazer'', refere.
Polícia em Nampula diz que caso de Augusto César está nas mãos da ProcuradoriaFoto: DW/S. Lutxeque
Caso nas mãos da Procuradoria
Entretanto, a polícia moçambicana em Nampula esclarece que o processo de Augusto César já não está nas mãos da corporação, mas sim da Procuradoria da República.
"Este caso já não está sob alçada da polícia", afirma Zacarias Nacute, porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique em Nampula.
"A polícia é a primeira instância a lidar com os casos criminais. No entanto, após a polícia fazer o seu trabalho, esses casos são entregues a outras instâncias de controlo social - falo da Procuradoria - que dão prosseguimento aos casos para apurar a veracidade e todos os outros intervenientes da ação criminal."
Esta não é a primeira vez que a polícia, depois de garantir que está a investigar um crime, remete o caso a outras instâncias judiciais. O caso mais recente diz respeito ao assassinato do antigo edil de Nampula, Mahamudo Amurane - as autoridades policiais disseram ter feito tudo ao seu alcance e que não lhes compete prosseguir com o esclarecimento do crime, porque o processo foi remetido a instâncias superiores.
Homenagem fotográfica aos albinos moçambicanos
Da autoria do fotógrafo brasileiro Davy Alexandrisky, a mostra "Preto Branco" é composta por 45 fotos e abriu ao público no início de agosto no Centro Cultural Brasil-Moçambique, em Maputo. Uma celebração das diferenças.
Foto: D. Alexandrisky
Celebração das diferenças
As fotos foram recolhidas em Moçambique pelo fotógrafo e artista visual brasileiro Davy Alexandrisky. A exposição procura mostrar o quotidiano dos albinos no trabalho, nos momentos de lazer e na vida privada, e sensibilizar para a luta pelos seus direitos. "A exposição é a celebração da vida plena a partir das diferenças", afirma Alexandrisky.
Foto: L. C. Matias
"Somos todos iguais"
Segundo Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida, parceira do projeto, a principal mensagem que se pretende transmitir é de igualdade entre todos, respeito pelos direitos e dignidade de cada um. Munjovo defende a implementação de medidas de proteção dos albinas, como o acesso à educação, saúde e emprego, para melhorar a condição destas pessoas.
Foto: L. C. Matias
Afetos sem fronteiras
O amor, o carinho e o afeto ao próximo são marcas dominantes nestas fotos. "Homens e mulheres, negros e negras, não deixam de o ser por falta de melanina no organismo", escreve o autor da exposição.
Foto: L. C. Matias
Sensibilizar para os direitos dos albinos
Visitantes posam ao lado das fotografias no Centro Cultural Brasil-Moçambique, num gesto de empatia e cumplicidade com a causa. Em alguns países africanos, há registo de raptos e assassinatos de pessoas albinas, praticados por indivíduos que acreditam que poções ou amuletos produzidos a partir de partes do seu corpo têm poderes mágicos.
Foto: L. C. Matias
Pele diferente, hábitos iguais
Em Maputo, o local da exposição, uma jovem albina recorre a um serviço ambulante de estética para envernizar as unhas. O objectivo da mostra é precisamente demonstrar que os albinos são iguais aos outros seres humanos, apesar de necessitarem de uma atenção especial para proteger a vista e a pele da radiação solar.
Foto: Davy Alexandrisky
Poses espontâneas
As 45 fotografias que compõem a exposição "Preto Branco" foram captadas espontaneamente. Cada um posou ao seu gosto, de acordo com o autor Davy Alexandrisky. Na imagem, um par de jovens - ela albina, ele não - distribui música e sorrisos.
Foto: D. Alexandrisky
Menos casos de raptos
Não tem havido raptos e assassinatos de albinos nos últimos tempos, contrariamente ao terror que se vivia nesta altura em 2016, afirma Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida. Munjovo estima que se tenham registado 20 casos de raptos nos primeiros sete meses deste ano, contra cerca de 50 em igual período no ano passado.
Foto: D. Alexandrisky
Luta pelos direitos dos albinos
Moçambique tem cerca de 20 mil pessoas albinas, segundo dados oficiais. Estima-se que, deste número, 70% sejam crianças, adolescentes e jovens. A maior parte dos albinos vêm de famílias carenciadas e são vulneráveis. O país celebrou pela primeira vez o Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo em 2016 e aprovou um plano para combater a violência contra a pessoa albina.
Foto: Davy Alexandrisky
"Delicadeza impressionante"
Mussagy Jeichande, um dos visitantes, diz que a exposição consegue sensibilizar para o drama que os albinos sofrem em pleno século XXI. Considera que o fotógrafo conseguiu trazer a grande realidade de que o albino é um ser humano como qualquer outro. "A exposição revela, com profundidade, a sensibilidade do albino, do ponto de vista estético, de harmonia e da sensibilidade humana", afirma.