Quatro mortos a dez dias das eleições em Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
1 de outubro de 2018
Primeiros quatro dias da campanha para as autárquicas, registaram quatro mortos e sete feridos. Segundo a polícia outras cinco pessoas foram detidas e identificados, igualmente, 10 ilícitos eleitorais.
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Apesar destes incidentes, a campanha é descrita, quer pelos observadores, quer pelas autoridades, como estando a decorrer na generalidade, de forma pacífica.
Inácio Dina, porta-voz do Comando Geral da Polícia, afirma que se vive um clima de tranquilidade no país.
"Nós classificamos como estando a campanha a decorrer num clima de ordem, segurança e tranquilidade públicas.”
Na mesma linha, o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Paulo Cuinica, destaca que se vive um ambiente de fraternização.“Tem sido caraterizado por festa. Há relatos de cruzamento de caravanas, saudações entre caravanas, o que tem sido bastante salutar”.
Marchas e desfiles
Na presente campanha, que entrou esta segunda-feira (01.10) na última semana, os partidos concorrentes têm privilegiado a realização de marchas e desfiles, segundo refere o Boletim Processo Político em Moçambique - Eleições Locais 2018, citando correspondentes nas 53 autarquias moçambicanas.
A fonte observa que, a polícia recebeu uma formação especial antes da campanha e este ano tem estado, não só a acompanhar as caravanas dos partidos, como também a prevenir conflitos e a violência quando as caravanas se cruzam.
Mais vale prevenir do que remediar
Para o Centro de Integridade Pública (CIP), a polícia parece assumir uma posição neutra em muitas cidades, sem qualquer intervenção em casos de violência contra a oposição.
No passado sábado (29.09), a polícia usou gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar membros e simpatizantes do Movimento Democrático de Moçambique, no Guruè, na província da Zambézia, que tentavam desviar o itinerário da caravana em direção à sede da FRELIMO.
Descontrolo sem dedo políticoO Mandatário do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) no Guruè, Nelson Albino, lamentou a atitude dos seus apoiantes, revelando que o partido tinha perdido o controlo devido ao elevado número de manifestantes.
“Eu pedi desculpas ao Comandante (da polícia), e disse que foram os nossos membros que invadiram. Não foi o presidente do município que mandou e nem fui eu como mandatário”.
Em Marromeu, província de Sofala, a RENAMO acusou a polícia de estar a posicionar forças da unidade de intervenção rápida, para favorecer o partido no poder, a FRELIMO.
Viriato Cândido, mandatário da RENAMO, caraterizou a presença de militares do partido como defesa da campanha e não para qualquer ataque às autoridades máximas.
“Alertamos que nós estamos a receber os nossos militares a partir de Satunjira (na serra da Gorongosa). Os militares estão cá, a participar na campanha. Não vieram entrar em choque com a polícia, mas sim para nos defender em caso de uma situação anómala, em caso de uma situação ilícita ao processo eleitoral”.
Pacto políticoPor sua vez, o Comandante distrital da Polícia em Marromeu, Lancerda Rafael, desmentiu as alegações da RENAMO esclarecendo que, o distrito recebeu apenas forças especiais de guarda fronteiriça, numa missão destinada a reforçar as patrulhas.
Moçambique: Quatro mortos a dez dias das eleições autárquicas
“Está a confundir. O uniforme é o mesmo, mas há uma pequena diferença nas boinas. Se vocês virem bem, os que estão aqui, usam a boina verde, enquanto que a unidade de intervenção rápida, usa boina preta.”
Lancerda Rafael acrescentou ainda não ter conhecimento da movimentação de militares da RENAMO.
“O que nós sabemos é que o Presidente da República e a liderança da RENAMO fizeram um acordo no sentido de que as hostilidades cessassem. A polícia não vai, neste momento, responder a provocações”, concluiu.
Produção de chá em Gurué
As maiores plantações de chá de Moçambique localizam-se em Gurué. Para muitos, apesar da baixa remuneração desta atividade, é a única hipótese de terem um trabalho para sustentar a família.
Foto: DW/M. Mueia
Colheita matutina inicia o processo
A colheita de folhas de chá é feita pela madrugada, entre as 4 e as 7 horas. Depois, as folhas seguem para a fábrica, onde serão colocadas em máquinas para a secagem, antes de serem trituradas e transformadas em cascas de chá - o produto final. Diariamente, os trabalhadores têm a meta de colher quantidades de folhas equivalentes a 50 quilos. Se não conseguirem, o salário será ainda mais “magro”.
Foto: DW/M. Mueia
Clima favorável
Devido à zona montanhosa, as temperaturas ficam abaixo dos 20 graus em Gurué. No período de inverno, entre maio e junho, as plantas de chá produzem menos folhas. Em consequência, há menos mão-de-obra sazonal a produção é menor, segundo os gestores e especialistas desta cultura.
Foto: DW/M. Mueia
Baixa remuneração
A maior parte da mão-de-obra contratada para a colheita de folhas de chá é composta por pessoas mais velhas. Os jovens não abraçam a atividade devido aos salários que não são sustentáveis. Em média, o salário diário varia entre 100 a 120 meticais (cerca de 1,50€), dependendo do esforço individual - quem colher mais quantidade recebe mais.
Foto: DW/M. Mueia
Chazeiras de Moçambique - Gurué
A fábrica tem a capacidade industrial de 50 toneladas de folhas verde de chá, equivalente a 10 toneladas de chá ensacado. Entre principais mercados de exportação estão o Dubai, a Alemanha, a Polónia, os Estados Unidos e Índia. A empresa tem 200 trabalhadores efetivos e 2000 trabalhadores locais sazonais.
Foto: DW/M. Mueia
Segurança no trabalho
A segurança é rigorosa na fábrica, para operários e visitas. As medidas de precaução estão escritas na porta principal da indústria e nas paredes que dão acesso direto às máquinas de processamento do chá.
Foto: DW/M. Mueia
Colher chá: opção de recurso
Baptista Alexandre Ricardo, de 55 anos. Trabalha na colheita de folhas de chá há quinze anos. É o trabalhador sazonal com mais tempo de casa na empresa "Chazeiras de Gurué". Para ele, foi a alternativa possível. Quando era jovem, sonhava com um bom emprego, que nunca conseguiu. Como alternativa, acabou por ir para a fábrica onde se habituou à atividade que exerce há mais de uma década.
Foto: DW/M. Mueia
Várias empresas chazeiras
A Sociedade de Desenvolvimento da Zambézia é uma das companhias produtoras de chá. Localiza-se no Bairro Murece, nome derivado da cadeia montanhosa que está nas imediações. A companhia produz, processa e exporta o chá. Um dos países para onde exporta é o Quénia. A nível nacional, o chá desta companhia é mais consumido na província de Sofala, Manica e na cidade de Quelimane.
Foto: DW/M. Mueia
Sacrifícios pela família
Galhardo Gemusse (esquerda) e Estefânio Janeiro (direita), são dois companheiros incansáveis. Caminham até ao depositário das folhas do chá. Trabalham na colheita do chá há 7 anos, para poderem sustentar as famílias. Desesperado com a vida económica e profissional, Estefânio, de 24 anos, não teve muita escolha. Casou-se cedo e tem uma família para cuidar.
Foto: DW/M. Mueia
Lenha é essencial na secagem das folhas
Além da energia elétrica, a lenha é fundamental para a preparação das folhas verdes de chá. Os troncos das árvores são postos em fogueiras, para secagem das folhas. Nesta área, os trabalhadores, na sua maioria, são jovens. A sua função é carregar manualmente os troncos até à fogueira. Este setor funciona 24 horas por dia, em turnos rotativos.
Foto: DW/M. Mueia
Faltam oportunidades para mulheres em Gurué
Alura Jorge é uma das poucas mulheres sazonais na colheita na companhia Chazeiras de Moçambique. Está há um mês neste trabalho. Segundo explica, a Cidade de Gurué é desprovida de oportunidades de empregos para mulheres solteiras.