Moçambique abate mais de cem terroristas em Cabo Delgado
Delfim Anacleto
29 de outubro de 2020
As Forças de Defesa e Segurança moçambicanas anunciaram a morte de mais de cem terroristas em Cabo Delgado. Operações contra a base "Síria" dos insurgentes resultaram na destruição de dezenas de viaturas.
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Os últimos dias foram de intensos combates no teatro operacional norte entre as Forças de Defesa e Segurança e os terroristas, que operam em Cabo Delgado desde 2017. O anúncio foi feito pelo comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, durante a abertura do XX Conselho Coordenador da Polícia, que decorre em Pemba desde esta quinta-feira (29.10).
De acordo com o chefe da PRM, ataques recentes das forças governamentais visaram a base "Síria", onde mais de 89 terroristas foram abatidos. "Nas últimas 72 horas, as Forças de Defesa e Segurança estacionadas no teatro operacional norte realizaram operações dirigidas concretamente à base 'Síria', onde destruíram seis acampamentos dos terroristas", revelou.
Segundo Bernardino Rafael, foram também destruídas 15 viaturas que os terroristas usavam nas incursões contra as comunidades, além de 20 motorizadas e três toneladas de diversos produtos alimentares que saquearam às comunidades.
Esta quinta-feira, decorreram mais operações contra a referida base. "Esta manhã tivemos uma operação repentina ainda contra a 'Síria', onde os surpreendemos a cozinhar. Destruímos 16 panelas de 50 litros com os seus produtos, 19 terroristas encontraram a morte imediata quando tentaram abrir fogo contra as FDS. Diversos produtos foram destruídos e estamos no terreno até este momento", disse ainda Bernardino Rafael.
Cabo Delgado: Governo cria aldeia para deslocados em Metuge
02:26
Cidadãos pedem reforço policial
O XX Conselho Coordenador da Polícia discute, entre vários pontos, a situação da ordem e segurança públicas, a saúde interna dos seus agentes em tempos de Covid-19, o plano de proteção da quadra festiva 2020-2021 e também a conduta da corporação.
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Cidadãos que falaram aos microfones da DW África, em Pemba, esperam que a reunião ao mais alto nível da PRM resulte no reforço do efetivo policial e na intensificação dos patrulhamentos na autarquia.
Segundo o munícipe Jussuino, têm ocorrido assaltos no período noturno. "A patrulha deveria ser incrementada, pois atualmente só acontece nos centros urbanos, principalmente na estrada. Na periferia, nos bairros de Natite ou Cariacó, lá não acontece, não há", lamenta.
Baisse, um mototaxista de Pemba, pede medidas enérgicas contra alegados atos de corrupção de alguns agentes da polícia de trânsito. "No dia a dia, quando eles [agentes da polícia de trânsito] te param e você mostra todos os seus documentos completos, mesmo assim levam as chaves da sua mota. Ele pode vir a pedir-te um valor de 50 ou 100 meticais [entre 60 cêntimos e 1,20 euros]. E, se não tens, rebocam a mota para a esquadra", conta.
O comandante-geral da PRM, Bernardino Rafael, decretou há vários anos tolerância zero à corrupção policial. O XX Conselho Coordenador da Polícia da República de Moçambique termina esta sexta-feira (30.10).
Cabo Delgado: Datas marcantes dos ataques armados
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.