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Moçambique: "Advogado do povo" enterrado em Maputo

Silaide Mutemba (Maputo)
23 de outubro de 2024

Dor e revolta marcaram o funeral de Elvino Dias, advogado e braço-direito de Venâncio Mondlane, brutalmente assassinado com 25 tiros. Em local incerto, Mondlane, promete retaliação contra os mandantes do crime.

Velório de Elvino Dias, advogado e braço-direito de Venâncio Mondlane
Dor e revolta marcaram o funeral de Elvino Dias, advogado e braço-direito de Venâncio Mondlane, brutalmente assassinado com 25 tirosFoto: Silaide Mutemba/DW

A consternação e a indignação marcaram o último adeus a Elvino Dias, advogado e assessor jurídico do candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane e do partido Podemos. Dias foi assassinado na última sexta-feira (18.10), juntamente com Paulo Guambe, mandatário do Podemos para estas eleições gerais, tendo o carro em que se encontravam sido crivado de 25 balas.

A cerimónia de despedida reuniu familiares, amigos, colegas e diversas figuras políticas, todos visivelmente abalados com o trágico desfecho. Elvino Dias, que estava fortemente envolvido na campanha de Venâncio Mondlane e em processos exigindo justiça eleitoral, era reconhecido pelo seu comprometimento com as causas de justiça e da democracia em Moçambique.

Os elogios fúnebres deixados pelos seus entes queridos revelam o quão chocados ficaram os que conviviam com ele, sobretudo por ter sido vítima de um assassinato descrito como macabro.

Mondlane ausente deixa promessa

Venâncio Mondlane, ausente na cerimónia, justificou, numa mensagem lida pelo chefe do seu gabinete, que se encontra em parte incerta, numa caserna, para poder lutar pelo povo indefeso. Na impossibilidade de marcar presença no ato, Mondlane deixou um recado: 

"Irmão, foram 25 tiros, prometo que serão 25 dias de terror para os terroristas que encomendaram o teu assassinato. Já fizemos 1 dia. Faltam ainda 24, em que Deus vai lutar a nossa luta.” 

A cerimónia de despedida reuniu familiares, amigos, colegas e diversas figuras políticas, todos visivelmente abalados com o trágico desfechoFoto: Silaide Mutemba/DW

No último adeus, a dor não estava apenas nos rostos que se despediam da vítima, mas também nas palavras que clamavam por justiça. Entre as vozes que se fizeram ouvir é de destacar a do Bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique, Carlos Martins, que expressou a revolta dos profissionais da classe. 

"Se nos calarmos neste momento, poderemos ser os próximos”, afirmou.

Elvino Dias é descrito como o advogado do povo, que lutava por justiça para o povo. Essa característica foi destacada por Armando Nenane, representante da sociedade civil. 

"Roubaram-nos Elvino. Mas Elvino somos todos nós”, disse. "Ele não nos abandonou. Ele é e será, porque Elvino somos nós. Nós somos multidão”, adiantou, interrogando depois: "quem pode levar a multidão e fechá-la numa jaula?”

Estes são alguns dos questionamentos registados pela DW África e que permanecem vivos sobre o desaparecimento físico de Elvino Dias, jurista e assessor jurídico de Venâncio Mondlane, assassinado com 25 tiros, na capital moçambicana, Maputo. 

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