Moçambique adia recenseamento eleitoral para 15 de abril
Lusa
27 de março de 2019
O Governo moçambicano adiou a data de início do recenseamento eleitoral de 1 para 15 de abril, devido às consequências da passagem do ciclone Idai pelo centro do país, anunciou a porta-voz do Conselho de Ministros.
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"O Governo aprovou o decreto que altera o período de recenseamento eleitoral", referiu Ana Comoana. Em vez de decorrer de 01 de abril a 15 de maio, o registo dos eleitores para as eleições gerais deste ano vai ser feito entre 15 de abril e 30 de maio.
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Pela primeira vez, além de escolherem o parlamento e o Presidente da República, os moçambicanos vão eleger os governadores das 11 províncias, que deixam de ser nomeados pelo poder central.
A mudança faz parte do acordo entre o Governo, da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição.
Um dos piores desastres naturais em África
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi fez pelo menos 786 mortos e afetou 2,9 milhões de pessoas nos três países, segundo dados das agências das Nações Unidas. Moçambique foi o país mais afetado, com 468 mortos e 1.522 feridos já contabilizados pelas autoridades moçambicanas, que dão ainda conta de mais de 127 mil pessoas a viverem em 154 centros de acolhimento, sobretudo na região da Beira, a mais atingida.
Manica: Milhares de desalojados devido a ciclone Idai
01:41
O ciclone Idai é um dos piores desastres naturais na história da África, afirmou esta terça-feira (26.03) o secretário-geral da ONU, António Guterres. As autoridades moçambicanas adiantaram que o ciclone afetou cerca de 800 mil pessoas no país, mas as Nações Unidas estimam que 1,8 milhões precisam de assistência humanitária urgente.
Entre os danos materiais, as autoridades moçambicanas registam mais de 90 mil habitações atingidas, das quais 50.619 ficaram totalmente destruídas, 24.556 parcialmente destruídas e 15.784 inundadas. Foram ainda danificadas ou destruídas 3.202 salas de aulas, afetando 90.756 alunos, bem como 52 unidades de saúde. Quase 500 mil hectares de terras ficaram inundadas.
Cruz Vermelha monta hospital de campo na Beira
A Cruz Vermelha Canadiana vai montar um hospital de campo de emergência na cidade da Beira, na sequência da devastação originada pelo ciclone Idai, anunciou a instituição em comunicado. O hospital conta com 25 elementos, incluindo médicos, enfermeiros e técnicos, e vai "facultar cuidados de saúde urgentes às comunidades devastadas pelo ciclone tropical Idai".
Os elementos da Cruz Vermelha, assim como três veículos Land Cruiser (que vão disponibilizar cuidados de saúde móvel) e ainda 53 toneladas de material médico partiram de Otava a bordo de um Boeing 747 de carga e chegam esta quarta-feira (27.03) a Moçambique.
O hospital terá um centro cirúrgico, uma maternidade e salas de consulta. A unidade vai assegurar primeiros socorros, operações cirúrgicas, suporte de vida avançado, cuidados noturnos para cerca de 50 pacientes, 200 consultas por dia, serviços para crianças e ainda apoio psicológico.
"Infelizmente, sabemos que alguns dos maiores desafios de saúde mental ainda precisam de ser superados. A Cruz Vermelha Canadiana, com o apoio de alguns parceiros, vai fornecer apoio médico vital para aliviar a tremenda pressão que tem sido colocada nos serviços locais, incluindo a enfermeiros e médicos que têm trabalhado sem parar prestando cuidados urgentes", disse Chiran Livera, diretor de Operações da Cruz Vermelha Canadiana.
Ciclone Idai: Crise humanitária no centro de Moçambique
Pelo menos 447 pessoas morreram e centenas de milhares ficaram desalojadas devido a ciclone Idai. É a "pior crise humanitária na história recente de Moçambique", diz a Cruz Vermelha. Autoridades temem eclosão de doenças.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Tragédia em Moçambique
Todos os dias continuam a chegar pessoas a centros de acolhimento, todos os dias são anunciados mais mortos no centro de Moçambique. A extensão dos danos provocados pelo ciclone Idai ainda não é totalmente conhecida. O último balanço das autoridades aponta para, pelo menos, 447 mortos e centenas de milhares de pessoas afetadas.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Vítimas esperam e desesperam
Há pessoas nos telhados à espera de ajuda, mais de uma semana depois da passagem do ciclone Idai. E a ajuda muitas vezes "não chega", diz Anabela Lemos, da organização não-governamental moçambicana Justiça Ambiental. "O povo precisa de uma resposta de emergência agora mesmo para sobreviver a esta crise", conclui.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Destruição
O ciclone Idai destruiu uma área superior a 3.000 quilómetros quadrados (cerca de dez vezes a área da cidade de Maputo), estimam as autoridades moçambicanas. Dezenas de milhares de casas ficaram destruídas. O ciclone destruiu ainda estradas e pontes, e árvores e postes caíram nas vias, impedindo a circulação de veículos.
Foto: Reuters/M. Hutchings
"Emergência de mais alto nível"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas diz que a situação no centro de Moçambique é "uma emergência de mais alto nível". A Beira foi a cidade mais afetada. O Governo e organizações não-governamentais têm distribuído ajuda à população. O PAM já deu assistência alimentar de emergência a mais de 115 mil pessoas. Mas as vítimas continuam a alertar que falta comida.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Acesso a comida e água potável
A diretora-executiva da UNICEF Portugal alertou que a situação em Moçambique é "avassaladora". Segundo Beatriz Imperatori, há "milhares de crianças desamparadas e que necessitam de apoio alimentar, de abrigo e de condições de saneamento com caráter de urgência". Helicópteros lançam biscoitos energéticos em zonas isoladas pelas águas. A falta de acesso a água potável é também uma preocupação.
Foto: Reuters/Josh Estey/Care International
Receio de eclosão de doenças
As autoridades temem a eclosão de doenças devido às águas paradas e à falta de saneamento básico. Daviz Simango, edil da Beira, disse em entrevista à agência de notícias Lusa que há registo de várias mortes com sintomas de cólera. E teme-se um "pico" de casos de malária. A Organização Mundial de Saúde aprovou o envio para a região de 900 mil vacinas orais contra a cólera. E são precisas latrinas.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Extensão das inundações
A vermelho é possível ver a extensão das inundações na zona da Beira. A UNICEF alerta que os países afetados pelo ciclone Idai - Moçambique, Zimbabué e Malawi - não conseguem dar conta dos estragos. Por isso, as Nações Unidas pedem que os apoios externos sejam canalizados para a reconstrução de infraestruturas e para o "repensar da economia", diversificando as fontes de rendimento dos cidadãos.
Foto: ESA
Resgate e apoio financeiro
As operações de resgate continuam para encontrar sobreviventes do ciclone em zonas remotas. As Nações Unidas pediram 282 milhões de dólares para apoiar Moçambique nos próximos três meses - para água potável, saneamento, educação e reabilitação dos meios de subsistência dos populares.
Foto: Getty Images/AFP/M. Vermaak
Esforço conjunto
Todos os dias, pessoas são resgatadas. Camiões tentam levar ajuda humanitária a quem precisa, apesar das más condições das estradas na cidade da Beira. Há também um esforço para reconstruir esta localidade o mais depressa possível: a autarquia da Beira autorizou a reconstrução de casas e infraestruturas destruídas pelo ciclone Idai, sem ser necessária uma licença prévia das autoridades.
Foto: pictur- alliance/AP Photo/CARE/J. Estey
Gestão da ajuda às vítimas
A Cruz Vermelha diz que está a ser montado um hospital de campanha na Beira e há outro a chegar. Deverá também chegar um sistema de saneamento e uma unidade de purificação de água para milhares de pessoas. A cidade tem recebido ajuda um pouco de todo o lado. O Centro de Integridade Pública pede que a sociedade civil ajude a gerir os apoios às vítimas do ciclone Idai, para garantir transparência.