Há moçambicanos que continuam com vergonha de frequentar as escolas para adultos juntamente com mulheres. É algo que acontece, por exemplo, na província de Inhambane. Governo tenta mudar esta mentalidade.
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Castigo Luís abandonou a escola por vergonha. Em criança, não estudou, e já em adulto teve a possibilidade de ir à escola, no âmbito de uma campanha de alfabetização.
Mas Castigo Luís diz que ficou embaraçado porque havia demasiadas mulheres na sala, que poderiam olhar para ele com maus olhos. "Vergonha existe. Como lá está cheio de mulheres, eu hei-de ficar envergonhado porque vão-me falar que este aqui não estudou, é burro e analfabeto", conta à DW África.
Por isso, Castigo Luís saiu e trabalha hoje como sapateiro nas ruas de Inhambane. Tem conhecimentos básicos de leitura e escrita, e afirma que prefere ficar a trabalhar para sustentar a família de três filhos do que voltar à escola.
Castigo Luís não é o único a ter vergonha. Em muitos distritos, há casos semelhantes. Ainda não há estatísticas sobre este tema em concreto, mas, ao olhar para o número de adultos a ter aulas nas escolas da cidade de Maxixe, fica-se já com uma ideia da possível dimensão do problema: dos cerca de 450 adultos alfabetizados este ano, só 40 são homens.
Moçambique: Adultos com vergonha de estudar com mulheres
Contrariar o embaraço
Linda Sebastião andou na escola para adultos há alguns anos e não percebe por que é que os homens têm vergonha de estudar com as mulheres.
"Eles devem estudar com as mulheres, porque também são adultas e não podem ter vergonha. Estudar é normal para qualquer pessoa que não estudou no tempo em que era pequeno", considera.
Quando era novo, Benjamin Vilankulo também não pôde estudar, por causa da guerra. Foi à escola mais tarde, já em adulto, e aconselha outros homens a fazer o mesmo.
"Esses homens que não querem estudar é uma falha. Ter vergonha de quê?", questiona. Benjamim diz que "quem não sabe tem de ir aprender" e recorda que "antigamente, não era fácil para as pessoas estudarem, mesmo agora ainda há analfabetos jovens". Por isso, considera, se "a mulher está lá para estudar, os homens deviam fazer o mesmo para, pelo menos, conseguirem escrever, ler e aprender matemática".
O diretor dos serviços distritais de Educação na cidade de Maxixe, Aníbal Naife, reconhece que o problema da não participação dos homens no ensino para adultos é difícil. Mas assegura que o Governo está a trabalhar para mudar a situação.
"Estamos a trabalhar nas comunidades com os líderes comunitários, religiosos e todos os estratos sociais. Estamos a preparar feiras de sensibilização, para mostrar o lado positivo da pessoa alfabetizada. Acreditamos que, em 2019, vamos contar com mais homens na alfabetização", garante.
Inhambane: Um ano depois do ciclone Dineo
A 15 de fevereiro de 2017, a província moçambicana de Inhambane foi fustigada pela tempestade, que destruiu hospitais, escolas e estradas. A solidariedade veio de todos os cantos do mundo, mas danos ainda são visíveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Travessia condicionada
Há precisamente um ano, o ciclone destruiu o tabuleiro da ponte-cais de Maxixe, onde atracavam embarcações que transportam pessoas desta cidade para Inhambane. A ponte ainda aguarda pela reabilitação, que vai custar mais de 35 milhões de meticais (cerca de 460 mil euros). No terreno já se encontra a empresa adjudicada para a reconstrução da ponte, cujo prazo é de 60 dias.
Foto: DW/L. da Conceicao
Solidariedade
Vários centros de saúdes e hospitais foram destruídos e muitos cidadãos ficaram sem atendimento hospitalar. Os parceiros de cooperação ajudaram na reconstrução de algumas infraestruturas, como o Centro de Saúde de Maxixe, que ficou completamente destruído e foi reabilitado sete meses depois do ciclone. Mas ainda há vários centros de saúde que necessitam de obras.
Foto: DW/L. da Conceicao
Tetos novos
Alguns edifícios onde funcionam serviços do Estado ficaram sem telhado por causa do ciclone, como foi o caso da Direção Distrital dos Serviços de Educação e Desenvolvimento Humano na cidade de Maxixe. Mas agora já tem tetos novos e outra imagem.
Foto: DW/L. da Conceicao
De portas fechadas
A loja da operadora móvel Mcel na cidade de Maxixe continua de portas fechadas e não há sinais de uma possível reabilitação. Os funcionários da empresa continuam a trabalhar, mas debaixo de uma árvore. Uma situação que já dura há quase um ano.
Foto: DW/L. da Conceicao
Reabilitação a meio gás
Vários edifícios que ficaram danificados com a passagem do ciclone Dineo pela província só foram reabilitados parcialmente. Como a Escola Secundária 29 de Setembro, em Maxixe. Apenas uma parte do edifício foi reabilitada, incluindo o telhado. Os responsáveis da instituição dizem que não têm dinheiro suficiente para reparar todos os danos causados pela tempestade.
Foto: DW/L. da Conceicao
Bombeiros e polícia
O posto policial, que também alberga os serviços dos bombeiros da cidade de Maxixe, ficou sem telhado e com as paredes danificadas. Mas já foi recuperado e está agora de cara lavada.
Foto: DW/L. da Conceicao
Pavilhão desportivo
A Universidade Pedagógica (UP) de Maxixe precisa de dinheiro para reabilitar o pavilhão desportivo. O local acolhia vários eventos na cidade: casamentos, encontros religiosos e cerimónias governamentais. Mas há já um ano que não se realiza nenhuma atividade no complexo. A direção da UP diz que ainda está à procura de parceiros para conseguir reabilitar o pavilhão.
Foto: DW/L. da Conceicao
Casas por reabilitar
Muitas famílias de Inhambane viram os telhados das suas casas voar com o ciclone. Um ano depois, nem todas conseguiram reabilitar as suas casas e vivem agora em residências sem grandes condições. O mesmo cenário verifica-se nas casas dos diretores das escolas que continuam sem teto. Dizem que há falta de dinheiro devido à crise financeira que assola o país.
Foto: DW/L. da Conceicao
Obras atrasadas
As autoridades locais das zonas que mais sofreram com o ciclone Dineo dizem que as obras para melhorar as vias de acesso estão completamente atrasadas porque o dinheiro adjudicado foi canalizado para as necessidades mais pontuais. Mas prometem continuar os trabalhos quando tiverem mais verbas disponíveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mercados destruídos
Também muitos estabelecimentos comerciais ficaram destruídos, mas as autoridades governamentais estão a dar prioridade à reabilitação de hospitais e escolas. Ainda assim, o comércio não parou e muitos vendedores foram para as ruas continuar os seus negócios. "É a única alternativa que temos para sustentar as nossas famílias, enquanto aguardamos a reabilitação dos mercados", dizem.
Foto: DW/L. da Conceicao
Casas pré-fabricadas
Várias famílias que perderam as suas residências e escolas que ficaram sem salas de aula receberam casas pré-fabricadas oferecidas pelo Governo da Turquia. Essas infraestruturas trouxeram uma nova realidade a algumas zonas.