Moçambique afunda e Angola sobe no Índice Global de Paz
Lusa
15 de junho de 2022
Moçambique teve uma das maiores quedas no Índice Global de Paz, para a 122.ª posição em 163 países, devido ao terrorismo no país, enquanto Angola escalou 14 lugares, para 78.º, de acordo com o relatório hoje publicado.
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Moçambique caiu 11 lugares, a segunda queda mais alta no indicador de proteção e segurança, atrás apenas da Ucrânia, devido ao conflito no país com grupos terroristas, refere a análise do Instituto de Economia e Paz (IEP). Isto resultou num aumento do número de refugiados, de manifestações violentas e de terror político.
"No entanto, o impacto do terrorismo melhorou e as mortes por conflitos internos também reduziram", notou o fundador e diretor do IEP, Steve Killelea, que atribuiu o progresso à colaboração de Maputo com o Ruanda e a Comunidade Africana de Desenvolvimento no combate ao Estado Islâmico.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, a norte, junto à Tanzânia, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.
População em fuga no norte de Moçambique
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Menos manifestações violentas em Angola
Pelo contrário, Angola subiu 14 lugares no Índice para 78.º lugar devido a melhorias na redução de manifestações violentas, do impacto do terrorismo, e melhoria das perceções sobre a criminalidade, embora registe um forte custo económico da violência no país.
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"Mostrou também um compromisso maior com o financiamento de [missões de] manutenção da paz e reduziu os gastos com as forças armadas como percentagem do PIB [Produto Interno Bruto] e importou menos armas", salientou Killelea, em declarações à agência Lusa.
Dos restantes países lusófonos analisados, Timor-Leste manteve-se em 54.º lugar, a Guiné Equatorial desceu seis posições para a 59.ª e a Guiné-Bissau caiu nove para a 110.ª posição da lista de 163 países. O Brasil manteve-se no 130.º lugar.
O Índice Global de Paz, atualmente na 16.ª edição, faz uma análise sobre as tendências da paz, o valor económico e como desenvolver sociedades pacíficas, usando 23 indicadores qualitativos e quantitativos em três domínios: o nível de segurança e proteção social, a dimensão do conflito doméstico e internacional em curso, e o grau de militarização.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
Foto: DW
Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.