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CriminalidadeMoçambique

Agentes da segurança envolvidos no crime organizado?

Arcénio Sebastião (Beira)
29 de setembro de 2022

Há mais de onze anos que Moçambique é abalado por crimes de raptos e posterior cobrança de valores de resgate. Em alguns casos há suspeitas de envolvimento de agentes da segurança do Estado nestes crimes.

Mosambik | Palma Cabo Delgado | Kommando Spezialkräfte
Foto: Roberto Paquete/DW

Recentemente, um grupo que inclui elementos da polícia afetos à proteção de altas individualidades foi detido em Manica, acusado de envolvimento em casos de rapto e sequestro. A rede estendia-se até Sofala, onde é apontada como autora de vários sequestros que ocorrem com regularidade nas duas províncias do centro de Moçambique, e que alvejavam empresários.

Um dos integrantes do grupo de suspeitos, agente da polícia, confessou ter participado num rapto. No interrogatório pela polícia acusou um colega de serviço de o ter coagido a neutralizar a suposta vítima porque a mesma estaria a consumir drogas.

"Quando nos cruzámos com ele aqui na padaria Índico parámos o carro em frente da viatura dele e ele [colega] desceu para o neutralizar”, contou agente da corporação detido.

A explicação não convence a polícia de Manica. O porta-voz, da corporação naquela província, Ahmed Bolacho, disse que membros da polícia que estiveram à frente dessa tentativa de sequestro.

"A vítima fazia-se transportar numa viatura, saía do seu lazer, e quando eles o tentaram abordar, o mesmo acabou por se aperceber que eram indivíduos duvidosos, tendo reconhecido dois”, disse Bolacho.

De acordo com a Polícia da República  de Moçambique (PRM) em Manica, "com trabalho investigativo contínuo foi possível identificar que eram dois agentes da polícia, um da guarda prisional e outro da PRM", adiantou Ahmed Bolacho.

Agentes do SERNIC em julgamento

Em Maputo vão a julgamento, no próximo dia 3 de outubro, dez agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), afetos à brigada anti-raptos. São acusados de ter usado informações classificadas do setor onde trabalhavam para perseguir uma cidadã na cidade de Maputo e extorquir-lhe dinheiro, disse o porta-voz da Procuradoria de Maputo, Jorge Chivinge.

Agentes do SERNIC vão a julgamento acusados de crimes de raptos e sequestrosFoto: Bernardo Jequete/DW

"O processo foi remetido no dia 1 de julho ao tribunal para fins de julgamento. O julgamento foi marcado para nova data, 3 de outubro", disse Chivinge.

Para além de serem acusados do crime de sequestro, os agentes vão responder também pelos delitos de branqueamento de capitais, uso de armas proibidas, abuso de cargo, abandono de sinistrado, entre outros crimes.

Ainda em Maputo, três agentes da PRM foram detidos pelo SERNIC e indiciados pelo crime de rapto. 

Os acusados estão afetos ao Comando da Cidade de Maputo e um do SERNIC na província de Maputo. Os agentes, com idades entre os 35 a 37 anos, são suspeitos de sequestrar o empresário Bharat Kumar no seu estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas, na cidade de Maputo.

Segundo o porta-voz da direção do SERNIC na cidade de Maputo, Hilário Lole, os três agentes estão envolvidos diretamente no crime e foram identificados através das câmaras de segurança do estabelecimento comercial da vítima. 

Difícil combater estes crimes

O advogado e ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Gilberto Correia, mostra-se surpreendido com as atitudes da polícia.

Gilberto Correia, advogadoFoto: Arcênio Sebastião/DW

"Agora criou-se a brigada anti-raptos e esta brigada tem agentes que aprenderam a combater raptos e usam estes conhecimentos  para fazer raptos em benefício próprio”, lamenta o advogado.

Correia acredita que não será possível combater raptos em Moçambique através da polícia nacional, visto que muitos integrantes já estão "contaminados" pela corrupção. Por isso, diz o jurista, "temos de pedir apoio internacional para esta realidade."

Gilberto Correia vê com ceticismo a criação de novas unidades e afirma que o verdadeiro problema por solucionar é :"combater a corrupção, que é o mal maior". 

O ex-bastonário da Ordem dos Advogados responsabiliza pela situação altos dirigentes da polícia que no passado desmentiram o envolvimento doa agentes da polícia nestes crimes.  

Para o jurista, ao invés de refutar as suspeitas, estes dirigentes deviam "preocupar-se em investigar, encontrar os tais polícias e retirá-los da corporação”.

"Levou-se demasiado tempo a combater esses polícias que formaram uma rede agora muito forte com dinheiro de pagamento dos resgates", lamenta Gilberto Correia.

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