Moçambique: 86 mil pessoas sem água potável em Manica
Bernardo Jequete (Chimoio)
28 de julho de 2018
Taxa de cobertura de abastecimento no distrito de Machaze, a sul da província de Manica, ronda os 40%. Muitos habitantes consomem água imprópria e têm de percorrer longas distâncias para chegar à fonte mais próxima.
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Mais de 86 mil pessoas, de um total de 142 mil habitantes, carecem de água potável no distrito de Machaze, a sul da província de Manica, centro de Moçambique. Neste momento, a taxa de cobertura de abastecimento situa-se em 40%, servindo 56 mil e 500 pessoas em todo o distrito.
Devido à insuficiência de fontes de água no distrito de Machaze, a população carenciada consome água imprópria extraída de poços tradicionais, rios e charcos. Muitos têm de percorrer longas distâncias para encontrar a fonte mais próxima.
Nhacha Mário Gonçalo, residente na localidade de Masvissanga, é uma das pessoas afetadas pela falta de água potável:"Nós íamos buscar [água] ao riacho, onde se lavava a roupa. Era onde procurávamos água para beber, então sofríamos muito. Estivemos a beber água suja".
São frequentes os casos de doenças por consumo de água imprópria.Nhacha diz que o Governo distrital tem estado a responder paulatinamente às reclamações da população, na medida em que transforma algumas fontes em pequenos sistemas de água.
Transformar furos em sistemas
Ouvida pela DW África, a administradora do distrito de Machaze, Joana Guinda, afirma que existem atualmente 128 furos operacionais no distrito, registando-se um défice de 287 fontes. Para além destas, funcionam ainda em Machaze 23 pequenos sistemas de abastecimento de água e 73 bombas manuais que estão instaladas nos principais aglomerados do distrito.
Joana Guinda garante que, para minimizar o drama, estão em curso acções com vista à transformação de furos em pequenos sistemas de abastecimento de água. Neste momento, as atenções estão viradas ao povoado de Chivavisse, na localidade de Chipudje.
António João Batista, régulo de uma povoação na localidade de Sambassoca, em Machaze, saúda estas medidas: "Registamos com satisfação a transformação de nove furos de água para pequenos sistemas, onde o abastecimento da água é mais abrangente".
O régulo afirma que a operação contribuiu para diminuir "as grandes distâncias" que a população tinha de percorrer em busca de água potável e, ao mesmo tempo, reduziu "filas de espera das mesmas nas fontes".
A população de Machaze é campeã em encontrar alternativas para recolher e poupar água. Uma pequena chuva basta para reter o precioso líquido, através das famosas caleiras montadas nas residências, na sua maioria, precárias e cobertas de capim, bem como nos hospitais e estabelecimentos de ensino.
Presidente reitera compromisso
Moçambique: 86 mil pessoas sem água potável em Manica
O problema da falta de água no distrito foi também abordado pelo Presidente da República de Moçambique numa visita recente à província de Manica. Num comício popular na localidade de Sambassoca, em Machaze,a 14 de julho, Filipe Nyusi garantiu que as autoridades estão a trabalhar para encontrar uma solução.
"Quando estivemos em 2014 e 2015, falámos de água para a nossa vila de Machaze. Dos furos criou-se o sistema de água, embora pequeno. Já tínhamos assumido esse compromisso e continuamos com o compromisso de fazer mais furos ao longo das localidades e povoações e mesmo aumentar a capacidade da própria vila de Machaze", afirmou o chefe de Estado.
À DW África, a administradora do distrito, Joana Guinda, garantiu que trabalho idêntico de transformação de furos em pequenos sistemas de abastecimento de água vai ser realizado em diversas localidades, incluindo Sambassoca, Chipudje, Mavende, Mavissanga e Chipopopo.
O trabalho está a ser executado em parceria com UNICEF e deverá culminar com o aumento da taxa de cobertura do abastecimento de água potável no distrito dos actuais 40 para 56 por cento.
No distrito de Machaze, a abertura de furos é dificultada pelo problema de profundidade dos lençóis freáticos, os reservatórios subterrâneos de água doce, havendo igualmente situações de água salubre que jorra nalgumas fontes.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.