O Ministério Público exige uma indemnização de mais de 900 mil dólares de um ex-ministro dos Transportes e Comunicações e dois altos gestores, que terão recebido suborno da fabricante brasileira de aviões.
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Segundo divulgou o jornal moçambicano CanalMoz nesta quarta-feira (28.02), o valor total da indemnização em meticais chega a 83 milhões. O ex-ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, deve pagar ao Estado 40 milhões de meticais (cerca de 500 mil dólares), enquanto o ex-gestor sénior da Sasol, Mateus Zimba, 33 milhões (cerca de 400 mil dólares), e o ex-presidente das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), José Viegas, 10 milhões de meticias (cerca de 100 mil dólares).
Os três fazem parte do processo que investiga o recebimento de cerca de 800 mil dólares da Embraer, entre os anos de 2008 e 2009, como contrapartida pela compra de duas aeronaves da fabricante brasileira pela LAM. Após a investigação, o Ministério Público (MP) pediu ao Banco de Moçambique que fizesse a correção do valor para que fosse cobrada a indemnização.
Em entrevista à DW, o investigador do Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP), Baltazar Fael, disse que a acusação poderá ser "uma luz no fim do túnel" para que outros casos de corrupção possam ser investigados no país.
DW África: O que o CIP acha do valor estipulado para estas indemnizações?
Baltazar Fael (BF): Eu penso que o valor estipulado vai de encontro com aquilo que, neste caso, foi a denúncia da negociação que eles [os arguidos] fizeram com a Embraer. E o Banco de Moçambique atualizou os 800 mil dólares que se falava na altura, para um valor de hoje.
DW África: O que é que este anúncio do MP significa, numa altura em que casos como este prejudicam a imagem de Moçambique no contexto internacional?
BF: É sempre mau, porque, de facto, as pessoas começam a olhar para Moçambique como um país em que a corrupção é algo que não é combatido de forma eficaz. Mas também, se há uma acusação e houve uma investigação, e que esta acusação pode induzir a condenação dos indivíduos, de alguma forma traz um alento ao aparelho judiciário em Moçambique, que está claramente em descrédito no sentido de que só se procura combater a pequena corrupção e não a grande. Este caso é um caso de média corrupção, mas claramente que traz uma luz no fundo do túnel de que as instituições da Justiça podem, neste caso, subir o seu patamar e começar a investigar outros casos de grande corrupção.
DW África: Acha que esta acusação vai ajudar nas próximas negociações com os credores da dívida pública, que cobram mais transparência de Moçambique?
BF: Claramente, não. Se quiser se referir ao caso das dívidas ocultas, cada caso é um caso. O caso LAM-Embraer é um e o caso das dívidas é outro. Portanto, não há aqui nenhuma ligação possível. Não acredito que os doadores estejam preocupados com este caso da LAM, porque não lhes afeta, claramente. Pode afetar a imagem do país, mas não afeta os financiadores que emprestaram dinheiro ao Estado moçambicano.
DW África: A acusação destes ex-dirigentes ocorreu devido ao caráter transnacional do caso, ou de facto a Justiça moçambicana está mais atenta aos crimes de corrupção que afetam o Estado?
Moçambique: Acusação no caso Embraer é "uma luz no fim do túnel"
BF: É difícil dar uma resposta taxativa, porque nós mantemos em Moçambique uma ação continuada com vários casos de grande corrupção, que são acusados e julgados pelas nossas instâncias. Se for reparar, já houve ex-ministros que foram condenados por envolvimento em casos de corrupção, mas isso foi em 2008 e 2009. Há um espaçamento muito grande naquilo que é a investigação de casos de grande corrupção. Claro que o MP não vai forçar o surgimento destes casos, mas, por outro lado, acreditamos que ainda há várias situações de corrupção grande, média e pequena neste país. O MP não investiga porque é mais uma instituição reativa do que proativa, sempre fica à espera de denúncias de jornais, ou de instituições internacionais para poder começar a agir. O que nós queremos ver do nosso MP e do Gabinete Central de Combate à Corrupção, em particular, é que sejam mais proativos onde existem indícios de cometimento de crimes. Procurar, portanto, fazer uma investigação de forma cautelar para ver se consegue reunir elementos que fundamentam essas suspeitas. Estamos céticos há muito tempo em relação às nossas instituições da Justiça, e elas terão de fazer um trabalho muito apurado no sentido de convencer as pessoas de que mudaram de atitude.
Moçambique: O que foi feito ao dinheiro destas obras?
É a pergunta de vários cidadãos de Massinga, província moçambicana de Inhambane. Cada vez há mais obras na vila, que nunca chegam ao fim.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras atrasadas
As obras arrastam-se no município de Massinga, sul de Moçambique, e os cidadãos querem saber porquê. Os empreiteiros ganham obras de construção civil na região, mas muitas são abandonadas após ser pago 50% do dinheiro para a sua execução, segundo o Conselho Municipal. A Justiça já notificou alguns empreiteiros para explicarem os atrasos, mas as estradas e avenidas continuam em péssimas condições.
Foto: DW/L. da Conceição
Mercado por construir
A União Europeia e a Suécia financiaram a construção de um mercado grossista em Massinga. Segundo a placa de identificação, as obras começaram a 28 de setembro de 2017 e deviam ter terminado a 28 de janeiro, mas até agora estão assim. O município remete as responsabilidades para o empreiteiro; contactada pela DW, a empresa negou explicar o motivo do atraso nas obras.
Foto: DW/L. da Conceição
Jardim perdido
O Conselho Municipal de Massinga gastou mais de 1,5 milhões de meticais (20.000 euros) para construir aqui um jardim etnobotânico - um projeto com a participação do Governo central e da Universidade Eduardo Mondlane. Mas as plantas colocadas aqui desapareceram e o terreno está abandonado. O Município promete que o jardim voltará a funcionar em breve, embora falte água para regar as plantas.
Foto: DW/L. da Conceição
Estrada sem fim à vista
Os trabalhos neste troço de cinco quilómetros duram há mais de três anos. O município de Massinga culpa o empreiteiro pela demora; a DW tentou contactar a empresa, sem sucesso. Segundo o município, aos 4,8 milhões de meticais (63 mil euros) pagos inicialmente ao empreiteiro foram acrescentados outros 3,9 milhões (51 mil euros) para continuar as obras, que deviam ter terminado em outubro.
Foto: DW/L. da Conceição
Estrada acabada?
25 de setembro de 2017 era a data de "entrega" desta estrada, segundo a placa de identificação. Mas a via, que parte da EN1 até ao povoado de Mangonha, continua em estado crítico. A obra está orçada em cerca de 1,9 milhões de meticais (quase 25 mil euros). Tanto a Administração Nacional de Estradas, delegação de Inhambane, como o Conselho Municipal recusaram comentar este assunto.
Foto: DW/L. da Conceição
Mais obras por acabar
Os trabalhos da pavimentação desta avenida também já deviam ter terminado, mas as obras continuam. O custo: cerca de 3,9 milhões de meticais (cerca de 51 mil euros). Mas a avenida continua por pavimentar. A DW tentou perguntar o motivo da demora à empresa Garmutti, Lda, responsável pela execução da obra, sem sucesso.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta transparência
Segundo o regulamento de contratação de empreitadas de obras públicas, nos locais de construção devem constar as datas de início e do término dos trabalhos. Mas não é isso que acontece aqui. Segundo um relatório do governo local, um ano depois desta obra começar, só 30% dos trabalhos foram concluídos. O empreiteiro está incontactável; a empresa não tem escritório em Inhambane.
Foto: DW/L. da Conceição
Fatura sobre fatura
O orçamento inicial para os trabalhos de reabilitação no Hospital Distrital de Massinga rondava os dois milhões de meticais (cerca de 26 mil euros), mas, meses depois, o custo aumentou 600 mil meticais (8.000 euros).
Foto: DW/L. da Conceição
Edifício milionário
Este edifício custou à edilidade mais de 40 milhões de meticais (acima de 500 mil euros), sem contar com os equipamentos novos - cadeiras, secretárias ou computadores. Alguns empreiteiros acham estranho que tenha custado tanto dinheiro, porque o material de construção foi adquirido na região. Em resposta, o município justifica os custos com a necessidade de garantir o conforto dos funcionários.
Foto: DW/L. da Conceição
Adjudicações continuam
O município de Massinga continua a adjudicar novas empreitadas apesar de muitas obras não terem terminado. Vários residentes dizem-se enganados pelo edil, Clemente Boca, por não cumprir as promessas eleitorais.
Foto: DW/L. da Conceição
Campo por melhorar
Todos os anos, a Assembleia Municipal de Massinga aprova dinheiro para melhorar este campo de futebol, mas o campo continua a degradar-se. Segundo membros da assembleia, o dinheiro "sai" dos cofres públicos, mas nada muda e os jogadores "sempre reclamam". Em cinco anos, terão sido gastos 30 mil meticais (cerca de 400 euros). Nem o edil, nem os gestores do campo dizem o que foi feito ao dinheiro.
Foto: DW/L. da Conceição
"Fazemos sozinhos"
Devido à demora na construção de mercados e bancas, os residentes da vila de Massinga têm feito melhorias por conta própria, para manterem os seus produtos em boas condições. Questionados pela DW, os vendedores disseram que preferem "fazer sozinhos", porque se esperarem pelo município nunca sairão "do sol, da chuva e da poeira".