Ala contestatária reocupa sede provincial da RENAMO na Beira
Lusa | ar
8 de março de 2019
Militantes de uma ala contestatária dentro da RENAMO na cidade da Beira, reocuparam a sede provincial do principal partido da oposição no país, desalojando simpatizantes da direção.
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Dezenas de militantes de uma ala contestatária dentro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na cidade da Beira (centro de Moçambique), reocuparam esta sexta-feira (08.03.) a sede provincial do principal partido da oposição no país, desalojando simpatizantes da direção, noticiou a imprensa local.
Segundo o canal de televisão STV, a ocupação da sede na capital da província de Sofala, foi concretizada por centenas de pessoas que marcharam sob a vigilância de polícias, mobilizados para a zona.
A polícia não conseguiu evitar que vários participantes na marcha arrombassem portões, enquanto outros saltavam muros para entrar na sede, expulsando quem lá estava e festejando a ocupação, no final.
A crise da RENAMO na Beira coloca, de um lado, dirigentes nomeados pela direção do partido após o 6.º Congresso, realizado em janeiro, e do outro, militantes que contestam as mudanças.O grupo contestatário boicotou, em 11 de fevereiro, uma conferência provincial para empossamento dos novos órgãos indicados pelo presidente da RENAMO, Ossufo Momade, tendo eleito órgãos paralelos, sob a liderança de Sandura Ambrósio.
Mudanças "antidemocráticas"
Este militante considera as mudanças "antidemocráticas", defendendo que os dirigentes locais também devem ser eleitos e não nomeados.
Uns e outros têm se alternado na ocupação da sede, por vezes com confrontos físicos, como aconteceu no dia 25 de fevereiro.
O porta-voz nacional da RENAMO, José Manteigas, disse que a situação e os confrontos colidem com os estatutos e as normas que regulam o partido que nomeou uma brigada de dirigentes para tentar mediar o conflito."Estas atitudes descaracterizam qualquer membro e a tradição do partido RENAMO, unido e respeitador dos princípios mais básicos da convivência social".
Os delegados contestatários exigem uma eleição democrática dos delegados provinciais e distritais da RENAMO, à semelhança do processo de votação que elegeu Ossufo Momade.
Momade já exonerou 16 dirigentes
Recorde-se, que num despacho de 15 de fevereiro, Ossufo Momade anulou a eleição paralela de Sandura Ambrósio para delegado provincial de Sofala e de Luís Chitato para delegado da cidade da Beira, mantendo as nomeações de Ricardo Gerente e Aquimo Marata, respetivamente.
Desde que foi eleito presidente da RENAMO, há pouco mais de um mês, Ossufo Momade já exonerou 16 dirigentes do partido, incluindo cinco delegados provinciais, nomeadamente nas províncias de Tete, Manica e Sofala (centro), Gaza (sul) e Cabo Delgado (norte).
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.