Moçambique: Já 62 mil pessoas fugiram de Mocímboa da Praia
Lusa
17 de agosto de 2021
Autarca de Mocímboa da Praia, que considera que "guerra não tem base nem objetivo", diz ainda que rasto de destruição deixado pelos rebeldes durante mais de um ano é profundo.
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"Nós tínhamos um total de 62.390 mil pessoas, que hoje está dispersa em todos os cantos do país. Uns estão em Pemba [a capital provincial de Cabo Delgado] e outros estão fora, em províncias como Nampula", disse Cheia Carlos Momba, presidente da autarquia de Mocímboa da Praia, em entrevista à Lusa em Pemba.
Em mais de um ano nas "mãos" de rebeldes, a vila costeira de Mocímboa da Praia, uma das principais do norte da província de Cabo Delgado, foi saqueada profundamente, tendo os insurgentes destruído quase todas as infraestruturas públicas e privadas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.
"Eles queimaram tudo", declarou o presidente daquela autarquia, acrescentando que algumas casas que foram poupadas são as mesmas que estes grupos usavam para habitar.
"Depois de eles tomarem aquela vila, tornaram-na na sua base. Suspeito que mesmo o ataque a Palma [em 24 de março deste ano] foi originado e preparado em Mocímboa da Praia", acrescentou.
Imagens das tropas sul-africanas em Cabo Delgado
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Cheia Carlos Momba hoje dirige os destinos da vila a partir de Pemba, que fica a mais de 340 quilómetros de Mocímboa da Praia.
Na capital provincial de Cabo Delgado, o governo local instalou provisoriamente um gabinete para os funcionários do Conselho Municipal de Mocímboa da Praia.
"Perdemos quase seis funcionários com estas incursões de malfeitores e atualmente trabalhamos neste escritório improvisado. Os serviços não estão a parar", declarou Cheia Carlos Momba, que considera não haver "qualquer lógica" na atuação dos rebeldes.
"Aquela guerra não tem base nem objetivo. Eles não têm qualquer perspetiva no futuro", frisou.
A vila costeira de Mocímboa da Praia, uma das principais do norte da província de Cabo Delgado, foi a região em que os grupos armados protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017.
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Terrorismo é "travão" ao investimento
Entretanto, e em declarações à emissora pública Rádio Moçambique, António Niquice, presidente da Comissão do Plano e Orçamento do parlamento moçambicano, afirmou que o "terrorismo e os raptos são um problema sério, porque a segurança é condição 'sine qua non' para os investimentos".
De acordo com António Niquice, é fundamental que a estabilidade seja reposta nas áreas afetadas pela violência, para que os programas de desenvolvimento social e económico sejam retomados.
"Não existe nenhum investidor que vai colocar o seu dinheiro, enquanto prevalecer a ideia de que Moçambique é um país inseguro", declarou o também deputado pela bancada da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.