Moçambique: Adiada chegada da força militar da SADC?
Leonel Matias (Maputo)
14 de julho de 2021
A chegada a Moçambique da força regional da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, SADC, para apoio do combate ao terrorismo poderá já não acontecer na quinta-feira, 15 de junho.
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Várias fontes em Maputo afirmam que a força em estado de alerta para apoiar no combate ao terrorismo na província nortenha de Cabo Delgado não desembarca na quinta-feira,15 de julho, conforme originalmente agendado. A indicação de que a chegada das tropas internacionais da SADC poderá ser adiada não foi ainda comentada pelas autoridades moçambicanas.
Uma das razões apontadas para o atraso é a não conclusão de detalhes finais em relação a um acordo com Maputo sobre o envio da força. Algumas fontes referem também que falta acertar pormenores logísticos. Ryan Cummings, analista da consultoria Risk Signal, na África do Sul, disse à DW que Moçambique "não quer perder o controlo sobre as operações de contrainsurgência para a SADC", o que poderá complicar o envio das tropas.
No domingo, o Ministro da Defesa, Jaime Neto, disse a jornalistas que uma missão constituída por quatro oficiais do Botsuana tinha chegado a Cabo Delgado para preparar o envio da força da SADC, e que os prazos estavam a ser cumpridos conforme o acordado.
Moçambique precisa de ajuda militar
O envio da força foi decidido numa cimeira extraordinária de Chefes de Estado e de Governo da organização realizada em junho último.
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Dércio Alfazema disse à DW que o assunto do terrorismo em Cabo Delgado é urgente. O analista encara o eventual adiamento da chegada da força com alguma preocupação, sobretudo por causa do mau estar manifestado pela África do Sul pelo facto do Ruanda ter enviado as suas tropas a Moçambique antes da SADC.
Alfazema considera que há outros fatores que podem resultar, igualmente, num eventual atraso. "É preciso ter em conta que uma intervenção da SADC vai carecer necessariamente de apoios para as questões logísticas. Parece que esta questão não está bastante clarificada. Temos também o facto da África do Sul, que é o país que tem uma maior robustez militar e o maior poder económico a nível da região, estar a debater-se com uma crise interna, por conta da prisão do [antigo Chefe de Estado] Jacob Zuma".
Tropas do Ruanda em Moçambique incomodam SADC
O analista Borges Nhambire concorda que a chegada das tropas do Ruanda a Moçambique antes da força da SADC criou um ambiente de desconfiança e desconforto no seio da organização. Mas considera que um eventual adiamento "não tem grande significado no que diz respeito ao envio ou não das tropas".
Para Nhamire, o atraso, a acontecer, resulta de questões operacionais e de organização. "Não é uma questão que vai impedir o envio das tropas. Ou seja, dias mais ou dias menos, as tropas da SADC serão enviadas para Cabo Delgado".
Dércio Alfazema admite que "Moçambique, como país que tem a responsabilidade de estar na linha da frente em termos de busca de soluções e alternativas e apoios necessários para fazer face à situação de Cabo Delgado, não podendo contar com uma prontidão imediata da SADC, claramente vai continuar a buscar apoios bilaterais dentro e fora da região da SADC".
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
Foto: Getty Images/A.G.Farran
Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
Foto: Getty Images/AFP/A. Senna
Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.